quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Silêncios XIII




Hoje preciso de silêncio...
Daquele silêncio que nos invade por completo, como se mergulhássemos no mar, num lago, numa núvem – nunca mergulhei numa núvem, mas imagino que o silêncio será idêntico.
Não quero fechar os olhos. Apenas quero silêncio.
Não quero o burburinho da cidade, com os passos das pessoas que correm ou se passeiam olhando o rio.
Não quero ouvir o passar das águas deste rio que me acompanha há anos. Quero o seu silêncio, a sua serena companhia, na revés da maré.
Não quero ouvir chamar o meu nome. Não quero o telefone a receber mensagens. Não quero o frenezim dos carros a passar.
 

Apenas preciso de silêncio. De estar comigo. De sentir que o peso da vida, das responsabilidades, dos (des)acertos, do corpo desapareçam por momentos.
 

Quero sentir-me leve. De corpo e alma.
Quero deixar-me ir, fluir sem pensar, descansar de tudo e de todos.
 

Preciso de me encontrar no meio de todo este barulho que me afasta do que sou, do que quero. Já nem consigo saber o que sou, ou sequer o que quero.
Preciso apagar este ruídos de todos os limites que me são impostos. De fechar este fluxo doentio de (parecer) fazer, (parecer) ser o que querem que sejamos. Do politicamente correcto. Do socialmente aceitável. Do que somos à frente dos outros e do que somos no nosso íntimo.
 

Fugir da hipocrisia, das falsas moralidades, dos (pre)conceitos, das mentiras, do egoísmo, mas sobretudo, dos egos de gente que não é mais gente que eu.
 

Preciso de silêncio para que no meio destes gritos consiga chegar ao meu eu. E voltar a acreditar que, em algum momento, todos temos algo de bom cá dentro...


Cat.
2018.08.13

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