terça-feira, 18 de maio de 2021

Nada sai


 



É na garganta que sinto
As palavras presas,
Impedindo-me de falar
E de respirar.
É um nó que não desfaz,
Que vai acumulando
Tudo que quero dizer,
Num emaranhado
Que difícil de perceber.
É tanto e é nada.
Porque nada sai,
Tudo fica.
Chega a doer
De tanto que tenho
Cá dentro, preso,
Pronto para se desfazer,
Para desaparecer,
Para se esvanecer,
Pois não há ninguém para ouvir,
E é tanto e (na realidade) é nada.


Cat.
2021.02.27

segunda-feira, 17 de maio de 2021

Inundar-me






Despojo-me das vestes
Que me cobrem o corpo,
Com pressa,
Ânsia.
Não me controlo
Neste impulso carnal,
Pecado capital,
De luxúria carnal.
Desejo ter-te,
Ser-te,
Sentir-te a tocar-me
Onde só tu sabes
E iniciar este fogo
Dentro de mim,
No meu ventre,
No meu sexo só teu.
Possui-me,
Estou à espera
Dessa tua boca,
Desses teus dedos,
Desse sexo
Que me faz enlouquecer
De um inevitável prazer
E
Inundar-te de mim.


Cat.
2021.02.23

Adeus (à) Vida XXXIII

 




Segredos inconfessáveis
Fazem-me uma mera humana,
Pecados impensáveis
De quem ama.

Sentimentos voláteis,
Agora odeia e lágrima derrama,
Agora sonha impossíveis
Que enchem a Alma.

Parece-me tudo vivido,
Sem esperança de ser feliz,
Sem sentido,
Numa vida triste e vazia de quereres.

Flutuo, na água de um rio,
Que avança frio
E o corpo nele dança

Sem esperança, vazio,
E a vida aqui, por um fio,
E eu, não tenho medo, de pela Morte me deixar levar.


Cat.
2021.02.23

Adeus (à) Vida XXXII


 



Sou vento em dia de Outono,
No Verão, centeio cor de mel,
No Inverno, sou acre, sabor a fel,
Na Primavera, renasço, como flor num tronco.

Sou veloz como cada segundo,
Sou um minuto na imensidão do viver
Sou horas e dias de vida feita a correr,
Sou anos, caminhando, neste mundo.

Sou tudo e não sou nada,
Sou também mulher em água parada,
Como que morta, estagnada.

Sou ínfima centelha quase apagada,
Num teatro de gente mascarada,
Que, como eu, depressa estará enterrada.


Cat.
2021.02.22