O tempo corre escorrido no reflexo de um rio que não corre e que no entanto não se detém. Segue seguro do seu caminho que insiste em nunca se desviar, em nunca saltar das margens e correr solto, livre invadindo ruas e travessas e deixando o seu rasto dessas águas sedentas de novos trilhos.
Mas não.
Segue sem medo de ser igual em todos os dias que este antecederam e os que amanhã se seguirão.
É o espelho das cores quentes e de Outono em que as folhas molhadas seguem pelo ar no vento que se sente e que cheira ao mar, esse que o espera com vontade de o beijar e agarrar num abraçar contínuo de um desejo sem fim.
E a cidade, mesmo que perdida e sem a luz do fim de dia arrefecido do calor do sol já para lá da ténue linha do horizonte, assiste a esta entrega total e completa.
Num sussurro que apenas os amantes conseguem ouvir.
Num gritar silêncioso que não precisa mais do que esse se deixar guiar e levar nessa calmaria premente.
E tu ouves-me o grito preso na garganta querendo soltar-se neste mágico dialecto de surdina absoluta que apenas o teu olhar consegue decifrar e em mim fazer criar novas palavras jamais sentidas.
Sim, eu sou o teu rio que suave se quer dar e por ti, meu mar, ser recebida em intenso turbilhão de quereres e de amar.
19/10/2012