No meu coracao nao havia lugares por ocupar, lugares vazios. Nao! O meu coracao era um completo e imenso mar salgado e morno. Um mar sem os salpicos da incerteza, sem o trovao das ondas da amargura, sem as mares dos amores e desamores.
Nao! O meu coracao era um mar calmo, sereno onde apetece navegar sem rumo.
Nao haviam em mim duvidas ou caminhos por descobrir. Era um passar de horas seguro, garantido e seria eterno ate acabar.
Ate ao dia em que tudo mudou.
E o mar revoltou-se e inundou o corpo desse calor que me arrepiou ate a alma.
E a calmaria transformou-se em tempestade de mar e vento e sal gotejante saltando no ar.
E veio a liberdade! A liberdade de sentir na boca o paladar do mar.
A liberdade de desejar querer mais do que esse gosto na pele. A vontade de saber a que sabe o mel de urze vertido na boca. A vontade de sentir no rosto o quente do vento sul com cheiro de chuva de verao e terra salpicada de gotas ou correr descalca no jardim de erva acabada de cortar. O cheiro das laranjeiras em ramos de flores brancas carregados do zumbir das abelhas.
Tocar pele na pele e sentir todos os estremeceres do desejo a fluir e a convergir em mim.
No meu coracao existem agora lugares vazios, que anseio tocados, sentidos e, sobretudo, preenchidos.
No meu coracao ha agora lugar para mim!
19/03/2012