quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

(N)As tuas palavras


Há nas tuas palavras
Um duplo sentido,
Invisível à mente
Que, como tu,
Não pense. 

Uma malícia que seduz,
Provoca e dificilmente
Se deixa distrair
Em subterfúgios
Que não seja o de nos fazer
Abrir.

E há uma vontade,
Inequívoca,
De libertar o que de mais profundo,
Mais escondido,
Temos no peito.

E o desejo invade
Na mesma proporção
Que os botões da blusa
Se abrem e desvendam,
De forma falsamente tímida,
Seios perfeitos,
Ansiando por tua boca.

E já não sou eu
Quem comanda,
É a tua voz ordenando
E minhas mãos
Escrupulosamente cumprindo,
Todos os teus desejos e ritmo,
Acelerando ou diminuindo,
Fazendo de mim tua,
Eternamente tua,
Mesmo não me tocando.


06.Jan.2016

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

O meu lugar



É Inverno e a noite há muito que iniciou, disfarçada pelo correr das gentes que, rapidamente, se quer recolher em casa. Que se quer abrigar do sufoco de horários que de si, praticamente, não dependem. Refugiar-se no seu lar, o único local onde podem ser elas próprias, retirar a máscara que colocam como subterfúgio de, aos olhos dos outros, não parecerem perfeitos.
Ou não.
Talvez o dia fora de casa seja o escape a uma vida de amarras que já não se vislumbra como porto seguro. E o regresso impõe o incorporar de uma personagem que se vendeu, e alguém comprou, ao longo de anos em que o instituído sempre foi respeitado. Pior, sempre foi consumido como o correcto. E a noite, em vez de salvadora ou protectora dos amantes, torna-se na sua castradora.
Aqui, no meu lugar, há espaço para tudo: para a dona de casa (im)perfeita, para a mulher doce e preocupada, para a amante arrebatadora e desconcertante. E o meu lugar é onde estou. Comigo e com tudo o que sou. Com as virtudes e as qualidades e os defeitos e as maldades.
Não há máscaras. Já houve, hoje não e cada vez há menos.
Não tenho de agradar a todos.
Não tenho que ser perfeita.
Nem os outros. E se compreendo e aceito atitudes menos correctas dos outros - sim, acredito que poucas são as pessoas que magoam propositadamente, tenho de compreender a mim.
E desde que ao adormecer a Alma esteja tranquila, não há nada a perdoar-me.







05.Jan.2016

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Toma-me



Toma-me.
Pela mão e mostra-me o Mundo,
As cores das flores mais exóticas
E os perfumes mais intensos.
Nos teus braços sentir
A certeza de um querer
Que ultrapassa o físico
E chega a tocar a alma.
Deixa-me viajar nas palavras
De histórias que invadem o imaginário
E fazem sonhar.
Viver uma entrega completa,
Única,
Inigualável,
Incompreensível aos olhos de qualquer mortal.
Toma-me.
No teu corpo que me ama,
Me inunda de ti e do que és,
Do teu ser que me completa
E me deixa a certeza plena
Que te pertenço,
Que sou apenas tua.







04.Jan.2016

Definhar

Definhar.
Palavra estranha,
Que na pele se entranha
E dela não sai,
Criando marcas profundas
De um tempo que passa
Numa vida aparente.

Deixar-se absorver pela inércia,
Em que o pensar e o efectivar
São assíncronos.
Querer e não conseguir.
Perder a vontade de avançar,
De recuar,
Apenas deixar-se estar
Quieta,
Imóvel,
Submisso a um esvair
Da vida.
Presa numa rede invisível
Que impede
O grito de sair da garganta,
O sangue de correr nas veias,
O sorriso de se libertar por entre os lábios,
As lágrimas de escorrer pela face
E, assim, morrer lenta e dolorosamente.
Desiludida com os dias que passam,
Incapaz de alterar esse invadir
Das marés de um mar revolto
Pelas águas de um calmo rio adentro.
E receber sem contestar,
Resignar-se a este simples e mero respirar
E (sobre)viver.


04.Jan.2016