terça-feira, 18 de maio de 2021

Medo(s)

 




A noite já domina, a rua está silenciosa, não há passos na calçada. Só o frio e o orvalho de um dia de Inverno.
Tal como cá dentro, dentro de mim.
Hoje estou fria, analítica, crítica na e da verdade.
Hoje perguntaram-me porque não aplico a empatia que sinto pelos outros em mim. Que é raro encontrar alguém que racionalize de forma tão precisa o que sente e o que é como pessoa. Que tenho um auto-conhecimento como poucos. E com isso chega a auto-crítica.
A verdade é que desconstruo tudo o que sinto, tudo o que vejo, todas as atitudes, minhas e dos outros.
Sim, analiso.
Mas tenho sempre a capacidade de me colocar no lugar do outro e, com isso, perceber certas atitudes, comportamentos e reacções.
Gostava de o fazer comigo. Mas não consigo.
Há sempre um sentimento de culpa, ou de frustração, ou de arrependimento, ou de medo.
Tenho deixado o medo ser o guia de muitos aspectos da minha vida.
E o medo é uma imensidão de coisas e gigante como as ondas do mar em dia de tempestade.
Engole-me. Tolda-me o pensar. Faz-me não avançar. E eu preciso de avançar. Preciso de ser mais. De conseguir mais. De não tentar controlar para não sofrer ou desiludir(me).
É o momento de confiar. É o momento de arriscar. É o momento de crescer e de deixar o que me prende e me impede de voar.
Há muros, conceitos, medos que tenho de derrubar.
Eu tenho tanto para dar... Mas é por mim, pelo meu ser, que tenho de começar.
E sim, hoje estou fria, analítica, crítica na e da verdade. Sobre e para mim.


Cat.
2021.02.27

Nada sai


 



É na garganta que sinto
As palavras presas,
Impedindo-me de falar
E de respirar.
É um nó que não desfaz,
Que vai acumulando
Tudo que quero dizer,
Num emaranhado
Que difícil de perceber.
É tanto e é nada.
Porque nada sai,
Tudo fica.
Chega a doer
De tanto que tenho
Cá dentro, preso,
Pronto para se desfazer,
Para desaparecer,
Para se esvanecer,
Pois não há ninguém para ouvir,
E é tanto e (na realidade) é nada.


Cat.
2021.02.27

segunda-feira, 17 de maio de 2021

Inundar-me






Despojo-me das vestes
Que me cobrem o corpo,
Com pressa,
Ânsia.
Não me controlo
Neste impulso carnal,
Pecado capital,
De luxúria carnal.
Desejo ter-te,
Ser-te,
Sentir-te a tocar-me
Onde só tu sabes
E iniciar este fogo
Dentro de mim,
No meu ventre,
No meu sexo só teu.
Possui-me,
Estou à espera
Dessa tua boca,
Desses teus dedos,
Desse sexo
Que me faz enlouquecer
De um inevitável prazer
E
Inundar-te de mim.


Cat.
2021.02.23

Adeus (à) Vida XXXIII

 




Segredos inconfessáveis
Fazem-me uma mera humana,
Pecados impensáveis
De quem ama.

Sentimentos voláteis,
Agora odeia e lágrima derrama,
Agora sonha impossíveis
Que enchem a Alma.

Parece-me tudo vivido,
Sem esperança de ser feliz,
Sem sentido,
Numa vida triste e vazia de quereres.

Flutuo, na água de um rio,
Que avança frio
E o corpo nele dança

Sem esperança, vazio,
E a vida aqui, por um fio,
E eu, não tenho medo, de pela Morte me deixar levar.


Cat.
2021.02.23