segunda-feira, 14 de março de 2022

(Im)Perfeita






(Im)Perfeita
Aos olhos de outros,
Aos teus
E aos meus.

Tentativas vãs
De tudo parecer
O que, na verdade,
Não o é.

Mostrar sorrisos,
Amarelos no sentir,
Imagens de felicidade
Que não podem existir.

Viver amarrada,
A quase tudo que não é,
Viver iludida,
Numa imagem criada,
Fingida,
Fabricada,
Mas de falsa beleza pintada.

Depois do rosto e de cara lavada,
Surge a (im)perfeição
Do que é,
Simplesmente,
Ser-se humana.



Cat.
2021.06.04

domingo, 13 de março de 2022

Coisas minhas... Provavelmente sem sentido


 

Coisas minhas... Provavelmente sem sentido.

Hoje li o "Postal do dia", de Luís Osório, de há quatro dias. Um "Postal do dia" sobre um caso mediático e de difícil abordagem: o da menina esquecida no carro.
Um "Postal do dia" carregado de algo que parece ser cada vez mais raro, a empatia.
Não vou divagar ou exprimir os meus pensamentos sobre o assunto: não teria palavras para tal. Há situações que não consigo sequer imaginar, quanto mais verbalizar o que me poderão fazer sentir.
Não vou enaltecer ou criticar quem comentou: são reflexo da vida que experienciaram e da forma que encontraram para lidar com as suas experiências e emoções.
Não. Mas li comentários que me fizeram pensar. Comentários de pessoas que perderam entes queridos e, apesar de dizerem que não acreditam em Deus, o culpam.
Não, não vou dizer que Deus existe, eu nunca o vi e nunca me apareceu em sonhos.
Não, não vou dizer que Deus não existe pois há uma necessidade enorme de acreditar que algo superior interfere nas nossas vidas e somos abençoados ou castigados ou, melhor ainda, encontramos a explicação para o inexplicável. Entram o fatídico "tinha de ser", "está num lugar melhor ", terminando no "foi um milagre".
Chamam-lhe fé. E cada um tem a sua. À sua maneira, com ou sem Deus ou outro nome que lhe queiram dar.
Eu não sei o que tenho.
Eu não sei no que acredito.
Eu tenho tristezas, perdas e dores marcas na Alma que nunca fecharão por completo. Ausências. Saudades. Egoísmo por desejar que ainda cá estivessem.
Eu tenho "milagres" em situações do dia a dia, eu tenho "intuições" sobre o que dizer, sobre as pessoas, sobre situações, como se fosse guiada, como se me sussurrassem ao ouvido, como se, naquele preciso momento, me colocassem o raciocínio, as palavras no cérebro. Eu tenho "dejá vu", tantos e tão reais...
Eu não sei que nome lhes dar, eu uso palavras que já existem pois não sei explicar de outra forma. Não há outras palavras. E não são as correctas. Não são porque não é bem isso, é algo diferente.
Mas às vezes penso nisto, no contexto em que nasci, nas pessoas que conheci, no que me fez crescer. Principalmente, e usando uma expressão que não consigo expressar de outra forma, como ser humano.
Porque dizemos tanto que crescemos como seres humanos se não acreditarmos, mesmo que de forma camuflada, subconsciente, de que somos mais do que matéria e pó?
Penso nisto da fé, da vida, do Céu e do Inferno, desde muito nova. Penso na injustiça de um Deus que me fez nascer de pele branca e olhos azuis (e ser assediada ao ponto de querer esconder-me nos cantos das salas de aula, dos pátios da escola, de nunca usar decotes ou saias curtas...) numa sociedade de primeiro mundo, numa família onde, graças ao trabalho árduo dos meus pais, nunca me faltou nada material e, do outro lado do hemisfério, crianças como eu, mais novas que eu, bebés, inocentes, morriam com falta de alimento.
Que Deus permite algo tão díspare, tão antagónico ao que, numa sociedade Católica, é ensinado?
Pois, os milagres e os acontecimentos fatídicos...
Eu não sei tanta coisa, mas sei que, tem de haver, quero acreditar que há, mais do que um corpo e um cérebro.
Eu acredito que há uma Alma, com várias hipóteses de redenção, de aprendizagem, de crescimento e evolução.
Eu acredito, como na música do António Variações:
"Eu tenho um anjo, anjo da guarda
Que me protege de noite e de dia
Eu tenho um anjo, anjo da guarda
Que me protege de noite e de dia
Eu não o vejo, eu não o oiço
Mas sinto sempre a sua companhia

Eu tenho um guarda que é um anjo
Que me protege de noite e de dia
A toda a hora e em todo lado
Posso contar com a sua vigia
Não usa arma, não usa a força
Usa uma luz com que ilumina a minha vida

