segunda-feira, 21 de janeiro de 2019
Diário
Nunca tive um diário. Nunca guardei memórias escritas do que já fui. Acho que nunca tive muita coisa para contar. Ou só teria memórias menos boas para guardar...
Lembro-me que escrevi pela primeira vez quando me apaixonei, também, pela primeira vez. Não, quando amei pela primeira vez. Um amor proibido. Mais que proibido era quase indecente. Eu uma jovem, ele com o dobro da minha idade. Eu mais velha quatro anos que a sua filha, ele mais novo dois que o meu pai. Um amor que não se conta às amigas e muito menos à família. E tinha necessidade de colocar por escrito muito do que sentia. O amor, as dúvidas, as certezas e o medo. Escrevia sobretudo sobre o medo: de ser descoberta, de não ser compreendida, de não ser verdadeiramente, ou pelo menos, tão amada como amava.
Sinto que deveria ter escrito sobre o quanto fui amada.
Sinto que deveria ter perpetuado esses momentos de forma quase eterna.
Mas eu não sabia nada da vida e não percebia que era, não uma diversão para ele, mas mais um tormento. Hoje relembro as imensas vezes em que me convidou para viver com ele, as inúmeras vezes que, depois de me amar, me olhava de forma apaixonada e dizia baixinho "não posso fazer isto, ainda tens tanta vida à tua frente". E eu fingia que dormia para não ter que me decidir por ele. E eu jamais decidiria por ele.
Encontrei há dias as seis ou sete páginas que dediquei a esta tão importante parte da minha vida...
Não há fotografias, nem mensagens, nem emails, Facebook ou Instagram que me traga à lembrança estas memórias. Só umas míseras páginas que falam apenas dos meus receios.
O que foi bom, está guardado dentro de mim, hoje, com um olhar tão diferente do que senti. Tão mais apaziguador, tão mais adulto e crescido.
Devia ter feito um diário de todos os beijos, de todos os toques de mão por baixo da mesa, de todos os olhares que me faziam sentir uma princesa.
Apenas para olhar para o que já passou por mim e relembrar que nem tudo foram medos, receios, dúvidas, (in)certezas ou espinhos.
Há muito mais rosas que espinhos.
Há muitos mais risos que lágrimas.
Há muito mais amor que dor em mim! Muito mais!
Cat.
18/08/2018
quinta-feira, 16 de agosto de 2018
Dicionário de coisas simples XXIX
E o que foi?
Um olhar que me penetrou,
Um sorriso que me seduziu
e
Um abraço que me conquistou.
E o que é?
É um sentir que não se explica,
Que me faz sorrir
e
Viver como nunca, a cada novo dia!
E o que será?
Um sentimento que nos faz ser um só e que durará...
Até um dia,
Durante um mês,
Mais que um ano...
Mas que desejo,
Seja para toda a vida!
Cat.
2018.08.13
Um olhar que me penetrou,
Um sorriso que me seduziu
e
Um abraço que me conquistou.
E o que é?
É um sentir que não se explica,
Que me faz sorrir
e
Viver como nunca, a cada novo dia!
E o que será?
Um sentimento que nos faz ser um só e que durará...
Até um dia,
Durante um mês,
Mais que um ano...
Mas que desejo,
Seja para toda a vida!
Cat.
2018.08.13
quarta-feira, 15 de agosto de 2018
Silêncios XIII
Hoje preciso de silêncio...
Daquele silêncio que nos invade por completo, como se mergulhássemos no mar, num lago, numa núvem – nunca mergulhei numa núvem, mas imagino que o silêncio será idêntico.
Não quero fechar os olhos. Apenas quero silêncio.
Não quero o burburinho da cidade, com os passos das pessoas que correm ou se passeiam olhando o rio.
Não quero ouvir o passar das águas deste rio que me acompanha há anos. Quero o seu silêncio, a sua serena companhia, na revés da maré.
Não quero ouvir chamar o meu nome. Não quero o telefone a receber mensagens. Não quero o frenezim dos carros a passar.
Apenas preciso de silêncio. De estar comigo. De sentir que o peso da vida, das responsabilidades, dos (des)acertos, do corpo desapareçam por momentos.
Quero sentir-me leve. De corpo e alma.
Quero deixar-me ir, fluir sem pensar, descansar de tudo e de todos.
Preciso de me encontrar no meio de todo este barulho que me afasta do que sou, do que quero. Já nem consigo saber o que sou, ou sequer o que quero.
Preciso apagar este ruídos de todos os limites que me são impostos. De fechar este fluxo doentio de (parecer) fazer, (parecer) ser o que querem que sejamos. Do politicamente correcto. Do socialmente aceitável. Do que somos à frente dos outros e do que somos no nosso íntimo.
Fugir da hipocrisia, das falsas moralidades, dos (pre)conceitos, das mentiras, do egoísmo, mas sobretudo, dos egos de gente que não é mais gente que eu.
Preciso de silêncio para que no meio destes gritos consiga chegar ao meu eu. E voltar a acreditar que, em algum momento, todos temos algo de bom cá dentro...
