sexta-feira, 7 de maio de 2021

Folhas que caem


 

A tarde avança, num místico nevoeiro e chuva miudinha, como num normal dia de Inverno.
A verdade é que não é um dia normal, há muito que não há dias normais.
Lá fora só se ouve a chuva e os pássaros. As folhas cor de mel das árvores encurraladas em cantos, amontoadas pela água que as empurra.
Aqui dentro, nada de normal se passa, estamos como as folhas: encurralados, obrigados a estar confinados, presos nas nossas próprias casas.
Nos poucos momentos em que saímos, não voamos como os pássaros, não sentimos o cheiro à terra molhada, nem o perfume das pessoas que passam.
Não, não é um dia de Inverno normal.
É um momento, já demasiado longo, em que a vida (quase) está em suspenso.
Pior, vive-se no medo, na incerteza do futuro, na dúvida do que vemos e ouvimos, na dualidade de querer ser livre e querer ser responsável.
Hoje sinto que são páginas do livro da minha vida que estou a queimar... A perder e a deixar de viver e de alguma coisa realizar.
Como folhas que caem no ar e morrem amontoadas, num canto qualquer.


Cat.
2021.01.26

Shhhhhh!


 

Shhhhhh!
Não quebres o silêncio,
A magia do momento
De te rever.
Shhhhhh!
Não percas tempo
Com palavras que
Há muito conheço:
Aproveita essa boca e
Enche-a da minha.
Preciso do (nosso) sabor,
Do teu corpo o (nosso) calor,
Do teu desejo o (nosso) ardor.
Dá-te-me com todo o teu vigor.
Toma-me como se fosse a primeira vez,
Ou a última, pois tanto me faz.
Shhhhhh!
Cala-te e prova-me
De forma intensa,
Sem pudores,
Quero contigo vibrar,
Dar-me,
Ser-te,
Receber-te
E, louca e insana,
Perder-me no (nosso) prazer!


Cat.
2021.01.25

Adeus (à) Vida XVI


 

À média luz partirei.
Dir-te-ei um adeus trémulo
Como a hora em que irei:
Frágil, quase apagada,
Numa chama já sem brilho.
A voz quase inaudível,
Como se a partida já fosse,
Como se, de um fantasma,
Se tratasse.
Um adeus cheio de sentir:
Carregado de alívio por partir,
Pelo facto de deixar, para trás a dor,
E ter a certeza que o corpo frio,
Não sofre mais, seja pelo que for.
Não sofrerei,
Será um regresso a casa,
Onde a Alma se acalma
E vive no seu esplendor.
Dar-te-ei um beijo,
Como quem jamais diz adeus
E deixar-te-ei o meu odor:
A fresca, acabada de colher,
Rosa flor.


Cat.
2021.01.25

quinta-feira, 6 de maio de 2021

Adeus (à) Vida XV


Fecharei os olhos
E nada mais verei.
Levarei os teus, cor de mar,
E a lembrança do teu abraço,
Das tuas mãos entrelaçadas
Nas minhas,
Outrora carregadas de vida,
Agora frias, geladas.
Fecharei os olhos
E nada mais sentirei.
Levarei comigo risos,
Abraços e beijos;
Deixarei, junto com o corpo,
Despojado de vida,
Todas as dores,
Todas as tormentas
E a vida não vivida.
Fecharei os olhos
Mas não morrerei.
Sei que algo mais me espera
E enquanto a carne descansa na terra,
Sei que, esta Alma minha,
Viverá de forma etérea,
Na tua memória
E na outra vida, na eterna.
Os olhos fecharei,
Um dia,
Mas até lá, o melhor que souber,
Esta vida viverei.

Cat.
2021.01.25