terça-feira, 18 de setembro de 2012

Perco-me o corpo


Perco-me o corpo
No caminho sem destino,
Sem rumo, sem trilho,
Num andar sem saber onde,
Sem sentir os pés pousar
Na terra feita queixume.
Arde a pele sob o sol
Que o vento não arrefece
E o pensar não se recorda
Do que já foi e já passou
E da mesma forma,
Nunca se esquece
Do que sentiu e nunca sofreu.
Perco-me a alma
Vagueando nestes dias
Sem horas, só vividas
Arremessada contra as pedras
Do que piso,
Sem receio de a partir
Mais que em mil pedaços,
E assim permitir
Que o tempo e o caminho
Sejam apenas e somente passos
Sem sentido.
Perco-me de mim,
Dos desejos que pressinto
No chegar de um odor
Que relembra as sensações
Do prazer e do amor,
Que depois de sentidos
Saã guardados em recordações.
Perco-me sem saber
Onde vou acabar
Mas espero sem desesperar
O teu abraço no meu
Entrelaçar.
31/08/2012

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

E é isto...


Cobre-te!


Desperta o corpo
Lenta e suavemente
Dum sono vazio,
Constante de ausência
De sentires e sem sabores,
Sem as paletas de cores
Que os sonhos acarretam.
Acorda aos poucos
Da dormência da noite,
Na cama fria do calor do Verão
Sem medo do dia
Que não acaba com a solidão.
Entregando-se à vida
A pele desperta,
O desejo invade
Este corpo que se mexe,
Ondula em vontades,
De te ter sob o ventre
Enchendo-me de vontade
De te sentir cá dentro.
Não aguento a saudade
 De te tornar real,
De te sentir o beijo,
O querer e o prazer.
Tapa-te!
Cobre-te!
Cala-te corpo,
Acalma-te nas vontades,
Nos toques solitários
De te imaginar verdade...
31/08/2012

Melancolia...


O sol vai alto no céu azul e imenso de cor a fim de Verão.
O vento teima em levantar a poeira do caminho e obrigar as ervas altas e douradas de cor palha que ladeiam o poço que há muito secou a movimentarem-se numa dança descompassada e suavemente atribulada.
Os sons das alfarrobas a largarem o ventre da árvore mãe e a cairem no seco do chão quebram a monotonia da brisa baloiçante.
Os cabelos soltos teimam em invadir-me o rosto e a fustigar-me a face como um suave roçar de dedos.
A melancolia invade-me numa forma desconhecida em mim.
Uma espécie de ausência e vazio, como o imenso mar de terra cor salpicado aqui e além por uma oliveira que os pássaros acolhem como deles poupando-se ao calor deste sol que queima.
Quase um oásis no deserto.
Quase uma esperança no desespero.
Quase um sorriso por entre as lágrimas.
Por vezes sou confrontada com vazios que me preenchem por completo, que me dominam a alma e infectam o corpo. Um veneno que chegando ao coração, depressa se espalha e entranha e nunca mais me larga.
O coração que devia ser como o poço: vazio de tudo e cheio de nada.
Apenas existir sem sentir o que sente.
Sem saudades do que não teve.



30/08/2012