Cat.
2018.08.13
terça-feira, 14 de agosto de 2018
Ele(s) VII
Ela.
Aguarda-o com a ansiedade típica de quem se encontra pela primeira vez.
Chegou antes da hora marcada, não fosse o trânsito ou algum telefonema ou o calor (!) atrasá-la.
Deambula pela rua, ora para cima, ora para baixo, no passeio contrário ao do café onde se vão encontrar. Olha as montras mas o que vê é apenas o seu reflexo e atenta em mais um pormenor no vestido e alinha o decote. Ou limpa o canto da boca marcado pelo batom. Ou afasta os cabelos do rosto e os prende atrás da orelha. Ora verifica uma vez mais o telemóvel com o receio de uma mensagem que a desiludiria por completo: “Não posso ir.”, “estou preso numa reunião”, “a minha...” e trava o pensamento e pensa em outra qualquer palavra que a fizesse sentir mal por ter concordado com este encontro.
Decide entrar, sentar-se e pedir um café. Ou uma água. Algo que ajudasse o tempo a passar um pouco mais depressa. Algo que a fizesse abrandar o turbilhão de pensamentos que emergiam na sua mente. De todos os “ses” que surgiam no seu pensar e que a faziam quase desesperar.
Não era a primeira vez que passava por isto. Um encontro, quase às cegas, com ele.
Com aquele homem que a fez, em tempos, suspirar de amor, de desejo, como hoje.
Ainda ponderou a sua presença neste encontro: o receio de o voltar a perder sem nunca, efectivamente, o ter tido.
Sem nunca ter sentido o sabor da sua boca, o toque da sua pele, o odor do seu corpo. E como havia sonhado com isso. Antes e hoje.
Compreendeu que o facto de ser casado e de na altura ele considerar que ainda amava a esposa, o tivesse feito recuar naquele dia. Naquele encontro onde afirmariam o que os unia.
Compreendeu que há laços difíceis de quebrar por uma paixão incerta como a deles seria; que não é para todos largar o seguro mesmo que pouco feliz, pelo incerto.
Compreendeu-o na altura e compreende-o agora que já não é casado, que já não tem laços difíceis de quebrar.
Compreendeu-o no dia em que voltou ao seu contacto e lhe disse que tinha a vida resolvida para ficar com ela. Assim, de chofre, sem avisos prévios, sem saber nada dela.
Assim, hoje está no mesmo filme que há uns anos atrás: apaixonada e desejosa pelo encontro.
Pergunta-se como podem querer olhar-se de novo nos olhos. Pergunta-se incrédula, como é possível estar de novo assim, por aquele mesmo homem.
E, por entre os bebericos de café, sorri a pensar no seu sorriso, no seu olhar intenso, quando os seus olhos focam uma sombra, à porta.
“Parado, ele ficou parado à porta...” – pensa. O medo, esse, volta ao seu rosto.
Mas tudo passa quando aquele homem entra e se dirige a ela com o sorriso que sempre lhe conheceu. Sorriso esse, apenas ausente no dia em que o ia ter...
Aguarda-o com a ansiedade típica de quem se encontra pela primeira vez.
Chegou antes da hora marcada, não fosse o trânsito ou algum telefonema ou o calor (!) atrasá-la.
Deambula pela rua, ora para cima, ora para baixo, no passeio contrário ao do café onde se vão encontrar. Olha as montras mas o que vê é apenas o seu reflexo e atenta em mais um pormenor no vestido e alinha o decote. Ou limpa o canto da boca marcado pelo batom. Ou afasta os cabelos do rosto e os prende atrás da orelha. Ora verifica uma vez mais o telemóvel com o receio de uma mensagem que a desiludiria por completo: “Não posso ir.”, “estou preso numa reunião”, “a minha...” e trava o pensamento e pensa em outra qualquer palavra que a fizesse sentir mal por ter concordado com este encontro.
Decide entrar, sentar-se e pedir um café. Ou uma água. Algo que ajudasse o tempo a passar um pouco mais depressa. Algo que a fizesse abrandar o turbilhão de pensamentos que emergiam na sua mente. De todos os “ses” que surgiam no seu pensar e que a faziam quase desesperar.
Não era a primeira vez que passava por isto. Um encontro, quase às cegas, com ele.
Com aquele homem que a fez, em tempos, suspirar de amor, de desejo, como hoje.
Ainda ponderou a sua presença neste encontro: o receio de o voltar a perder sem nunca, efectivamente, o ter tido.
Sem nunca ter sentido o sabor da sua boca, o toque da sua pele, o odor do seu corpo. E como havia sonhado com isso. Antes e hoje.
Compreendeu que o facto de ser casado e de na altura ele considerar que ainda amava a esposa, o tivesse feito recuar naquele dia. Naquele encontro onde afirmariam o que os unia.
Compreendeu que há laços difíceis de quebrar por uma paixão incerta como a deles seria; que não é para todos largar o seguro mesmo que pouco feliz, pelo incerto.
Compreendeu-o na altura e compreende-o agora que já não é casado, que já não tem laços difíceis de quebrar.
