A tarde avança, num místico nevoeiro e chuva miudinha, como num normal dia de Inverno.
A verdade é que não é um dia normal, há muito que não há dias normais.
Lá fora só se ouve a chuva e os pássaros. As folhas cor de mel das árvores encurraladas em cantos, amontoadas pela água que as empurra.
Aqui dentro, nada de normal se passa, estamos como as folhas: encurralados, obrigados a estar confinados, presos nas nossas próprias casas.
Nos poucos momentos em que saímos, não voamos como os pássaros, não sentimos o cheiro à terra molhada, nem o perfume das pessoas que passam.
Não, não é um dia de Inverno normal.
É um momento, já demasiado longo, em que a vida (quase) está em suspenso.
Pior, vive-se no medo, na incerteza do futuro, na dúvida do que vemos e ouvimos, na dualidade de querer ser livre e querer ser responsável.
Hoje sinto que são páginas do livro da minha vida que estou a queimar... A perder e a deixar de viver e de alguma coisa realizar.
Como folhas que caem no ar e morrem amontoadas, num canto qualquer.
Cat.
2021.01.26