quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Há dias


Há dias em que não apetece viver, em que deixar as horas a correr são a opção perfeita.
Ficar imóvel, constante e tranquila perante o passar dos minutos que já não magoam.
Ficar estática, apenas esperando que o tempo passe, sem interferir no seu correr, sem querer o que quer que seja.

Parada. Respirar apenas.
Parada. Sem que os olhos vejam o bom, o mau, as cores. Tudo é a preto e branco. Não! A cinzas que se misturam indefinindo contornos e características.
Parada. Sem que os barulhos da vida inundem os sentidos.
Estagnada. Adormecida. Não! Dormente. Uma dormência que invade cada pedaço de mim. Que me impede de pensar ou de sentir.
Que me deixa indiferente ao que me rodeia. Sim! Completa e simplesmente indiferente. Aos outros. A mim. A ti.
Indiferente ao facto de o corpo ainda respirar, de o sangue ainda correr, de o coração ainda bater e te amar.
Há dias que não custam a passar. Que passam apenas porque têm de acabar...


27.Jan.2013

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Dias e noites iguais




 
O dia vai começando a despontar, devagar, lento, absorvendo e tomando como seu o frio da noite. Não há sons que sejam de vida, que mostrem que a escuridão já não reina, já não assusta de tanta solidão, de tanto silêncio. Não, o dia ainda não nasceu e os seus sons mantêm-se apenas como uma longínqua recordação das minhas memórias.
Os dias são todos iguais, seguidos de noites igualmente repetidas.
Os sons são sempre cadenciados em ritmos monótonos de repetições infinitas: silêncio, chilrear, passos a caminho do emprego, risos e brincadeiras até à escola, campaínhas freneticamente carregadas sob a esperança de um abrir de porta para o som metálico das caixas do correio invadir o hall da entrada, telefones secretária a disputar com o típico toque de chegada de mail, os talheres em mesas postas e levantadas num frenezim que se sucede, de novo os telefones, o bater de portas de carros, as conversas sempre resmungando do dia, da escola, do chefe, o bater da colher de pau na panela e a varinha (pouco) mágica, as notícias sussurradas perante o (surpreendente) espanto de mais uma catástrofe, silêncio...
Não há mudanças nos sons dos dias. Para mim há apenas a forma como faço a interpretação dos sons.
Há dias em que o dançar das folhas das árvores me fazem viver.
Há noites em que a ausência do teu respirar me faz morrer.
Há dias em que o cair da chuva impede o tempo de passar.
Há noites em que o calor do teu corpo me faz acreditar que é possível sonhar.

Há horas em que me sinto apenas e somente a (sobre)viver!
 
 
22.Jan.2014