quinta-feira, 17 de março de 2022

Difícil ser eu


Há dias em que é difícil ser eu, viver os meus dias, as minhas horas, os meus momentos e os meus sentires.
Há dias em que acordar é uma vontade remota. Em que sair da cama e ter de viver é uma... Obrigação.
Hoje é um desses dias.
Hoje é difícil ser eu.
Hoje é um dia em que queria ser outra pessoa qualquer, viver uma outra vida qualquer, ter um outro dia qualquer.
Talvez como a maioria das pessoas...
Hoje parei a ver as notícias e... Algo foi morrendo cá dentro. Acho que foi a alegria, não tenho a certeza. Mas algo foi morrendo ao longo das notícias, ao longo do dia.
O Mundo é um local maravilhoso, perfeito até... Não fosse o ser humano.
Temos tanto de belo como de horrendo.
Temos tanto de bom como de maléfico.
Somos uma espécie de anjo e diabo.
Somos de extremos. Pena é que um dos extremos está a destruir o que há de belo.
Um dos extremos está a dizimar o que de bom se conseguiu.
Um dos extremos está a matar e a aniquilar outros seres em tudo, a si, semelhantes. Por pequenos nadas disfarçados de grandes causas...
E isto mexe comigo. Cá dentro. No meu peito, na minha consciência, na minha razoabilidade.
Mas o meu mundo também tem destas coisas: de diferentes formas de estar, de viver, de olhar o outro e conseguirem dizimar sonhos, expectativas, planos, vidas... Pequenos gestos, pequenas palavras, grande soberba, desentendidos, grandes estragos... E eu, no meio. A desejar viver um outro dia qualquer, duma outra qualquer vida.

Cat.
2021.08.18

quarta-feira, 16 de março de 2022

Ser, apenas ser


 

Por que é tão difícil gostar de nós?
Por que é tão difícil aprender a voltar a gostar de nós?
Por que temos de analisar tudo o que pensamos, a forma como agimos, o que dizemos? Sempre, a toda a hora? Por que razão?
Não podemos apenas ser? Ser sem essa (quase) sempre esmagadora auto-crítica? Sem essa destruidora de egos e da confiança?
Não podemos deixar de analisar o que somos, quem somos? Deixar de pensar é falsamente acreditar que podemos agradar a todos? Que temos forma de criar empatia com todas as pessoas que cruzam a nossa vida? Mesmo quando é genuíno, quando és a tua melhor versão? Ou não será nada disso?
Será apenas necessidade de aceitação? Pura insegurança?
Eu tenho uma (extrema) necessidade de aceitação, de aprovação, de que gostem de mim.
Não deixo de dizer o que penso, o que sinto
Não deixo de ser quem sou, não perco os meus valores, não sou falsa.
Ou serei?
Terá essa necessidade a capacidade de me fazer mostrar uma pessoa realmente diferente da que sou?
Será que me julgam falsa e uma jogadora, correndo de acordo com a maré?
E qual o motivo da minha preocupação com isso?
Quero, preciso que gostem de mim.
Quero, preciso.
E isso é o bastante para me deixar a pensar se me deixo facilmente adulterar...
E eu só quero ser. Ser com todos os meus defeitos e virtudes. Com tudo o que há em mim, de bom e de menos agradável.
Ser, apenas ser e não me (deixar) condenar por assim ser...

Cat.
2021.07.31

Tento, mas não consigo




Tento, mas não consigo.
Não há forma, não há jeito, não consigo.
Os pensamentos enchem-me o cérebro. Correm velozes sem me darem tempo para sequer os analisar.
Tal como os sentires que há cá dentro: viajam, de um extremo ao outro, sem que os possa assimilar.
E por entre este ciclo, a inércia. A sensação inevitável de não conseguir. De ser incapaz.
Vejo tanto e oiço tanto que... Só me apetece fugir ou rir. Chorar ou ignorar. Ficar ou avançar.
É um limbo, uma corda bamba.
Gostava de não querer saber.
Gostava de poder não ver.
Gostava de ser cega, surda e muda.
Há um ego nas pessoas, todos o temos. Mas hoje, há um ego disfarçado de boa vontade, de bondade... Para mostrar.
E isso é o que eu menos consigo entender: a necessidade de chamar a atenção para o "eu".
Carência? Acredito que será isso acima de tudo.
Talvez eu esteja aqui a divagar por algo que não tem sentido, não tem qualquer explicação.
Mas fico, quieta, numa inércia, de tão estupefacta que me deixam...
Lá está, eu tento, mas não consigo!

Cat.
2021.07.06

terça-feira, 15 de março de 2022

Da minha boca

 



Da minha boca
Nada sai
Senão
Um silêncio,
Mórbido,
Moribundo.

Um silêncio
Negro,
Que grito,
Bem de dentro,
Do meu fundo.

Por entre os
Lábios meus,
Entre-abertos,
Há sons,
Palavras,
Pedidos, desejos,
Inaudíveis
Que esvoaçam,
Presos em asas
Que não solto.

Da minha boca,
Não sai nada
E,
No entanto,
Sai tudo
(O que não digo)...

Cat.
2021.07.01