segunda-feira, 16 de maio de 2016

Acordar



A manhã avança ao ritmo a que já nos habituou: lenta, demorada e compassada nos tempos do poisar dos pés de quem se passeia pela calçada.
O rio agita-se apenas pelo passar dos barcos que passeiam repetida e alegremente quem deseja passar as suas pontes, indiferentes a quem por elas passa de forma sistemática e sem novidade.
E a vida é assim, como o passar pela ponte: o hábito, a rotina são imensos e os dias, tal como as águas do rio que por si passam, iguais a todos os outros. Um vai-e-vem de gente com rostos mais ou menos familiares, mais ou menos íntimos, mais ou menos importantes para nós, num caminho que parece sempre igual.
Um adormecimento dos sentidos vai-se impondo de forma discreta mas segura, uma hora de cada vez, um dia a seguir ao outro e os meses passam: iguais, sem variações, deixando um vazio que não se preenche facilmente. Uma impotência para lutar contra algo que nos é tão intrínseco, tão nosso. Sim, porque sendo algo que cresce em nós, vem de dentro para fora. E os olhos já não brilham. E o riso já não se solta. E as palavras amáveis e de conforto, de amor e felicidade já ficam presas na garganta... Tudo guardado aqui, neste pequeno espaço do tamanho de uma (pequeníssima) Alma.
Mas há dias em que este torpor nos larga, nos liberta a mente da habitual passividade e o vaguear por sonhos é real. E, nesse instante, nesse preciso momento tudo ganha um brilho especial e a vontade de ser o passageiro do barco que se encanta com as margens deste rio é a única coisa que se sente. O desejo de ver com um novo olhar as paisagens que já nos encantaram e que sempre nos revigoram, bastando para isso, abrir as portas ao inesperado, à beleza singela de uma violeta na beira de um passeio, ao odor das glicínias e da flor de laranjeira...




16.Mai.2016

sábado, 30 de abril de 2016

Ilusão



Os teus olhos despem-me
E a blusa desaperta-se,
Suavemente,
Botão a botão.
A tua boca beija-me
A boca,
O pescoço,
Os seios desnudados.
As minhas pernas cruzam
E a saia deixa antever
O formato das coxas
Que, propositadamente,
Acaricio com a minha mão.
Ignoro-te,
Viro-me e mudo,
Inesperadamente,
De direcção.
Não quero tornar-me real,
Quero que me sonhes,
Me desejes,
Me anseies,
Até ao dia
Em que deixarei de ser,
A tua perfeita
Ilusão.




30.Abr.2016

sexta-feira, 29 de abril de 2016

XXX Verdade Irrefutável



E quando me chamas de meu amor, sou tua, pertenço-te como jamais pertenci a alguém, como jamais me permitirei voltar a pertencer. Tua, apenas e única e somente tua.


29.Abr.2016

Mergulhar em mim



É tempo de mergulhar em mim. De me descobrir, de saber quem verdadeiramente sou, de me destapar dos estigmas que me são impostos.
É o momento de parar a vida, de a suspender, de abrandar o ritmo do passar dos dias em que a rotina impera.
É a altura certa de perceber o que fui e o que não cheguei a ser, o que sou e o que não quero ser, o que em mim mudarei ou simplesmente manterei.
Um balanço de vida? Não. Sim. Talvez. Mas sem dúvida um balanço de mim, do que cresci e aprendi e, sobretudo, do ganho de consciência do que ainda preciso crescer. Dos medos que ainda preciso enfrentar, dos defeitos e falhas que ainda tenho de colmatar.
É tempo de me abraçar, de me aceitar, de me melhorar.




29.Abr.2016