terça-feira, 18 de setembro de 2012

Encher-me de ti


Por vezes a tua presença ausenta-se de mim e nessas alturas eu vivo, sinto o correr do vento no rosto como afago de sabor a mel e o sal do mar penetra-me e entranhar-se-me na pele.
Por vezes a tua presença desaparece do meu pensar e do meu sentir e esses momentos são raros em cores de arco-íris que se apresentam em pétalas de outros odores.
Por vezes a tua presença não me larga e o que o meu corpo sente no paladar do gosto de uma romã rubra de cor intensa e madura é superior ao que vivo no dia-a-dia.
Mais sentido.
Mais vivido.
Mais carregado de todas as cores que nunca foram criadas e jamais pintadas em telas de sonhos de beijos e línguas em lábios largadas.
Mais marcado na carne que aquece no calor ameno do Sol no pico de Verão como quando me puxas para ti e me fazes sentir a tua mão forte e segura, prendendo-me de forma indelével nesse teu percorrer súbito do meu corpo coberto de ti e despido de tudo.
E eu quero encher-me de ti.
Sentir-me abafar com a presença do teu ser e de ti sorver tudo que me possas ofertar e eu te possa tirar.


07/09/2012

Esvaída de mim


Sonhos desfeitos,
Em pó transformados
Num rio sem leito,
Sem dor e sentidos
Largados em espaços
Para sempre perdidos
No rumo desta vida
Que passa vazia,
De crenças e sabores,
De paletas de cores
Em rubro amarelecidas.
Sombras que guiam
Os dias sem caminho
Apertam-me o peito,
Abrem-me a ferida
Que um dia foi feita
Por uma lança esquecida
Em corpo adormecido
Para sempre rendido
Num pesar que não avança
E me deixa perdida
No negro do tempo,
Esvaida de mim e ti,
De tudo que é alimento...

04/09/2012

Vazia. Nua.

Vazia.
Nua.
Despida de mim e do que sou.
De pensamentos.
Carrego em mim sentimentos que juntos são um punhado de vento gelado e que arrepia no eco do nada.
Vazia.
Nua.
Sem nada que tivesse sido ou algo que possa ser.
Um respirar que quase não adianta ao sufoco que se prende e arrepende aqui, na garganta.
Vazia.
Nua.
Sem o calor do sangue que ferve e corre e alimenta o corpo que a pele cobre.
Nada em mim existe.
Apenas um corpo inerte que não se sente e que teima em não te esquecer e deixar de amar.
Vazia.
Nua.
Prostrada à espera do tempo passar...

03/09/2012

Impõe-se a hora


Impõe-se a hora do regresso sem que a vontade se resuma a alguma.
Visto o corpo devagar como as horas em que desejo que estas voem num rápido passar de minutos, que teimosos, se vão deixando arrastar.
E a pele vai guardando o cheiro do teu paladar largado em prementes toques de língua nas curvas que me te dão prazer e que vou tapando para em mim te guardar, te manter.
As marcas da nossa suave batalha de mãos e dedos deslizantes em corpos colados sem medos, sem receios ou freios, são o que restam do tempo que demasiado veloz passou e em que o teu calor invadiu o ventre que é meu e me tomou, me deu e de mim recebeu.
Não há temores, nem culpas.
Há vontades cumpridas.
Desejos tocados, sentidos, partilhados.
Há a ânsia da repetição num tresloucado acto feito perdição e doce rendição.

 E eu rendo-me a ti.
Ao teu beijo. Ao teu abraço.


02/09/2012