sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A noite



A noite é senhora do momento, impera negra e sombria, apenas abraçada por fugazes luzes de carros que passam num quase voar onde a chuva antecipa o seu chegar num ruído ritmico e sem compasso.
Cruzo-me por transeuntes que não têm rosto ou forma tão escondidos que estão nas suas vestes pesadas e quentes de Inverno.
E sinto.
E tudo parece parar em meu redor.
E inspiro. E sinto de novo.
A tentação de rodar o olhar é mais forte e caio num pecado que nada tem de culpado.
O corpo estremece de um lado ao outro, dos tornozelos ao pescoço e a pele, a pele arrepia-se como se fosse tocada daquela forma que poucos, que apenas tu sabes.
Os lábios entreabrem-se e o vapor quente do meu corpo faz sinais de fumos ao ritmo da língua como se te provasse na minha boca.
E sinto.
O cheiro que sendo teu não é o teu odor e que me recorda desta forma intensa e imensa, em apenas breves segundos, como é te amar, te sentir e te desejar.

14/12/2012

Alturas do dia



Há na rua os sons do largar dos empregos misturados com os sons do regresso a casa num compasso de ritmos aleatórios de passos largos e pesados e de outros leves e quase parados em que a chuva apenas se sente junto com o vento frio que nos faz olhar apenas o chão.
Se há altura do dia em que a tua presença mais me invade o pensamento, é sem dúvida, neste exacto momento feito de minutos em que a minha mente se solta do corpo que exausto largo sob um canto acolhedor deste local a que habitualmente damos o nome de lar e viaja até às recordações de ti.
Este momento em que o sorriso nos teus lábios me receberia ao abrir da porta. Em que o meu corpo no teu peito se aconchegaria. Em que a tua voz chamando-me de "meu amor" seria a melhor das melodias. Em que o sabor da tua boca deveria invadir a minha. Em que o cheiro do teu corpo no meu se entranharia. Em que o meu olhar no teu mergulharia e a cada toque de pele na pele eu incessante e constantemente por ti me apaixonaria.
Há alturas do dia em que não há dúvidas, apenas uma única certeza: que quero, por completo, ser tua.

12/12/2012

Este Rio



O dia perdeu já as suas cores de luz e de sol, de vermelhos dourados de um Outono no fim e o frio aumenta o seu reino nas ruas quase vazias de corpos que se cruzam a caminho de casa.
O rio liberta-se em pequenas ondas como se os barcos ainda o trespassassem no vai-e-vem constante de risos e máquinas que clicam a cada nova curva do seu percurso.
E eu detenho-me perante a oportunidade de ver o correr constantemente inconstante das suas marés, enchendo e esvaziando como se fosse um coração bombando a um ritmo de horas e que dá e recebe, e volta a dar e a receber.
É como se o seu correr fosse igual ao meu, como se em mim fluíssem todas as águas deste rio e me invadissem corpo e alma por inteiro.
Como se me soubesse.
Como se me conhecesse.
E há um arrepio que me invade a pele como quando me dispo e sei que me olhas, que me deixa na expectativa da forma como me abordas: se me abraças ternamente ou se beijas ardente e apaixonadamente.
Aquele arrepio que nos toca a pele e eleva a alma, que nos conhece por inteiro e sabe o que nos dá prazer e que a cada novo toque, a cada novo beijo, a cada novo sussurro, nos consegue surpreender.
E é a ti que este rio me recorda a toda a hora.

11/Dez/2012

A forma




Que forma tem o meu coração?
Tem a forma da felicidade quando ouço a tua voz sussurrando-me ao ouvido.
Tem a forma de um oceano quando mergulho sem medo na profundidade do teu olhar.
Tem a forma de caminhos de carinhos que os teus dedos criam nos meus cabelos.
Tem a forma de um beijo quando os teus lábios se unem aos meus e misturamos os nossos sabores.
Tem a forma de rios que a tua língua cria na minha pele quando o meu sal estás a provar.
Tem a forma de abraço de corpo inteiro quando me estás a amar.
Que forma tem o meu coração?
Tem a forma do que me fazes sentir quando comigo te estás a partilhar...

9.Dez.12