quinta-feira, 23 de abril de 2015

Baloiço


Os sons são feitos de uma melodia
Sentida e não ouvida,
Tocada pelo brincar dos teus lábios,
No canto entre-aberto da minha
Boca lânguida e húmida. 

Baloiço entre as tuas mãos,
Que deslizam doces e quentes
Sobre o tecido de uma roupa
Que se pretende desprender.

Passos sincronizados
Em movimentos novos e únicos,
Jamais por ambos experimentados
Em peles que se unem
Em cheiros mesclados
Criados num amar
Frenético de receber e dar.

Dançar,
Faz-me dançar no correr do teu corpo,
No seguro do teu abraçar,
No ritmo do teu me querer,
Do teu me desejar.
 
 
09.Mar.2015

Adeus


Adeus. Vai dizer adeus.
Sabe-lhe os segredos. Todos.
Sabe-lhe também as vontades, as ansiedades. E com isso, tornou-se vulnerável aos seus olhos.
Conhece todos os que há dentro dele. Todos os dias uma história que são tantas como tantos os que existem nele.
Descobre-o, aos poucos, dia após dia. Cada hora tem uma marca e um deles que aparece.
E ele sabe que ela sabe. E ela sabe que ele sente.
Contudo jogam, um inebriante jogo de palavras, de confissões que, sempre diferentes, acabam por os unir ainda mais.
Gosta das vidas que há dentro dele. Gosta de o saber diferente. A cada hora.
Ela sabe-o em cada abraço que a prende.
Ela sente-o em cada beijo que lhe oferece.
Vai, por isso, dizer adeus.
Adeus às vidas que viveu. Aos amantes a quem já se deu.
Adeus ao que já foi. Dividida por tantas que é.
Ela é como ele: carregada de vidas, de eus que se criam a cada novo passar de capítulo. A cada virar de página.
Ele é como ela.
E ela ama-o como toda a força que o corpo tem. Com todo o desejo que daí advém. Com todo o sufoco que pode trazer um respirar.
Adeus. Vai dizer adeus e viver a vida que até aqui viveu (de si) repartida.
 
 
26.Fev.2015