quinta-feira, 23 de abril de 2015

Desliza


Desliza
A roupa que cobre
A pele aquecida
De um corpo
Que há muito,
Se libertar queria.

Deslizam
As vestes
E com elas o pudor,
Essa (tonta) vergonha
Imensa de querer,
De se saber,
De desejar viver.

Deslizam
As fantasias
De quem se assume
Em pleno e por completo
Como um pecado
Prestes a ser cometido,
Provado.

Deslizam
Mãos e dedos,
Línguas e bocas,
Beijos e gemidos.

Deslizam
Promessas
De entrega e pertença,
Desprovidas de toda
E qualquer
Sentença.

Deslizam
Perante a vontade
De quem ama
Com o corpo todo,
Nesse vibrar
Que é dar e ter prazer!
 
 
25.Mar.2015

Voltar



O dia avança na sua cor pálida de uma Primavera que ainda agora chegou.
Há no ar o desejo desse sol ameno que nos afaga o rosto e eleva os sonhos e o vento, esse, é quem nos faz acordar para a realidade do que não só é, como pode vir a ser. Como um arrepio na pele: desperta-nos os sentidos e não nos impede de viajar para onde queremos, um dia, estar.
E os cheiros são de maresia, os sons de pássaros que se beijam por entre as frágeis flores de pessegueiro e as robustas camélias.
O dia avança e o desejo em mim cresce de forma proporcional: há tanto mais que desejo para além do que tenho. Há tanto mais que quero saber, que pretendo aprender, que anseio crescer, que não me cabe no peito.
Há tantos dias que quero voltar a ver, tantos cheiros que pretendo sentir, tantos sabores que pretendo repetir como sendo novos, como que renovados e inovados e relembrados como uma doce memória feita de novo, ali, naquele momento. Como se... Me apaixonasse ciclicamente e sempre que as revivo.
 
E, tal como o dia, descansar à hora marcada com a lua, fechar os olhos e viajar para onde os sonhos me levarem. E de manhã, acordar de novo e voltar a viver.
 
Voltar a viver(te).
 
Voltar a sentir(te).
 
Voltar a amar(te).
 
Voltar a ter(te). Saborear(te) o beijo. Devorar(te) o corpo. Alimentar(te) de mim. Do meu amor, do meu desejo, da minha luxúria, das minhas fantasias.
 
Voltar a querer(te) sempre e cada vez como a primeira vez!
 
 
 
23.Mar.2015

Baloiço


Os sons são feitos de uma melodia
Sentida e não ouvida,
Tocada pelo brincar dos teus lábios,
No canto entre-aberto da minha
Boca lânguida e húmida. 

Baloiço entre as tuas mãos,
Que deslizam doces e quentes
Sobre o tecido de uma roupa
Que se pretende desprender.

Passos sincronizados
Em movimentos novos e únicos,
Jamais por ambos experimentados
Em peles que se unem
Em cheiros mesclados
Criados num amar
Frenético de receber e dar.

Dançar,
Faz-me dançar no correr do teu corpo,
No seguro do teu abraçar,
No ritmo do teu me querer,
Do teu me desejar.
 
 
09.Mar.2015

Adeus


Adeus. Vai dizer adeus.
Sabe-lhe os segredos. Todos.
Sabe-lhe também as vontades, as ansiedades. E com isso, tornou-se vulnerável aos seus olhos.
Conhece todos os que há dentro dele. Todos os dias uma história que são tantas como tantos os que existem nele.
Descobre-o, aos poucos, dia após dia. Cada hora tem uma marca e um deles que aparece.
E ele sabe que ela sabe. E ela sabe que ele sente.
Contudo jogam, um inebriante jogo de palavras, de confissões que, sempre diferentes, acabam por os unir ainda mais.
Gosta das vidas que há dentro dele. Gosta de o saber diferente. A cada hora.
Ela sabe-o em cada abraço que a prende.
Ela sente-o em cada beijo que lhe oferece.
Vai, por isso, dizer adeus.
Adeus às vidas que viveu. Aos amantes a quem já se deu.
Adeus ao que já foi. Dividida por tantas que é.
Ela é como ele: carregada de vidas, de eus que se criam a cada novo passar de capítulo. A cada virar de página.
Ele é como ela.
E ela ama-o como toda a força que o corpo tem. Com todo o desejo que daí advém. Com todo o sufoco que pode trazer um respirar.
Adeus. Vai dizer adeus e viver a vida que até aqui viveu (de si) repartida.
 
 
26.Fev.2015