sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Vazio



Não há maior vazio que o vazio de não ter nada dentro do peito e que aqueça o coração.
O vazio é um frio que se toca, que se sente na ponta dos dedos quando tomamos a decisão de olhar para o que somos.
E às vezes, muitas vezes, sou nada a não ser esse tudo de vazio.
Esse todo cheio de nada que seja mais palpável que um pouco quase nenhum de algo que valha a pena. De algo que merece existir em mim. De algo que é digno de apenas ser.
E muito pouco que seja, é. Existe. Ocupa-me e deixa-me menos vazia. Como se houvesse esperança, razão. Para avançar e enfrentar um novo dia.
Um dia que quase me deixa cheia e viva e completa.
Mas só às vezes.
Na maioria dessas horas que correm estou vazia de sentires que me encham e cheia do vazio das saudades do que (jamais) me dará vida.

28/11/2012

Saudades



Onde começam as saudades?
Numa memória guardada nas gavetas das recordaçoes, representadas em momentos que paramos no tempo.
Começam no imenso e profundo teu olhar que me reconhece os movimentos e o sentir sem ter de falar.
Ou no sorriso que me aquece a alma e me enche o coração desse sentimento que é mais, muito mais que paixão.
Começam no cheiro que se sente quando o vento quente do sul me traz o teu odor numa onda de mar fresco e salgado.
Ou no paladar que subtilmente me invade a boca de vontade de mergulhar a minha língua na tua e te sugar todo esse teu sabor.
Começam nas palavras de amor e de desejo escritas pelos teus dedos nos meus seios, gravadas na minha pele mais escondida, no meio do centro do meu corpo.
Ou no meu ventre contraíndo-se de prazer quando o teu me invade e entra e sai com todo o teu fervor.
Não!
As saudades começam no meio de uns lençóis onde acabamos de nos amar, onde sempre ao deitar te vou desejar e onde ao acordar te vou sempre pensar.
Numa cama onde me quero contigo, para sempre deitar.

27/11/2012

Palavras



E há palavras que nos querem saltar da boca.
Que se alojam na garganta à espera, à espreita de uma brecha nos lábios que não se cerram para que possam se soltar aos jorros. Palavrs que não escolhemos, que não são muito nem pouco, que apenas saiem sem qualquer pudor.
E há palavras que nunca se soltam. Escondidas de todos os pensamentos, de todos os sonhos e pesadelos, de todas as cores e sabores, de todos os sentidos e odores.
Palavras que guardamos como um bem precioso, como um tesouro.
Como o descrever do teu beijo.
Como o sentir do teu corpo no meu.
Como o deslizar dos teus dedos na minha pele.
O teu calor no meu arrepio.
O teu prazer dentro e junto com o imenso fervor que me fazes sentir no ventre, bem em mim, cá dentro.
E as palavras do teu sabor?
Não as sei dizer, não as sei referir, desenhar, escrever ou exprimir.
Há palavras que ficam gravadas na pele, na boca, nas mãos e no corpo.
Há palavras que são um eterno sentir.

26/11/2012

Mostra-me




Mostra-me com todos os sentidos
O que é possível sentir
Sem que me iluda com o olhar,
Sem que me perca no ver que não mostra.
Mostra-me o que é o paladar
Sem saber as cores cor de Verão, quentes, 
Sem saber o formato do espinho 
Da rosa que no cheiro 
É bela apesar de quase morta.
Mostra-me como posso ver
Sem condenar,
Sem com o olhar reprovar,
Apenas ouvir e saber,
De facto, escutar.
Mostra-me que posso
Avançar e em ti confiar
Dar passos certos no caminho,
Com a tua mão a guiar,
A tua voz a orientar.
Mostra-me tudo o que olhos distorcem,
Sob capas carregadas de preconceitos,
Onde tudo são princípios
Que muitas vezes,
Não passam de defeitos.
Mostra-me!
Ensina-me a ver com os olhos da Alma,
Da confiança,
Da segurança,
Da igualdade
E sem modéstia falsa.
Mostra-me com o meu fazer,
A melhorar,
A crescer.

26/11/2012