quarta-feira, 12 de setembro de 2012

E é isto...


Cobre-te!


Desperta o corpo
Lenta e suavemente
Dum sono vazio,
Constante de ausência
De sentires e sem sabores,
Sem as paletas de cores
Que os sonhos acarretam.
Acorda aos poucos
Da dormência da noite,
Na cama fria do calor do Verão
Sem medo do dia
Que não acaba com a solidão.
Entregando-se à vida
A pele desperta,
O desejo invade
Este corpo que se mexe,
Ondula em vontades,
De te ter sob o ventre
Enchendo-me de vontade
De te sentir cá dentro.
Não aguento a saudade
 De te tornar real,
De te sentir o beijo,
O querer e o prazer.
Tapa-te!
Cobre-te!
Cala-te corpo,
Acalma-te nas vontades,
Nos toques solitários
De te imaginar verdade...
31/08/2012

Melancolia...


O sol vai alto no céu azul e imenso de cor a fim de Verão.
O vento teima em levantar a poeira do caminho e obrigar as ervas altas e douradas de cor palha que ladeiam o poço que há muito secou a movimentarem-se numa dança descompassada e suavemente atribulada.
Os sons das alfarrobas a largarem o ventre da árvore mãe e a cairem no seco do chão quebram a monotonia da brisa baloiçante.
Os cabelos soltos teimam em invadir-me o rosto e a fustigar-me a face como um suave roçar de dedos.
A melancolia invade-me numa forma desconhecida em mim.
Uma espécie de ausência e vazio, como o imenso mar de terra cor salpicado aqui e além por uma oliveira que os pássaros acolhem como deles poupando-se ao calor deste sol que queima.
Quase um oásis no deserto.
Quase uma esperança no desespero.
Quase um sorriso por entre as lágrimas.
Por vezes sou confrontada com vazios que me preenchem por completo, que me dominam a alma e infectam o corpo. Um veneno que chegando ao coração, depressa se espalha e entranha e nunca mais me larga.
O coração que devia ser como o poço: vazio de tudo e cheio de nada.
Apenas existir sem sentir o que sente.
Sem saudades do que não teve.



30/08/2012

A vergonha da alma...


A passagem pelos dias é feita de forma invariavelmente irregular e permanentemente inconstante.
O que sou foi-se moldando ao longo dessas horas que fui acumulando em dias tranformados em anos. Fui criando uma forma de estar e de olhar os retalhos de vida minha, tua, deles, de ninguém e de todos, numa amálgama de formas de agir e de sensações que tornam difíceis a digestão de tantos sabores das emoções que me provocam.
Por vezes chega a doer-me a boca do corpo mesmo ali na entrada da alma e há vontade de fechá-la, impedir que me adentrem no coração e me façam marcas indeléveis.
Mas não posso.
E este não poder faz-me fazer de mim o que sou, com a minha forma única de evitar estes sentires.
Por vezes invadem-me vontades de reacções em que não me reconheço no correr habitual dos minutos que sopram velozes no dorso do tempo.
Mas são minhas. E a vergonha da alma esse a que chamam arrependimento, por vezes também é meu dono.
A vergonha do erro, da injustiça é muito superior à vergonha ruborizada aquando do desejado e sonhado toque nos lábios, ou do corpo tão imperfeitamente perfeito que posso ter.
E são raras, muito raras as vezes em que esse sentimento se apoderou de mim.
Raramente me envergonhei assim, da alma!
E tu?
Já te envergou a alma?
Já te conseguiste perdoar de a teres deixado corar num encarnado demasiado sangue?
28/08/2012