Ela.
Aguarda-o com a ansiedade típica de quem se encontra pela primeira vez.
Chegou antes da hora marcada, não fosse o trânsito ou algum telefonema ou o calor (!) atrasá-la.
Deambula pela rua, ora para cima, ora para baixo, no passeio contrário ao do café onde se vão encontrar. Olha as montras mas o que vê é apenas o seu reflexo e atenta em mais um pormenor no vestido e alinha o decote. Ou limpa o canto da boca marcado pelo batom. Ou afasta os cabelos do rosto e os prende atrás da orelha. Ora verifica uma vez mais o telemóvel com o receio de uma mensagem que a desiludiria por completo: “Não posso ir.”, “estou preso numa reunião”, “a minha...” e trava o pensamento e pensa em outra qualquer palavra que a fizesse sentir mal por ter concordado com este encontro.
Decide entrar, sentar-se e pedir um café. Ou uma água. Algo que ajudasse o tempo a passar um pouco mais depressa. Algo que a fizesse abrandar o turbilhão de pensamentos que emergiam na sua mente. De todos os “ses” que surgiam no seu pensar e que a faziam quase desesperar.
Não era a primeira vez que passava por isto. Um encontro, quase às cegas, com ele.
Com aquele homem que a fez, em tempos, suspirar de amor, de desejo, como hoje.
Ainda ponderou a sua presença neste encontro: o receio de o voltar a perder sem nunca, efectivamente, o ter tido.
Sem nunca ter sentido o sabor da sua boca, o toque da sua pele, o odor do seu corpo. E como havia sonhado com isso. Antes e hoje.
Compreendeu que o facto de ser casado e de na altura ele considerar que ainda amava a esposa, o tivesse feito recuar naquele dia. Naquele encontro onde afirmariam o que os unia.
Compreendeu que há laços difíceis de quebrar por uma paixão incerta como a deles seria; que não é para todos largar o seguro mesmo que pouco feliz, pelo incerto.
Compreendeu-o na altura e compreende-o agora que já não é casado, que já não tem laços difíceis de quebrar.
Compreendeu-o no dia em que voltou ao seu contacto e lhe disse que tinha a vida resolvida para ficar com ela. Assim, de chofre, sem avisos prévios, sem saber nada dela.
Assim, hoje está no mesmo filme que há uns anos atrás: apaixonada e desejosa pelo encontro.
Pergunta-se como podem querer olhar-se de novo nos olhos. Pergunta-se incrédula, como é possível estar de novo assim, por aquele mesmo homem.
E, por entre os bebericos de café, sorri a pensar no seu sorriso, no seu olhar intenso, quando os seus olhos focam uma sombra, à porta.
“Parado, ele ficou parado à porta...” – pensa. O medo, esse, volta ao seu rosto.
Mas tudo passa quando aquele homem entra e se dirige a ela com o sorriso que sempre lhe conheceu. Sorriso esse, apenas ausente no dia em que o ia ter...
Aguarda-o com a ansiedade típica de quem se encontra pela primeira vez.
Chegou antes da hora marcada, não fosse o trânsito ou algum telefonema ou o calor (!) atrasá-la.
Deambula pela rua, ora para cima, ora para baixo, no passeio contrário ao do café onde se vão encontrar. Olha as montras mas o que vê é apenas o seu reflexo e atenta em mais um pormenor no vestido e alinha o decote. Ou limpa o canto da boca marcado pelo batom. Ou afasta os cabelos do rosto e os prende atrás da orelha. Ora verifica uma vez mais o telemóvel com o receio de uma mensagem que a desiludiria por completo: “Não posso ir.”, “estou preso numa reunião”, “a minha...” e trava o pensamento e pensa em outra qualquer palavra que a fizesse sentir mal por ter concordado com este encontro.
Decide entrar, sentar-se e pedir um café. Ou uma água. Algo que ajudasse o tempo a passar um pouco mais depressa. Algo que a fizesse abrandar o turbilhão de pensamentos que emergiam na sua mente. De todos os “ses” que surgiam no seu pensar e que a faziam quase desesperar.
Não era a primeira vez que passava por isto. Um encontro, quase às cegas, com ele.
Com aquele homem que a fez, em tempos, suspirar de amor, de desejo, como hoje.
Ainda ponderou a sua presença neste encontro: o receio de o voltar a perder sem nunca, efectivamente, o ter tido.
Sem nunca ter sentido o sabor da sua boca, o toque da sua pele, o odor do seu corpo. E como havia sonhado com isso. Antes e hoje.
Compreendeu que o facto de ser casado e de na altura ele considerar que ainda amava a esposa, o tivesse feito recuar naquele dia. Naquele encontro onde afirmariam o que os unia.
Compreendeu que há laços difíceis de quebrar por uma paixão incerta como a deles seria; que não é para todos largar o seguro mesmo que pouco feliz, pelo incerto.
Compreendeu-o na altura e compreende-o agora que já não é casado, que já não tem laços difíceis de quebrar.
