terça-feira, 13 de maio de 2014

A hora que mais me dói



É esta a hora que mais me dói.
Quando o corpo se deixa cair no leito, despido dos despojos do dia, nu das vestes que fazem a vida contida.
Quando o silêncio que me rodeia cede lugar ao ruído da mente que, ainda demasiado desperta, fervilha com palavras e imagens. Memórias, recentes do dia ou antigas. Lembranças de cheiros ou sons, de músicas ou gargalhadas, de lágrimas alegres ou tristes de dor, salgadas.
 
No meu hoje, analiso e apercebo-me que há menos para viver do que o já vivido.
E eu vivi tão pouco! E eu quero viver tanto mais!
 
É esta a hora que mais me dói.
Quando os anos por vir são menos do que os vividos. Quando as horas dormidas são imensamente mais que as ainda por viver. Quando os minutos se tornam preciosidades, que temos de explorar e aproveitar de forma a termos no rosto espelhado o sorriso da felicidade. Preciosidades que não se guardam, que se esquivam e acabam sem possibilidade de retorno, de voltarem.
 
É esta a hora que mais dói.
Quando me apercebo que te vou ter por pouco tempo. Mesmo que seja até ao meu último fôlego, para o quanto te amo e te desejo, é tão pouco o tempo.

11.Maio.2014

Ficar

 
A noite já nos invadiu com a sua ausência de cor, escurecendo os recantos das esquinas das ruas desertas de gente, pois o fresco é intenso na rua. Não há ruídos que invadam a calçada, nem risos ou sequer vozes abafadas pela distancia que o vento encurta.
Silêncio. Absoluto. Como se o tempo se tivesse tornado contrário à sua essência. Suspenso, parado, calando os ponteiros dos relógios tornando-os no reflexo de uma eternidade.
 
Cá dentro, há vida. E há tempo. E há um coração que bate, descompassado perante a inércia do outro lado da janela.
 
Cá dentro, de mim, há palavras que não me deixam descansar o corpo como ele deseja, fechar as pálpebras e tornar-me igualmente morta, suspensa e silenciosa, como lá fora.
Há palavras que não me acalmam a mente, que se repetem incessantemente, como proferidas agora, neste preciso instante. E dói. E magoa. E ferem. E trazem-me a vontade de desistir, de largar e de voar sem pena do que vai ficar, do que vou deixar.
 
E ficaria, deixaria demais. E doeria demais, ainda mais.Porque eu quero ficar.
Porque o que me prende é forte demais, cada vez mais.
Porque há (outras) palavras que me enchem o coração, a alma e me completam a essência.
E há o olhar(te) nos olhos que, silenciosos como a noite, gritam palavras de amor, de partilha, de luta e dessa vontade de caminhar(mos) no dia-a-dia.
 
E há o deitar no leito e o teu calor ser meu por inteiro...
 
 
10.Maio.2014