sexta-feira, 30 de março de 2012

Despe-me

Despe-me,
Arranca-me as vestes,
Deixa-me desnuda,
Despida dos botões que me apertam,
Dos laços que me sufocam,
Que me calam a garganta,
Que me matam os suspiros.
Despe-me,
Arranca-me o gemido,
Deixa-me liberta,
Despida do pensar,
Apenas com o sentir
Na pele somente o teu deslizar.
Bocas quentes, molhadas,
Intensas, abraçadas,
Corpos salgados,
De gotas de salpicados,
Lambidas em desespero,
De tanto desejo incontido.
Despe-me,
Arranca-me o gritar,
O meu ventre vem vestir,
Preencher, conhecer,
Faz-me em ti me perder,
De por ti me render.
Despe-me,
Arranca-me o prazer!

                         [Não quero ouvir-te, amordaço a tua boca.
                          Não quero que me toques, amarro as tuas mãos.
                          Não quero que me vejas, tapo os teus olhos.
                          Quero roubar-te prazer no deleite da tua dor.]


Queres ser meu dono e senhor,
Sem me permitir sentir o sabor,
Sem me deixar tocar-te o fervor
Da tua lança que me trespassa,
Que me enche com loucura devasssa.
Rouba-me o prazer,
Sem que me possas ouvir,
Rouba-mo,
Dou-to sem te dar a saber...


JT: Obrigada!

30/03/2012

Perder-me


Perder-me em ti,
Em novos sabores de pele,
Húmidas de intensos beijos,
Trocados,
Prolongados,
Sentidos em louco desatino
De línguas que se entrelaçam.
Perder-me em ti,
Em imenso desejar
Esse teu corpo
Que me enche as mãos ao passar,
Apertar-te a carne,
Puxar-te contra o meu peito,
Senti-lo tocado por lábios sedentos.
Perder-me em ti,
No passar da minha língua
Que desenha novas rotas,
Novos caminhos de quente saliva,
Descobrir-te os mais escondidos trilhos
Que te levam ao limite do tormento,
Do desejo de mais tortura,
De seres apenas objecto da minha imensa loucura.
Perder-me em ti quero,
Encher-te o corpo de mim,
De todo o meu desejo...


30/03/2012

terça-feira, 27 de março de 2012

Inevitável



E o dia em que deixarei de te procurar chegará. É inevitável.
À medida que os dias vão passando, que as horas se vão tornando menos longas e os minutos já me deixam respirar, vais desaparecendo em mim.
Não falo de troca, não há trocas.
A vida não é um jogo em que se possam fazer substituições! Pelo menos no coração. Quando muito, e talvez na maioria das vezes, fazemos compensações. Sim, compensamos frustrações, desilusões, emoções por outras sensações que nos aumentem o bem-estar, a auto-estima, o ego. Ou então recorremos a subterfugios psico-trópicos que nos iludem a mente e nos invadem de sensações forçadas, apenas reacções químicas que nos fabricam sorrisos e abrandam os receios.
Mas não é disso que falo. E da tua intensidade em mim, da tua presença no meu sentir, da força imensa das tuas palavras na minha mente.
Quando te afastas, de cada vez que te afastas, aumentas o tempo do silêncio. E é nesse tempo, sem o sussurro do murmurar do teu me dar, que me vou habituando a sem ti estar.
E quando voltas, de cada vez que voltas com o sorriso nas palavras, na voz, reabres em mim um novo mundo de esperança e ilusões. Mas mais contido, à espera da próxima partida, à espera de um novo zarpar em mares que te são apetecíveis. Mais apetecíveis e que acabam por não te completar, por não te preencher, por te fazerem sofrer.
E nas tuas ausências procuro-te. Procuro sinais de ti, do teu passar por mim, dos beijos e abraços que não trocamos, dos olhares e toques de mão que não sentimos.
E cada vez menos te procuro. Cada vez menos te sinto a falta.
Sabes, somos de hábitos, de vícios. E eu viciei-me em ti. E eu habituo-me a viver, nesta ressaca de ausência tua, nesta abstinência forçada de não tomar de ti. E um dia ja não me farás falta, já estarei de ti curada...
E o dia em que deixarei de te procurar chegará. É inevitável.

27/03/2012

Presente



E não voltas a entrar na minha vida.
E eu desculpo-te qualquer mal que eventualmente tenhas causado em mim.
Mas o meu coração não esquece nunca.
Mas a minha alma continua a sentir-te a falta.
Sim, jamais voltarás a mim pois nunca partiste definitivamente, por completo.
Eu sei-te! Eu sinto-te!
Apenas e somente porque estás em mim. Porque ainda vives em mim!
Não precisas voltar com o teu mar, o teu sal cravado na pele, o teu cheiro de ventos quentes de outros mundos imaginados apenas nas nossas mentes. Não precisas regressar com as tuas palavras docemente intensas falando do teu sentir, do teu querer e desejar.
Não precisas: tenho-as gravadas na mente.
Vives em mim de forma tão única que te sinto o paladar, que te escuto a voz.
Na memória do meu viver, no mais profundo do meu ser, no meu simples respirar, és em mim algo latente, premente, pulsante, diariamente... Presente.

27/03/2012