terça-feira, 9 de agosto de 2011

Tão iguais...

Deixavas-me ficar tão mal em frente aos pais. Falavas nas minhas costas que não arrumava, que quando chegava a casa me sentava no sofá, que tinha namorados mesmo que apenas intuisses que os tinha!! Sim, tinhas razão num aspecto: detestava cozinhar - acho que ainda detesto! Mas, tu fazia-lo tão bem porque haveria eu de tentar fazer algo meramente tragável? E quando tragável!!
Sabes? Desde pequenitas que era assim, esta diferença. Eu a proteger-te e tu a agredir-me de todas as formas. Sim! Eras um terror! Lembro-me que para adormeceres tinhas de me fazer irritar: almofadas pela cabeça abaixo, apertões nos braços... Enfim: tudo para não te deitares de imediato. E eu a tentar resistir.
As nossas brincadeiras sempre diferentes: tu futebol e bicicletas e subir às arvores; eu a típica menina bem comportada.
Nunca conseguia que brincasses comigo! Era impressionante ver-me de canelas cheias de nódoas negras por me conseguires fazer jogar futebol! As duas! Eu sempre à baliza: tu eras a goleadora! Pena que apenas fazias pontaria à minha figura! A baliza improvisada com o balde do chão e a casota do cão não servia de nada: eu era o alvo!
E quando partias algo em casa? Nunca sabias de nada, não tinhas sido tu... E, por mentirmos e ocultarmos quem tinha sido, correctivo à moda antiga! Não pelo que partimos ou estragamos, mas por não falarmos a verdade. Lembras-te de quando o pai corria atrás de nós em volta da mesa de jantar??? Quase sempre por alguma asneira que tinhas feito!
Crescemos e os poucos anos de diferença entre nós parece que aumentaram. Eu com os típicos namoricos de escola: rapazitos a tentarem aproximar-se de mim e eu a dar-lhes com a típica lancheira na cabeça! Queria lá saber disso.
Mas tu recebeste o primeiro bilhete de amor antes de mim, lembras-te? Com a pergunta da praxe e os respectivos quadradinhos de resposta múltipla! Tu guardaste o teu. Deste a resposta frente a frente! Sempre!
Foi graças a ti que comecei a sair à tarde: se não fosses eu também não ia. Começaram as pequenas trocas de segredos de adolescência: saberes que eu gosto de alguém. Que dei um beijo na boca! Ficaste escandalizada.
Acho que nesse dia, percebeste que eu te ia fugir. Nunca mais quiseste sair. E eu ficava em casa.
Começaram os problemas de me pensares que um dia eu não ia lá estar. Não gostavas de nenhum dos meus namorados. Não que tivesse muitos, mas não gostavas... Arranjavas sempre forma de me colocar contra os pais.
Na altura, odiava-te por isso. Mas apenas nesses breves momentos que duravam no máximo dois dias. E, se fosse ao fim-de-semana!
Crescemos e tu apaixonaste-te. Perdidamente. E eu a sofrer contigo e por ti. Nunca te desamparei. Nunca te critiquei. Foste sempre protegida por mim. De tudo o que me era possível proteger-te. Mas sempre com o teu livre-arbítrio a decidir. "É a vida dela. Ela tem de decidir. Tem de ver com os olhos dela. Tem de sentir no coração dela. Não podemos ser nós a dizer-lhe." Defendia-te eu perante os pais.
Ainda assim, não compreendias certas das minhas atitudes, escolhas.
Mas sabes? Um abraço teu acabava com tudo isso. Ver-te pedir-me conselhos sobre o que vestir para ires a um aniversário, ou levares roupa minha deixava-me tão feliz!
E um dia, pediste-me desculpa! Por teres feito a minha vida num quase inferno. Lembras-te? Foi ao fundo das escadas. Choramos que nem duas Marias Madalenas! E disseste-me: "Oh Cat! Eu amo-te tanto que prefiro ser eu a mogoar-te! Prefiro ser eu a dar-te a estalada na cara para acordares, do que ver-te chorar porque te desiludiram! Tu mereces tanto ser feliz que às vezes sinto que não há a pessoa certa para isso..." O teu amor afinal era incondicional!!
Foi a primeira vez que conversamos como duas mulheres. E que te apercebeste de como somos tão iguais!
Amo-te maninha minha!

26/07/2011

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