segunda-feira, 3 de maio de 2021

Dormência


 

A noite é de um normal Dezembro, com chuva que vem e se fica pelo céu, tornando as nuvens mais negras que o habitual.

... Comecei a escrever, no meu habitual e monótono registo e... Nada. Nada. Um vazio.
Não um vazio vulgar, acostumado e igual a tantos outros.
Não um vazio de palavras presas na garganta ou na ponta dos dedos.
Não.
Apenas um vazio diferente, como se não houvessem palavras para expressar o que sinto.
Não há urgência em tirar de mim o sentimento, não há urgência em transformar em frases tangíveis e compreensíveis. Apenas porque é impossível.
Não há desespero em mim, mas há um nervoso miudinho.
Há esperança na minha Alma, mas também uma certa ansiedade.
Não há angústia cá dentro, mas há um pensar o futuro.
Há amor no coração, transbordante e infinito e por tudo e todos. Mas também há uma não necessidade de o dizer ou demonstrar.
São tempos estranhos e já se demoram a desaparecer, a deixar-nos voltar a tentar viver o normal.
Talvez as palavras certas sejam esperança e medo.
É difícil descortinar os dias que nos esperam que, talvez, seja tão simples quanto isto: um misto de esperança e medo.
Medo não é. Tenho agora a certeza disso.
Há algo, cá dentro, bem no fundo do meu ser, que vê um futuro brilhante, cheio de luz, esperança e empatia. E tudo o que daí advém.
Sim, é isso que sinto no âmago do meu ser.
Este momento anormal é, para mim, uma espécie de dormência... Uma dormência superficial, pois há o que sinto tão forte dentro de mim, como uma certeza concretizada.
Eu sei... Não faz sentido.
Porque as palavras que tenho para dizer não são palavras, são sentimentos, é algo que só o sentir pode compreender...


Cat.
2020.12.15

Adeus (à) Vida IX


 

Voar,
Sair, a pairar pelo céu
Negro da noite, cor de breu
Sem saber onde parar.

Ir,
Deixar o corpo inerte,
Com as lágrimas que já não verte,
Por acabar o sentir.

Deixar dançar
Ao sabor do vento
A Alma que ainda sinto
Como poeira no ar.

Subir,
Partir e ao mesmo tempo ficar,
Num estado que não sei explicar,
O corpo morto, sem ar
Ou sangue do coração a correr,
E a Alma, presente, a ver,
Toda a dor, como pó, a desvanecer,
No ar a diluir...



Cat.
2020.12.15

sábado, 1 de maio de 2021

Adeus (à) Vida VIII


 

A névoa chegou,
Num compasso lento
Como quem tem tempo,
E ali ficou.

Ali se demorou,
Olhando-me o corpo quente,
Olhando-me de frente,
Como quem sempre esperou.

Percebi que a hora se aproximou
E num de repente,
Sem medo e bem perto, mesmo rente,
Chorei e o corpo parou.

Caída no frio chão,
Sem corpo para viver,
A névoa a minh' Alma levou.


Cat.
2020.12.12

Adeus (à) Vida VII


 

Um dia virá
Em que os olhos não abrirei,
Para ti a olhar não voltarei,
Mas será um até já.

Breve passagem por cá,
Em que feridas abri e fechei,
Muitas na Alma guardei,
Mas não as levarei, comigo, para lá.

Do outro lado do céu
Voo sem medo ou receio:
O que vem é bem melhor
De tudo o que já veio.

Não me chores a partida,
À tua espera estarei
Acima deste mundo e desta vida,
Se é que o merecerei...


Cat.
2020.12.10