quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Felicidade





Há lágrimas nos seus olhos. Escorrem pela face como as gotas de chuva, do lado de fora, no vidro das janelas.
Ainda é Outono, mas dentro dela já chegou o Inverno. As noites escuras e soturnas, molhadas e vazias de calor humano, em tudo se assemelham ao que lhe vai na alma: tudo é triste e o desalento comanda.
Não há medo dentro dela. Não há medo de enfrentar o dia sem saber o que a espera: sabe-se forte e capaz de ultrapassar os obstáculos que se lhe depararem.
Não, não é medo.
Nem é solidão. Não, solidão não é pois tem o seu coração cheio de quem (a) ama.
Saudades, talvez. De ser de novo inocente e acreditar que só há bem dentro da gente.
Desilusão, também. Não com os outros, que esses são fáceis de perdoar: ninguém é perfeito e todos são mutáveis, passíveis de aprendizagem. E ela perdoa, desculpa com toda a sua condescendência, como quem está um degrau acima na compreensão da ignorância alheia.
Excepto no que a ela respeita.
Sabe que dá demais, que se dedica demais, que sente demais, que se preocupa demais. Que ama demais. Os outros e a ela de menos.
Desilusão por não ser perfeita. Perfeita mulher, perfeita dona de casa, perfeita amante, perfeita companhia e companheira.
Desilusão por errar. Por não saber tudo sobre tudo e todos. Por não acertar nas melhores escolhas quando tudo é incerto e não depende só dela.
Desilusão por não ser mais egoísta. Por acabar por colocar os outros primeiro. Por acabar por se colocar perante os outros depois. Por sempre compreender as acções dos outros, por muito injustas que sejam. E não é assim que se ajuda. Não é deixando que as vontades dos outros prevaleçam sobre as suas.
Desilusão por pensar menos com a mente e demais com o coração.
E chora por não saber ser de outra forma. Por não saber melhorar os outros por não ser determinada.

Porque a vida é resultado das suas acções e só ela é responsável por elas.
E pelas mudanças difíceis de assumir, mas imprescindíveis à sua (tentativa de) felicidade.










16.Dez.2015

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

A cada dia


A noite é de um Inverno igual a tantos outros: o frio faz-se sentir porque o vento tem laivos de bailarino e as gotas de chuva são o seu par.
A música, essa, não importa pois o ritmo é feito pelo cair dos passos de quem foge apressado para o aconchego de casa.
Casa... Esse lugar onde nos encontramos após o correr de um dia de rotinas sempre iguais e repetidas. Onde as máscaras de uma personagem, tantas vezes secundária, caiem e o âmago do ser se expande e se revela tornando-se na personagem principal de um teatro nunca ensaiado e original. Onde os defeitos se agudizam de forma brusca e as qualidades se valorizam embevecidamente por quem nos ama.
E regressar a casa é isto: é ter à nossa espera quem nos aceita sem condenações, quem nos melhora sem limitações.
Ou não.
Porque a cada dia somos diferentes, somos mutantes e apesar do medo de mudar, há momentos em que apenas faz sentido avançar.
Para um novo eu, para um novo lar,caminhando só ou com alguém disposto a acompanhar.


14.Dez.2015

Nem sempre




Nem sempre o silêncio
Significa ausência de palavras:
Há frases ocas,
Clichés vazios de sentido.

Nem sempre a multidão 
Significa ausência de solidão:
Há momentos em que, 
Apesar de rodeados de gente, 
Estamos ainda mais sós. 

Nem sempre o calar
Significa ausência de pensar:
Há pensamentos que nos borbulham na mente
Incessantes,
Em ciclos constantes, 
Tantas vezes (i)mutantes. 

E, quase sempre, 
É no silêncio que mais se diz.


14.Dez.2015

Memórias


Memórias
De um tempo que não volta,
De um tempo que passou
E tudo
Para trás deixou.

Memórias
Escritas nas lembranças
Gravadas de momentos
Até hoje
Irrepetidos.

Memórias
Que fazem de nós
O que somos,
Crescimento obrigatório
De quem vive
Uma vida cheia de sonhos
Mesmo que (in)concretizados.

Memórias
Que escrevemos a cada dia,
A cada hora,
A cada minuto da nossa vida,
Das nossas decisões,
Das nossas opções,
Dos nossos erros
E, sobretudo,
Dos nossos acertos!


14.Dez.2015