Compreendeu-o no dia em que voltou ao seu contacto e lhe disse que tinha a vida resolvida para ficar com ela. Assim, de chofre, sem avisos prévios, sem saber nada dela.
Assim, hoje está no mesmo filme que há uns anos atrás: apaixonada e desejosa pelo encontro.
Pergunta-se como podem querer olhar-se de novo nos olhos. Pergunta-se incrédula, como é possível estar de novo assim, por aquele mesmo homem.
E, por entre os bebericos de café, sorri a pensar no seu sorriso, no seu olhar intenso, quando os seus olhos focam uma sombra, à porta.
“Parado, ele ficou parado à porta...” – pensa. O medo, esse, volta ao seu rosto.
Mas tudo passa quando aquele homem entra e se dirige a ela com o sorriso que sempre lhe conheceu. Sorriso esse, apenas ausente no dia em que o ia ter...
Ele
Não dormiu toda a noite e o dia
demorou horas a mais a passar: a ansiedade de voltar a revê-la tomou
conta de si. E não é habitual perder o domínio de qualquer situação e
muito menos do seu pensamento. Mas ela, ela sempre o fez perder-se.
Mais que o corpo e as formas voluptuosas era o sorriso e o humor sarcástico que o cativou nela. Era uma mistura de menina desprotegida que vira leoa, que sabe o que quer. E ele não sabe explicar como se apaixonou assim, de forma tão perdida por aquela mulher.
O pensamento fluía de forma desconexa e sem qualquer sentido: ora pensava no que tinha sido, ora imaginava o que poderá ser. Mas de uma coisa estava certo: quere-a, como jamais quis alguém, como jamais voltará a querer. Hoje sabe que não há como ela e que não vale a pena fugir ao destino.
E ele é dela. E quere-a com toda a certeza que alguma vez poderá ter.
Sabe que ela é especial e que já perdeu demasiado tempo. Mas tempo necessário para que tomasse as decisões certas e forma consciente.
Sabe que correu riscos demasiadamente grandes ao deixá-la, anos atrás, numa mesa de café, destruindo todas as promessas de amor que trocaram. O medo de trocar o certo pelo incerto dominaram-no.
A verdade é que não teve coragem de deixar um casamento, que apesar de morno não era mau. Era um porto seguro, com uma mulher constante e serena. Mas infinitamente menos interessante. E não, não se tratava de sexo pois nunca chegaram a isso. E esse é um dos seus maiores arrependimentos: podia tê-la f@dido e não pensava mais nisso! Não precisava de ter-se agarrado à imagem daquela mulher e do quanto ela o fazia sentir. Um misto de tesão, de a querer de forma intensa e de protecção, de um carinho imenso ao mesmo tempo. E foi isto que o assustou.
Agora, passados estes anos, está ali, no lugar combinado, à porta do café, a pensar se ela ainda o deseja como antes. Mas ao vê-la, sentada, com a silhueta marcada pelo vestido e o seu batom preferido, percebeu que jamais a deveria ter deixado.
E avança com a certeza que é este o seu futuro. Pelo menos por hoje.
Mais que o corpo e as formas voluptuosas era o sorriso e o humor sarcástico que o cativou nela. Era uma mistura de menina desprotegida que vira leoa, que sabe o que quer. E ele não sabe explicar como se apaixonou assim, de forma tão perdida por aquela mulher.
O pensamento fluía de forma desconexa e sem qualquer sentido: ora pensava no que tinha sido, ora imaginava o que poderá ser. Mas de uma coisa estava certo: quere-a, como jamais quis alguém, como jamais voltará a querer. Hoje sabe que não há como ela e que não vale a pena fugir ao destino.
E ele é dela. E quere-a com toda a certeza que alguma vez poderá ter.
Sabe que ela é especial e que já perdeu demasiado tempo. Mas tempo necessário para que tomasse as decisões certas e forma consciente.
Sabe que correu riscos demasiadamente grandes ao deixá-la, anos atrás, numa mesa de café, destruindo todas as promessas de amor que trocaram. O medo de trocar o certo pelo incerto dominaram-no.
A verdade é que não teve coragem de deixar um casamento, que apesar de morno não era mau. Era um porto seguro, com uma mulher constante e serena. Mas infinitamente menos interessante. E não, não se tratava de sexo pois nunca chegaram a isso. E esse é um dos seus maiores arrependimentos: podia tê-la f@dido e não pensava mais nisso! Não precisava de ter-se agarrado à imagem daquela mulher e do quanto ela o fazia sentir. Um misto de tesão, de a querer de forma intensa e de protecção, de um carinho imenso ao mesmo tempo. E foi isto que o assustou.
Agora, passados estes anos, está ali, no lugar combinado, à porta do café, a pensar se ela ainda o deseja como antes. Mas ao vê-la, sentada, com a silhueta marcada pelo vestido e o seu batom preferido, percebeu que jamais a deveria ter deixado.
E avança com a certeza que é este o seu futuro. Pelo menos por hoje.
Cat.
2018.08.11