Ele não, não usa arma
Ele não, não usa a força
Usa uma luz com que ilumina
A minha vida (...) "

Mas isto sou eu, que não sei nada e não conheço palavras para explicar certas coisas que acontecem, que vivo e que sinto...
Eu sei no que quero acreditar e é isso que, na minha pequenina cabeça e pequeno mundinho, faz sentido: ser melhor. Melhor pessoa, melhor ser humano o que implica ser e aprender o que é melhor para mim. Ter amor próprio sem ego, ter consciência das qualidades e dos defeitos, aceitá-los e melhorar.
Olhar para os outros e pensar que não viveram o mesmo que eu, que não posso julgar pois não sei. Mas posso ouvir e tentar perceber. Mas posso mostrar outros caminhos, outras possibilidades porque vivi coisas diferentes e com isso, aprender com outros também.
Acredito, não, eu sei que se nos olharmos como iguais, como seres em crescimento, em aprendizagem e fossemos mais empáticos, o nosso mundo seria melhor.


Cat.
2021.05.16

Sem palavras


Ando sem palavras... Logo eu, a quem (quase) nunca faltaram.
É verdade que os dias ganharam nova vida, trazem-me vivências diferentes, aprendizagem e crescimento. O que torna tudo ainda mais estranho.
Ando sem palavras...
Estou numa fase que não compreendo. "Numa fase", seja isso lá o que for. Sei que, apesar de me sentir bem, de estar bem, grata e feliz, não me surgem palavras. "Feliz"... Sim. Não. Nem um meio termo é.
Ando sem palavras, é o que é.
Palavras difíceis de encontrar para expressar o que me vai na mente, o que guardo na memória e o que sinto no coração.
O coração, esse maldito que sente sem pedir autorização.
A mente, essa incessante pensadora de tanta coisa que não interessa.
A memória, essa ingrata que me faz recordar quem já não tenho comigo.
A memória, como uma cómoda cheia de gavetas, quase sempre fechadas. Algumas, a malvada, deixa-as semi-abertas, prontas a escancarar o que uma data, um cheiro ou um sabor despoletam.
Tenho, apesar do momento bom que passo, gavetas abertas, carregadas de recordações que me trazem saudade e dor e lágrimas fugindo dos olhos.
São gavetas que jamais se fecharão, eu sei... Não há chave que as encerre definitivamente e se atira ao mar para não haver possibilidade de as reabrir. São gavetas cheias. Transbordantes.
Se eu as quero fechar para sempre? Não!
Eu quero poder olhar para dentro delas e a Alma não se dilacerar. Olhar para tudo o que lá está e não sangrar de dor.
Há ausências que jamais se esquecerão, mas queria não sentir a ausência, a dor ao olhar a gaveta. Queria sentir o amor, os risos, os abraços, os passeios, os beijos e os momentos vividos.
Entre o final de Abril e o início de Maio, tenho duas gavetas que sempre se abrirão... E, infelizmente, sinto que muitas lágrimas ainda cairão.
É por isso que ando sem palavras... O que os olhos não vêem, o coração não sente, dizem. Mas é mentira.


Cat.
2021.05.01

sábado, 12 de março de 2022

Mais negros


O dia vai a meio das suas horas, o sol está mais quente do que o habitual para um dia de Primavera e as pessoas sorriem com os olhos. Pelo menos assim me parece.
Os pássaros banham-se e bebericam da fonte na praça, alheios a toda esta (a)normalidade em que vivemos nestes últimos tempos.
Ainda bem. Ainda bem que há pássaros felizes e que (en)cantam.
No entanto, cá dentro, do meu peito, no meu coração e nos meus pensamentos há confusão.
Sim, há uma infinidade de sentimentos que me deixam num limbo, numa bipolaridade que me desconcerta ainda mais.
Hoje há nostalgia.
Hoje há memórias boas, felizes.
Hoje há lembranças tristes, de me fazerem caur lágrimas pelas faces do rosto...
Sou grata pela vida, pelo sol e pela chuva, pelo mar salgado e o cheiro das laranjeiras em flor.
Sou grata pelas pessoas que tanto me ensinam.
Mas há, num canto de mim, algo que me assola de quando em vez: a partida definitiva de quem amamos.
Por muito que acredite que estarão melhor fazem-me falta e o meu egoísmo deseja-os cá. Para me abraçarem. Para me amarem incondicionalmente. Para me sentir menos vazia, menos... Sei lá o quê.
A ausência é dolorosa e demora a aceitar...
Hoje estou assim, num misto de pensamentos, confusos e mais negros que luminosos.

Cat.
2021.04.16