quinta-feira, 23 de abril de 2015

Adeus


Adeus. Vai dizer adeus.
Sabe-lhe os segredos. Todos.
Sabe-lhe também as vontades, as ansiedades. E com isso, tornou-se vulnerável aos seus olhos.
Conhece todos os que há dentro dele. Todos os dias uma história que são tantas como tantos os que existem nele.
Descobre-o, aos poucos, dia após dia. Cada hora tem uma marca e um deles que aparece.
E ele sabe que ela sabe. E ela sabe que ele sente.
Contudo jogam, um inebriante jogo de palavras, de confissões que, sempre diferentes, acabam por os unir ainda mais.
Gosta das vidas que há dentro dele. Gosta de o saber diferente. A cada hora.
Ela sabe-o em cada abraço que a prende.
Ela sente-o em cada beijo que lhe oferece.
Vai, por isso, dizer adeus.
Adeus às vidas que viveu. Aos amantes a quem já se deu.
Adeus ao que já foi. Dividida por tantas que é.
Ela é como ele: carregada de vidas, de eus que se criam a cada novo passar de capítulo. A cada virar de página.
Ele é como ela.
E ela ama-o como toda a força que o corpo tem. Com todo o desejo que daí advém. Com todo o sufoco que pode trazer um respirar.
Adeus. Vai dizer adeus e viver a vida que até aqui viveu (de si) repartida.
 
 
26.Fev.2015

Desejo e corpo


Desejo
Que me invade o pensar
Com a lembrança
Do teu, intenso,
Beijar.
Que se revela na pele,
Arrepiada,
De o teu toque imaginar,
Por estar a deslizar.

Corpo
Que reage,
Em gotas de ânsia
Por me abrir
E te imaginar
A me tomar,
A me possuir.
Que pelas mãos percorrido,
Pelos meus dedos
Húmidos invadido,
Se contorce num
Gemido que grito,
Sem pudor
E com todo o fervor de,
Por ti,
A ti,
Me ter rendido.
 
 
25.Fev.2015

XXVIII Verdade Irrefutável




Trago gravadas na pele todas as vezes que te tive,
Todas as vezes que te pertenci,
Todas as vezes que nos amamos.


22.Fev.2015

Momentos




O dia abandona-se à luz que se vai perdendo no horizonte, escondida pelas núvens que carregam o peso da chuva, como se de lágrimas se tratasse.
 Escurece, a uma velocidade demasiado rápida para o que desejo. Gostava de adiar este momento, eternizá-lo pelo tempo que me desse vontade.
É o momento que mais gosto: o anoitecer. O misturar do dia com o negro da noite. O turbilhão de passos apressados na rotina de uma vida, quase nunca, vivida, apenas corrida.
Parar e olhar. O rio que se detém sob as margens de uma cidade que conta histórias a cada esquina, a cada varanda de uma velha casa por muita gente já habitada.
Ao olhar as janelas dos prédios que se vão iluminando, imagino em que ponto da vida dessas pessoas, se encontram com a minha.
 
Histórias de vida que não são a minha, mas que, algures no tempo, será ou foi.
Há momentos iguais em todas as vidas. Há dores e lágrimas, ausência e saudade. Há alegrias e sorrisos, felicidade estampada nos olhos e nos lábios o doce prazer de amar.
 
É neste momento que a nostalgia me invade. Toma conta de mim aquela sensação que não se descreve de ter saudades do que não tive, do que não vivi, do que já por mim passou e do que aprendi.
 
E a vontade de viver é um crescendo em mim.
E a vontade de amar e ser feliz e de chorar e de aprender é, cá dentro, um desejo em mim.
E a vontade de que o tempo volte a andar é uma necessidade.
 
Regresso, assim, cheia de vida e de novos (ou antigos) sonhos à realidade do meu viver.
Regresso carregada de uma força que me faz mais do que era antes.
E tu, aí, parado à minha espera, na mesma intensidade, no mesmo querer que eu.
E o (teu) amor é algo que jamais me falta!
 
 
20.Fev.2015