É noite e não se vêem as estrelas brilhantes no céu.
Chove. Chove num qualquer típico mês de Dezembro. Cai, há horas, uma
chuva constante e fria, como uma canção de embalar que nos entorpece os
sentidos.
Chove e não há pessoas na rua. Não há sinal de vida activa. Não há sons que me digam que o dia está prestes a chegar.
Tudo está adormecido.
Não há cheiro a flores no ar e há muito que o cheiro
a terra quente e molhada se foi. Não há jasmim no jardim, as folhas já
não balançam ao sabor do vento nas árvores pois jazem no chão,
esquecidas, sem cor e sem vida.
Tudo está adormecido.
Até aqui, dentro do meu quarto, dentro de mim.
Apesar dos olhos abertos, apesar de acordada, estou adormecida.
Adormecida, na esperança que o tempo que teima em passar, de repente,
parasse e se suspendesse. E eu, dormente no sentir e no pensar, apenas
aguardasse que o tempo voltasse a ter vontade de passar e de correr no
seu normal passo e aí, só nesse momento, eu acordasse e regressasse ao
que é o meu viver.
Mas o tempo não se compadece comigo. Não me
obedece e passa sem complacência alguma e, sendo quase dia, prova que eu
não há forma de suspender o seu passar.
E o tempo passa, depressa e
indiferente ao meu querer. E eu queria que ele parasse, que não me
trouxesse as mudanças que se avizinham.
Que me permitisse vivê-lo sempre da mesma maneira: tranquila e rotineira.
Mas não, o tempo não pára e a cada dia que passa o tempo para a mudança é mais escasso.
E a mudança assusta-me.
O inesperado, o incerto, a perda da aparente segurança assusta-me.
Eu não quero que o tempo pare, eu quero não ter medo do que me espera.
Eu quero ter força para acreditar e esperança para enfrentar o que o futuro me reserva.
Mas a mudança assusta-me.
E é este medo que me impede de ver o meu valor, de ver que, até hoje,
nunca falhei a mim própria, nunca me corrompi e sempre me superei.
É o medo que me comanda hoje...
Amanhã tudo será diferente e o que será apenas com o tempo poderei
saber. E cá dentro, bem no fundo de mim, bem no âmago do meu ser, sei
que será melhor.
Eu sei sempre quando tenho de mudar, quando já não tenho nada a aprender ou a ensinar naquele lugar, com aquelas pessoas...
E há muito que o sei.
E há muito que devia ter impulsionado a minha mudança. E quando não o fazemos por iniciativa própria, é-nos imposta.
Há que Crescer, Evoluir, tornar-me melhor para e com os outros.
Mas isso assusta.
Saber que o que temos não nos chega, não nos preenche, não nos deixa
Viver de forma plena e que temos que avançar, mudar e não se sabe bem
como, assusta.
Principalmente quando há quem dependa de nós. Apesar
de nos incentivarem, de nos acompanharem, de, acima de tudo e todos, em
nós acreditarem e confiarem.
Decisões que nos viram a vida ao contrário, assustam.
E é o medo que me comanda hoje.
E eu queria que o tempo apenas parasse até que o medo me soltasse e abandonasse...