sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Escrever(te)



Pergunto-me porque escrevo e a resposta não surge fácil na ponta dos dedos. Nem na ponta da língua ou em pensamentos coordenados. Não! Aparece de forma disforme, confusa e desordenada.
Vários pensamentos vão-se formando na mente. Pensamentos não, são mais palavras que se unem a outras palavras e formam uma frase. E tenho que a escrever.
E o restante é uma catadupa de palavras chave que se vão encadeando umas nas outras. E nas quais não penso. É uma espécie de acto reflexo que muitas vezes, quando as palavras realmente se marcam presença na mente, tudo parece confuso, chegando a parecer ilógico.
Não sei porque escrevo.
Nem tão pouco sei se escrevo.
Debito palavras que fazem mais ou menos sentido.
Não é para outros. Não tenho a pretensão de ser lida e, muito menos, compreendida.
Não é para mim. Conscientemente não o é. Nunca releio as frases que se vão formando e firmando em linhas de coerência dúbia.
E há a sensação de repetição. De monotonia demasiado enfadonha e descolorida de novos sons e compassos.
Tudo sempre igual, semelhante ao anterior. A culpa? Das palavras! Dessas palavras que ecoam de forma permanente na minha mente. Palavras que me são fiéis e não me abandonam jamais. Palavras sempre presentes e constantes.
Houve tempos em que escrevia para ti. Em que te respondia ou te dizia o que de mais profundo sentia, desejava, ansiava.
Houve alturas, muitas e durante muito tempo em que todas as frases te faziam sentido.
Agora, nada o faz. Agora que já não me lês, todo o sentido se torna (im)possível.


11.Fev.2016

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Ele(s) I


Se o ama? Sim, ama.
Com toda a força que há dentro dela.
Com todos os poros da pele dela.
Com toda a alma e entrega e companheirismo e amizade e carinho.
Sim, ama-o.
Como jamais amou antes. E não, não sente a velha máxima que prega aos sete ventos como verdade empírica: " o nosso maior amor é o último".
Não.
Este é o amor que a fez crescer, amadurecer como pessoa, mulher, companheira e amante. Dele e acima de tudo, dela. E do seu corpo que não sabia desconhecer tanto até ao toque dos dedos dele a terem ensinado, até ter encontrado o desnorte de se entregar aos prazeres da pele, da carne e do sexo.
Sim, porque o sexo não é tabu. Nem proibido. Nem pecado. Pecado é passar a vida sem saber que há muito além do sexo no sexo.
Há partilha, confiança, diálogo e os limites não têm preconceito como sobrenome, apenas respeito. Por ela, por ele e por ambos.
E dele sorveu, como alguém esfomeado pela vida, tudo o este lhe poderia dar.
E aprendeu que a vida deve ser regida assim, como o sexo: sem culpas, de consciência tranquila, respeitando os limites dos outros e os seus.
Que tudo deve ser vivido com prazer, alegria e vontade genuína. Genuína, aprendeu a gostar do que é, sem vergonha das opções que eventualmente faz, sem receio de falhar, sem se agarrar ao que é seguro.
Com ele aprendeu a voar... Como não amar quem nos ensina a voar?



11.Fev.2016

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Desistir



Às vezes apetece desistir.
Baixar os braços, deixar de lutar, resignar-me às evidências e ficar.
Apenas ficar.
Parada. Imóvel. Inactiva. Desligada.
Não fazer parte da acção, só reagir. Automaticamente.
O essencial para não morrer. E assim, não me desiludir, não me entristecer, não me aborrecer, não me nada.
Não pensar, não desejar, não sonhar, não almejar, não nada.
Não pedir, não suplicar, não falar, não gritar, nada.
E eu grito sem que me ouças a voz.
Um grito surdo que me sai da garganta potente e forte e se esvai, propagando-se no espaço como nada. Como o silêncio. E a vida, apesar do grito, segue, impávida e serena.
E o que cá ficou dentro por gritar, é um nó impossível de desembaraçar, um emaranhado de pensares que nunca de
viam ter existido, nunca deviam ter tentado sair, nunca deviam ter-se permitido tentar fazer ouvir...


10.Fev.2016

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Dicionário de coisas simples XXVII


E o sonhar(te)?
O sonhar(te) é o tempo,
Infindo,
De nunca mais chegar a hora
De te ter nos meus braços.

E o desejar(te)?
O desejar(te) é a memória do teu toque,
Quente, ardente, insano,
Percorrendo a minha pele.

E o amar(te)?
O amar(te) é a vontade do corpo, da alma e do coração,
Que faz de ti a minha
Única perdição, paixão e,
De viver, a minha razão.


08.Fev.2016