Compreendeu-o no dia em que voltou ao seu contacto e lhe disse que tinha a vida resolvida para ficar com ela. Assim, de chofre, sem avisos prévios, sem saber nada dela.
Assim, hoje está no mesmo filme que há uns anos atrás: apaixonada e desejosa pelo encontro.
Pergunta-se como podem querer olhar-se de novo nos olhos. Pergunta-se incrédula, como é possível estar de novo assim, por aquele mesmo homem.
E, por entre os bebericos de café, sorri a pensar no seu sorriso, no seu olhar intenso, quando os seus olhos focam uma sombra, à porta.
“Parado, ele ficou parado à porta...” – pensa. O medo, esse, volta ao seu rosto.
Mas tudo passa quando aquele homem entra e se dirige a ela com o sorriso que sempre lhe conheceu. Sorriso esse, apenas ausente no dia em que o ia ter...
Ele
Não dormiu toda a noite e o dia
demorou horas a mais a passar: a ansiedade de voltar a revê-la tomou
conta de si. E não é habitual perder o domínio de qualquer situação e
muito menos do seu pensamento. Mas ela, ela sempre o fez perder-se.
Mais que o corpo e as formas voluptuosas era o sorriso e o humor sarcástico que o cativou nela. Era uma mistura de menina desprotegida que vira leoa, que sabe o que quer. E ele não sabe explicar como se apaixonou assim, de forma tão perdida por aquela mulher.
O pensamento fluía de forma desconexa e sem qualquer sentido: ora pensava no que tinha sido, ora imaginava o que poderá ser. Mas de uma coisa estava certo: quere-a, como jamais quis alguém, como jamais voltará a querer. Hoje sabe que não há como ela e que não vale a pena fugir ao destino.
E ele é dela. E quere-a com toda a certeza que alguma vez poderá ter.
Sabe que ela é especial e que já perdeu demasiado tempo. Mas tempo necessário para que tomasse as decisões certas e forma consciente.
Sabe que correu riscos demasiadamente grandes ao deixá-la, anos atrás, numa mesa de café, destruindo todas as promessas de amor que trocaram. O medo de trocar o certo pelo incerto dominaram-no.
A verdade é que não teve coragem de deixar um casamento, que apesar de morno não era mau. Era um porto seguro, com uma mulher constante e serena. Mas infinitamente menos interessante. E não, não se tratava de sexo pois nunca chegaram a isso. E esse é um dos seus maiores arrependimentos: podia tê-la f@dido e não pensava mais nisso! Não precisava de ter-se agarrado à imagem daquela mulher e do quanto ela o fazia sentir. Um misto de tesão, de a querer de forma intensa e de protecção, de um carinho imenso ao mesmo tempo. E foi isto que o assustou.
Agora, passados estes anos, está ali, no lugar combinado, à porta do café, a pensar se ela ainda o deseja como antes. Mas ao vê-la, sentada, com a silhueta marcada pelo vestido e o seu batom preferido, percebeu que jamais a deveria ter deixado.
E avança com a certeza que é este o seu futuro. Pelo menos por hoje.
Mais que o corpo e as formas voluptuosas era o sorriso e o humor sarcástico que o cativou nela. Era uma mistura de menina desprotegida que vira leoa, que sabe o que quer. E ele não sabe explicar como se apaixonou assim, de forma tão perdida por aquela mulher.
O pensamento fluía de forma desconexa e sem qualquer sentido: ora pensava no que tinha sido, ora imaginava o que poderá ser. Mas de uma coisa estava certo: quere-a, como jamais quis alguém, como jamais voltará a querer. Hoje sabe que não há como ela e que não vale a pena fugir ao destino.
E ele é dela. E quere-a com toda a certeza que alguma vez poderá ter.
Sabe que ela é especial e que já perdeu demasiado tempo. Mas tempo necessário para que tomasse as decisões certas e forma consciente.
Sabe que correu riscos demasiadamente grandes ao deixá-la, anos atrás, numa mesa de café, destruindo todas as promessas de amor que trocaram. O medo de trocar o certo pelo incerto dominaram-no.
A verdade é que não teve coragem de deixar um casamento, que apesar de morno não era mau. Era um porto seguro, com uma mulher constante e serena. Mas infinitamente menos interessante. E não, não se tratava de sexo pois nunca chegaram a isso. E esse é um dos seus maiores arrependimentos: podia tê-la f@dido e não pensava mais nisso! Não precisava de ter-se agarrado à imagem daquela mulher e do quanto ela o fazia sentir. Um misto de tesão, de a querer de forma intensa e de protecção, de um carinho imenso ao mesmo tempo. E foi isto que o assustou.
Agora, passados estes anos, está ali, no lugar combinado, à porta do café, a pensar se ela ainda o deseja como antes. Mas ao vê-la, sentada, com a silhueta marcada pelo vestido e o seu batom preferido, percebeu que jamais a deveria ter deixado.
E avança com a certeza que é este o seu futuro. Pelo menos por hoje.
Cat.
2018.08.11
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