quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Fugir



Não há forma de fugir,
Escapar ao destino,
Nem sequer de o iludir,
Desviar-me do caminho.
 
Tentar escapar
Ao meu maior desejo,
É ilusão do pensar,
É cobrir-me de pejo.

Entrego-me sem pudor,
De alma lavada,
O rosto cobre-se de rubor,
Quando a boca é beijada.

Deixo a roupa cair,
No chão fica espalhada,
E o corpo a reagir,
Sob a forma da pele arrepiada.

E o teu toque é sensação
Maior que já senti,
É como perder o chão,
E entregar-me e confiar em ti.

É dar-me por completo,
Num momento tão intenso
Em que o prazer é repleto
De um amor imenso!
 
 
 
06.Janeiro.2014

Chove


Chove.
Caiem gotas de água de um céu tomado pela noite negra, vazia de cor, de gente e de sons. Só o som inconstante desse gotejar caindo e embatendo no que vai aparecendo na seu caminho. Só os desenhos de pequenos cursos de água, unindo-se, fortalecendo-se e engrossando o caudal na calçada da rua, sendo está a única forma de se perceber que o tempo passa, que não se trata de uma imagem parada, estagnada no tempo.
Chove.
E o silêncio não se quebra, não se perde, não deixa de imperar aqui dentro. No aconchego destas paredes. No quente deste leito onde o corpo se deixa cair. Onde há marcas de vida, desenhada em cada ruga deste lençol. Onde há odores de corpos amados no desarrumo do edredão. Onde há gemidos, guardados como tesouros, na fronha das almofadas.
Chove.
E a presença da tua ausência não se sente, não me invade de penas e tristeza. Apenas a saudade do teu toque, do som dos teus beijos, do saborear das tuas palavras sussurradas no meu pescoço. Momentaneamente. Apenas num lapso de tempo, num cerrar de olhos que logo se esfuma dando lugar às memórias tão vivas em mim, quase palpáveis.
Chove.
Mas é lá fora. Aqui, estás mais presente que nunca. Tu preenches-me por completo. Tu habitas-me por inteiro, ocupando cada espaço em mim, cada pedaço, cada poro da minha pele! Tu invadiste-me o corpo e a Alma, o ventre e o coração, o prazer e o pensar! Tu és vida em mim e, enquanto assim for, viverei, alimentar-me-ei de ti.
E não há chuva que te limpe, que te dissolva de mim!


05.Janeiro.2014

Silêncio XI

 

Silêncio,
Que desejo ouvir-te
No passar do vento
Por entre os meus cabelos,
Afagando-me o rosto,
Perdendo-se no meu

Silêncio,
Que a minha boca
Ainda traz no paladar
O sabor dos teus lábios
Humedecidos
Em beijos trocados
No meio do nosso

Silêncio,
Que os corpos
Transpirando desejo
Gritam sem medos
Palavras de excitação,
Em enredos grosseiros,
Carregados de tesão
Quebrando o

Silêncio,
Que a carne fala,
Contorce-se ao ritmo do movimento,
Retendo o respirar
Por um breve momento,
Suspende-se o olhar
Entregue a esse prazer,
De te ter cá dentro,
Acabando com todo esse

Silêncio,
Que as palavras são parcas
E o abraço diz tudo.
 
04.Janeiro.2014

Connosco

Caminhos percorridos
Em passos lentos,
Por lugares tortuosos
Em que comandam os ventos
Do vazio e da dor.

Caminhos calcorreados
Em passos parados
Lambendo feridas de
Outros passos (mal) dados.

Caminhos sombrios
Em passos desajustados
Em todos os sentidos
Sem rumo,
Sem meta,
Apenas perdidos.

Caminhos que se alimentam
De lágrimas vertidas
De dores carregadas
Por uma Alma
Quase vencida.

Caminhos que se alteram
A cada passo dado,
Que se libertam
Do passado e do feito,
Que se desejam plenos
De certezas,
Sempre incertas.

Caminhos que escrevemos
No correr lento da Vida
Que nos marcam,
Que nos transformam,
Que nos abalam as convicções.

Caminhos que crescem,
Que se agigantam ao nossos pés,
Que se Iluminam de felicidade
Ao olhar a paisagem
De gente e de odores,
De carinho e sabores,
De desejos e amores.
Não há caminhos apenas sofredores,
Há pequenas porções
De dissabores
Que se esquecem
Sob o olhar de quem nos acompanha,
De quem,
Connosco,
Partilha as nossas dores!
 
 
02.Janeiro.2014