Há lágrimas nos seus olhos. Escorrem pela face como as gotas de chuva, do lado de fora, no vidro das janelas.
Ainda é Outono, mas dentro dela já chegou o Inverno. As noites escuras e soturnas, molhadas e vazias de calor humano, em tudo se assemelham ao que lhe vai na alma: tudo é triste e o desalento comanda.
Não há medo dentro dela. Não há medo de enfrentar o dia sem saber o que a espera: sabe-se forte e capaz de ultrapassar os obstáculos que se lhe depararem.
Não, não é medo.
Nem é solidão. Não, solidão não é pois tem o seu coração cheio de quem (a) ama.
Saudades, talvez. De ser de novo inocente e acreditar que só há bem dentro da gente.
Desilusão, também. Não com os outros, que esses são fáceis de perdoar: ninguém é perfeito e todos são mutáveis, passíveis de aprendizagem. E ela perdoa, desculpa com toda a sua condescendência, como quem está um degrau acima na compreensão da ignorância alheia.
Excepto no que a ela respeita.
Sabe que dá demais, que se dedica demais, que sente demais, que se preocupa demais. Que ama demais. Os outros e a ela de menos.
Desilusão por não ser perfeita. Perfeita mulher, perfeita dona de casa, perfeita amante, perfeita companhia e companheira.
Desilusão por errar. Por não saber tudo sobre tudo e todos. Por não acertar nas melhores escolhas quando tudo é incerto e não depende só dela.
Desilusão por não ser mais egoísta. Por acabar por colocar os outros primeiro. Por acabar por se colocar perante os outros depois. Por sempre compreender as acções dos outros, por muito injustas que sejam. E não é assim que se ajuda. Não é deixando que as vontades dos outros prevaleçam sobre as suas.
Desilusão por pensar menos com a mente e demais com o coração.
E chora por não saber ser de outra forma. Por não saber melhorar os outros por não ser determinada.
Porque a vida é resultado das suas acções e só ela é responsável por elas.
E pelas mudanças difíceis de assumir, mas imprescindíveis à sua (tentativa de) felicidade.
16.Dez.2015