sexta-feira, 18 de março de 2022

Adeus (à) Vida XLI

 


Mergulho,
Num silêncio profundo,
Quase absoluto,
De uma Alma vazia,
Negra e perdida.
Submersa,
Permaneço,
Até que o ar
Em mim desapareça,
Se esfume,
Num sopro se desvaneça.
Aguardo,
Numa espera angustiada,
Que o coração pare,
O sangue já não corra
E o corpo,
De uma forma doce
E suave,
Para sempre,
Descanse...


Cat.
2021.08.28

quinta-feira, 17 de março de 2022

Carregado de tudo

 



Estou há tempos a tentar colocar por palavras algo que não consigo.
Está entalado. Preso. Sufocado.
Há uma ponta, ali, à espreita e eu bem puxo por ela, mas...
Nada. Zero.
Uma ponta seguida de um nó. Enorme. Na garganta. Nos dedos. No cérebro.
Nada. Zero.
Uma vontade enorme de me libertar, de explodir, extravasar e o quê? Nada! Zero!
E o peito vai-se enchendo de palavras não ditas e o coração vai ficando aperto, cada vez mais apertado e o peito cheio... É um sufoco. Só quero gritar. E abro a boca e pronto: nada, zero sons.
Um grito surdo. Inaudível. Cheio de um nada carregado de tanto. E as lágrimas acompanham. E bato no peito para me esvaziar disto tudo que há cá dentro e que não me sai em palavras. Disto que me atormenta, que me enche e me mata, aos poucos, desta forma tão lenta...
E grito. Grito este grito surdo. Inaudível. Feito de nada, carregado de tudo.


Cat.
2021.08.20

Difícil ser eu


Há dias em que é difícil ser eu, viver os meus dias, as minhas horas, os meus momentos e os meus sentires.
Há dias em que acordar é uma vontade remota. Em que sair da cama e ter de viver é uma... Obrigação.
Hoje é um desses dias.
Hoje é difícil ser eu.
Hoje é um dia em que queria ser outra pessoa qualquer, viver uma outra vida qualquer, ter um outro dia qualquer.
Talvez como a maioria das pessoas...
Hoje parei a ver as notícias e... Algo foi morrendo cá dentro. Acho que foi a alegria, não tenho a certeza. Mas algo foi morrendo ao longo das notícias, ao longo do dia.
O Mundo é um local maravilhoso, perfeito até... Não fosse o ser humano.
Temos tanto de belo como de horrendo.
Temos tanto de bom como de maléfico.
Somos uma espécie de anjo e diabo.
Somos de extremos. Pena é que um dos extremos está a destruir o que há de belo.
Um dos extremos está a dizimar o que de bom se conseguiu.
Um dos extremos está a matar e a aniquilar outros seres em tudo, a si, semelhantes. Por pequenos nadas disfarçados de grandes causas...
E isto mexe comigo. Cá dentro. No meu peito, na minha consciência, na minha razoabilidade.
Mas o meu mundo também tem destas coisas: de diferentes formas de estar, de viver, de olhar o outro e conseguirem dizimar sonhos, expectativas, planos, vidas... Pequenos gestos, pequenas palavras, grande soberba, desentendidos, grandes estragos... E eu, no meio. A desejar viver um outro dia qualquer, duma outra qualquer vida.

Cat.
2021.08.18

quarta-feira, 16 de março de 2022

Ser, apenas ser


 

Por que é tão difícil gostar de nós?
Por que é tão difícil aprender a voltar a gostar de nós?
Por que temos de analisar tudo o que pensamos, a forma como agimos, o que dizemos? Sempre, a toda a hora? Por que razão?
Não podemos apenas ser? Ser sem essa (quase) sempre esmagadora auto-crítica? Sem essa destruidora de egos e da confiança?
Não podemos deixar de analisar o que somos, quem somos? Deixar de pensar é falsamente acreditar que podemos agradar a todos? Que temos forma de criar empatia com todas as pessoas que cruzam a nossa vida? Mesmo quando é genuíno, quando és a tua melhor versão? Ou não será nada disso?
Será apenas necessidade de aceitação? Pura insegurança?
Eu tenho uma (extrema) necessidade de aceitação, de aprovação, de que gostem de mim.
Não deixo de dizer o que penso, o que sinto
Não deixo de ser quem sou, não perco os meus valores, não sou falsa.
Ou serei?
Terá essa necessidade a capacidade de me fazer mostrar uma pessoa realmente diferente da que sou?
Será que me julgam falsa e uma jogadora, correndo de acordo com a maré?
E qual o motivo da minha preocupação com isso?
Quero, preciso que gostem de mim.
Quero, preciso.
E isso é o bastante para me deixar a pensar se me deixo facilmente adulterar...
E eu só quero ser. Ser com todos os meus defeitos e virtudes. Com tudo o que há em mim, de bom e de menos agradável.
Ser, apenas ser e não me (deixar) condenar por assim ser...

Cat.
2021.07.31