quarta-feira, 16 de março de 2022

Tento, mas não consigo




Tento, mas não consigo.
Não há forma, não há jeito, não consigo.
Os pensamentos enchem-me o cérebro. Correm velozes sem me darem tempo para sequer os analisar.
Tal como os sentires que há cá dentro: viajam, de um extremo ao outro, sem que os possa assimilar.
E por entre este ciclo, a inércia. A sensação inevitável de não conseguir. De ser incapaz.
Vejo tanto e oiço tanto que... Só me apetece fugir ou rir. Chorar ou ignorar. Ficar ou avançar.
É um limbo, uma corda bamba.
Gostava de não querer saber.
Gostava de poder não ver.
Gostava de ser cega, surda e muda.
Há um ego nas pessoas, todos o temos. Mas hoje, há um ego disfarçado de boa vontade, de bondade... Para mostrar.
E isso é o que eu menos consigo entender: a necessidade de chamar a atenção para o "eu".
Carência? Acredito que será isso acima de tudo.
Talvez eu esteja aqui a divagar por algo que não tem sentido, não tem qualquer explicação.
Mas fico, quieta, numa inércia, de tão estupefacta que me deixam...
Lá está, eu tento, mas não consigo!

Cat.
2021.07.06

terça-feira, 15 de março de 2022

Da minha boca

 



Da minha boca
Nada sai
Senão
Um silêncio,
Mórbido,
Moribundo.

Um silêncio
Negro,
Que grito,
Bem de dentro,
Do meu fundo.

Por entre os
Lábios meus,
Entre-abertos,
Há sons,
Palavras,
Pedidos, desejos,
Inaudíveis
Que esvoaçam,
Presos em asas
Que não solto.

Da minha boca,
Não sai nada
E,
No entanto,
Sai tudo
(O que não digo)...

Cat.
2021.07.01

Adeus (à) Vida XL

 



Morro(me)
Presa num corpo,
Agora,
Inerte,
Sem a (habitual) vida.

Morro(me),
Dia após dia,
Num passar de horas,
De sentido vazias,
Sem amanhã ou agora.

Morro(me)
De Alma negra,
Dorida,
Marcada,
Doente,
Em lágrimas encharcada.
Largada,
Sem piedade,
Na berma duma vida
Aparentemente perdida,
Vivida na inverdade
De ter sentido algum sentido...


Cat.
2021.07.01

segunda-feira, 14 de março de 2022

Percorre-me o corpo


Percorre-me o corpo
O frenesim do tempo
Que anseia, louco,
O teu toque.
Percorre-me a pele
O arrepio de te sentir
O respirar junto
Ao ouvido.
Acelera a vontade
Sentir-te as mãos
Nos seios,
A boca, tua, na minha,
Línguas enlaçadas,
Sedentas.
Toca-me o sexo,
Húmido,
Excitado,
Quase a explodir
Apenas com o desejo.
Faz-me tua,
Assim, ainda vestida,
Como se fosse pecado,
Com os teus dedos sábios,
Assim, provocando,
Até os sentir dentro de mim,
Bem fundo
E não me segurar,
Numa entrega única,
E dar-te,
Todo o meu mel,
Todo o meu prazer...


Cat.
2021.06.23