quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016
Desistir
Às vezes apetece desistir.
Baixar os braços, deixar de lutar, resignar-me às evidências e ficar.
Apenas ficar.
Parada. Imóvel. Inactiva. Desligada.
Não fazer parte da acção, só reagir. Automaticamente.
O essencial para não morrer. E assim, não me desiludir, não me entristecer, não me aborrecer, não me nada.
Não pensar, não desejar, não sonhar, não almejar, não nada.
Não pedir, não suplicar, não falar, não gritar, nada.
E eu grito sem que me ouças a voz.
Um grito surdo que me sai da garganta potente e forte e se esvai, propagando-se no espaço como nada. Como o silêncio. E a vida, apesar do grito, segue, impávida e serena.
E o que cá ficou dentro por gritar, é um nó impossível de desembaraçar, um emaranhado de pensares que nunca deviam ter existido, nunca deviam ter tentado sair, nunca deviam ter-se permitido tentar fazer ouvir...
10.Fev.2016
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016
Dicionário de coisas simples XXVII
E o sonhar(te)?
O sonhar(te) é o tempo,
Infindo,
De nunca mais chegar a hora
De te ter nos meus braços.
E o desejar(te)?
O desejar(te) é a memória do teu toque,
Quente, ardente, insano,
Percorrendo a minha pele.
E o amar(te)?
O amar(te) é a vontade do corpo, da alma e do coração,
Que faz de ti a minha
Única perdição, paixão e,
De viver, a minha razão.
08.Fev.2016
Dicionário de coisas simples XXVI
E o beijar?
O beijar é o viciar do teu sabor na minha língua,
É o entregar a alma pela boca.
E o abraçar?
O abraçar é a minha pele com a tua a aquecer,
É o que nos une a se materializar,
É o nosso local seguro.
E o deitar?
O deitar é o descanso do corpo,
É o prazer de contigo tudo partilhar,
E a certeza de que é aqui que desejamos estar.
08.Fev.2016
sábado, 6 de fevereiro de 2016
Razão ou ser feliz
Preferes ter razão ou ser feliz?
Uma pergunta que sempre me faz pensar pois a resposta não é tão óbvia como pode parecer.
Não, não é.
É por demais evidente que quero ser feliz. Quem não quer?! Utopia dirão uns; não há felicidade continua, só momentânea dirão outros; mas todos a desejamos. Todos ansiamos que faça parte do nosso dia a dia e tantas vezes faz mas estamos tão cegos com a azáfama que nos é imposta que não a vemos, não a sentimos.
Eu quero ser feliz, o mais que puder, o maior tempo possível,sempre. Com as pequenas coisas da vida, com os pequenos gestos que têm para connosco, com a aprendizagem do que é realmente importante. E sim, com o passar dos anos as prioridades alteram-se e o que me faria feliz antes já não é importante hoje.
Preferes ser feliz ou ter razão?
E a resposta balança na mente e deixa-me pensativa.
Já optei por ser feliz e fechar os olhos a algo que me faria ter razão e, instintivamente, escolhi ser feliz.
Uma, duas e outra vez.
E fui. Muito feliz.
Até tudo se repetir.
Há determinados aspectos no quotidiano que me são impossíveis de contornar. Principalmente quando há a obrigatoriedade de ser um exemplo.
O velho ditado popular "olha para o que digo, não para o que faço" não funciona com personalidades em desenvolvimento. Há que ser, verdadeiramente, o exemplo do que achamos correcto e incutimos ou exigimos dos outros.
E é difícil educar.
E é difícil perder hábitos que eram a nossa forma de viver. Que era tudo o que sempre desejamos e éramos felizes assim: sem regras. Chegar a casa era chegar ao paraíso, ao nosso perfeito paraíso.
E a vida muda. E as opções que fazemos mudam essas rotinas sem regras que nos faziam felizes.
E tudo muda. E a responsabilidade de ser responsável pelo desenvolvimento moral de alguém muda tudo.
E há um momento em que dizer, mandar, obrigar não chega. É preciso ser o exemplo. É preciso mudar.
E sim, quero que admitam que tenho razão e que, tal como eu, cresçam e passem das palavras às acções.
Sim, quero que olhem para nós e nos vejam diferentes de tudo o que conheceram até hoje.
Sim, quero que olhem para nós e sintam que, apesar das nossas limitações, das nossas diárias aprendizagens e ajustes, nos vejam como alguém que não os defraudou. Como alguém que exige e cumpre. Como alguém que não usa do poder para exigir apenas e castigar quando não cumprem.
Há um momento na vida de quem criámos que não basta mandar, há que exemplificar.
E por muito que custe mudar, há que o fazer por um bem maior.
E são pequenas coisas do dia a dia que fazem a diferença: partilha de tarefas. E cumprir escrupulosamente as mesmas. Regras básicas que incutem respeito, entreajuda, responsabilidade.
Sim, quero ter razão porque o nosso ser feliz já não funciona nesta nova vida. Tudo mudou e nós não somos só nós, somos educadores, formadores e exemplos.
Preferes ter razão ou ser feliz?
Não há resposta fácil mas sei que não quero ser aquela "mulherzinha asquerosa" de que muitos se queixam.
E neste jogo de cintura que é necessário a mulher fazer, balançamos entre o sr feliz e o ter razão como numa corda bamba, sempre sem saber qual deve prevalecer...
06.Fev.2016
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