terça-feira, 15 de maio de 2018

Sinto falta

Sinto falta de ti.
De te saber junto a mim,
De sentir que sentes como eu,
Como parte de mim.

Sinto falta de ti.
Da companhia da tua alma
Intrinsecamente ligada à minha
De forma quase palpável.

Sim, sinto falta de ti.
De com um (te) olhar
Saber(te) o pensar,
O sentir e, mesmo sem falar,
Dizer(me) mais que um poema de amor,
O quão enorme é o teu (me) amar.

Tenho-te aqui,
Junto a mim, nos meus braços,
No uníssono compasso do bater dos corações
E ainda assim,
De forma tão pouco indelével,
Sinto falta de ti...

O tempo tudo transforma,
Inclusive o amor da nossa vida.
Não que nos amemos menos,
Não que não nos sonhemos, desejemos ou queremos menos,
Não,
Apenas, por vezes, nos esquecemos
De dizer o quanto (nos) somos importantes.

Sinto falta de ti,
Hoje e pela última vez pois
Vou dizer(te),
Mostrar(te),
Dar(te),
O quanto (me) és,
O quanto (me) fazes sentir
Em cada beijo, cada abraço, cada toque no meu rosto.
 
 
2018.05.03

Réstia

Sou réstia de raios de sol,
Num crepúsculo de Inverno.

Sou brisa no turbilhão
de folhas mortas,
caídas no chão.

Sou sombra num dia carregado de chuva
Que não acaba com a sede.

Sou água salgada de um mar
Que já não se atreve a invadir o rio...

Sou amostra do que já fui.
Mas ainda respiro,
Ainda sonho,
Ainda há vida em mim.
E amor,
Ainda há amor em mim;
De mim por ti.
Imensurável,
Infinito,
Inabalável...
Até ao meu último sopro,
Até ao meu último bater do coração.


2018.03.19

(Não) Legado


Tento escrever, todos os dias tento, mas nada sai... Um rodilho de palavras que rimam de forma fraca e forçada.
Como tudo em mim: fraco e, muitas vezes, forçado.
Sim, forçado...
O levantar, o trabalhar, o comer, o sorrir e o falar: forçado.
A vontade desapareceu de mim. Como se vivesse porque apenas respiro.
Como se estivesse perdida perante a inexistência de oportunidades, de desejos ou vontades.
Como se viver fosse quase uma obrigação, um martírio.
E quando olho vejo uma vida que me deveria fazer sentir feliz: um emprego que me permite viver acima da média, com capacidade de compra, com jantares em restaurantes da moda, roupa e calçado de marca, mas acima de tudo, um companheiro que me ama. Que mais posso desejar? Que falta na minha vida que não me permite ser verdadeiramente feliz? Porquê este vazio, esta falta de ânimo, esta tristeza profunda?
Sinto, nesta fase da minha vida, que quase não construí nada: uma carreira de verdadeiro valor, uma família que seja minha...
Como se tivesse falhado em todos os passos para se dizer que se viveu: plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro.


Parece idiota, mas é um legado que não deixo.
Eu morro e tudo morre comigo.
É como se eu nunca por aqui tivesse passado.
Não deixo nada verdadeiramente meu. 


Excepto o meu amor.
 

Um amor incondicional às minhas pessoas.
Um amor maior que eu.
Um amor que não se mede e que espero preencha, pelo menos, um pouquinho do coração de quem em mim habita.
 

E é tão pouco e insuficiente e parece que não vale a pena porque quando eu me for, não há nada palpável de mim.
 

E acho que tenho que deixar algo de mim. Uma espécie de recordação perpétua do meu ser e neste momento não há nada... Só dias de vida.
Acho que é a isto que se chama "crise de meia idade", só pode!
Até agora vivi muito bem com todas as minhas escolhas e não sei porque agora as questiono...
Acho que no fundo, não passo de uma simples mulher, que afinal se deixa pressionar pelas expectativas sociais, pelos sonhos que nos incutem.
 

Talvez se tivesse casado, se tivesse um filho, um jardim e uma árvore, não me sentisse tão vazia.
Ou talvez estivesse assim, igualmente perdida e a questionar a minha vida...



2018.02.13

Quando sentes que morres


Quando sentes que morres...

A noite mostra-se igual ao dia: fria, chuvosa e escura, negra como a minha alma.
Hoje não há nada mais que o silêncio.
O silêncio do vazio em que vivo.
O silêncio do nada que domina a minha vida.
É como se nada existisse, nada tivesse vivido, sentido, dito ou feito.

Nada.

Um vazio espelho da minha vida. Não há legado que deixe. Não há feitos de que alguém, algum dia, no meu leito de morte, referencie, recorde ou enalteça.

Não, nada.

Só esta vívida sensação de ver os dias passar. Um seguido do outro, sempre iguais.
Até o cansaço desistiu de se fazer sentir. Não há revolta em mim.
Não há vontade ou sonhos.
Somente esta sensação de total fracasso.
Não é vazio, é fracasso.
Para com os que amo, os que me amam e para comigo.
Nunca fui de criticar, sempre fui de compreender e aceitar, às vezes até de perdoar.
Hoje, sou tudo o que abomino nos outros: fraca quando coloco o amor à frente do orgulho; fraca quando acredito que as pessoas podem mudar.
 

Mimada,tenho ouvido com frequência. E que amuo quando não tenho o que quero ou como quero; infantil portanto.
A verdade é que é verdade.
Sou o invólucro de uma mulher que não existe. Como se tudo o que fiz e o que sou está errado ou não é verdadeiro, sentido. A ideia que criei de mim, de mulher independente, adulta, madura, nada egoísta, compreensiva e até inteligente e sensual, desmoronou.

Perdi-me. Não está aqui, não é esta que vejo quando olho ao espelho.

Perdi-me. Não me reconheço. Não sei quem sou hoje ou quem serei amanhã.

O que fui ontem morreu e o fracasso, o vazio, o silêncio e o nada é o que impera em mim.



2018.01.05