quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Olho-me


Olho-me
No reflexo do que sou
Sem perceber o que vejo,
Tentando perceber o que
Os olhos não querem ver.

Olho-me
Imagem reflectida
De uma mulher,
Por vezes sofrida,
De um ser,
Que pode não sentir,
De um corpo que
Demonstra o passar de um
Tempo não parado,
Sempre corrido,
Por vezes guiado sob os pretextos
De uma conduta a ser seguida.

Olho-me
Analisando para lá da figura,
Para lá das marcas que a vida
Faz e que aqui perduram,
Para dentro destes olhos
Que espelham uma
Alma quase sempre perdida,
Rendida aos sentimentos
Imperfeitos de alguém
Que por vezes não vive junto
De gente que a acompanha,
Presa a perfeições de quem já seguiu caminho,
Por recordações guardadas na memória
Do corpo e da pele,
Lembranças gravadas nas histórias
Que fazem a vida
Valer a pena ser vivida.

Olho-me
Procurando-me a essência,
Bem no imo do meu ser,
Bem dentro do meu peito
Onde vai sempre bater
Este coração cheio
De sentires,
De prazer e de chorar,
De viver e de parar,
De receber e de (me) dar.

Olho-me
Analisando-me,
Perscrutando os silêncios do meu pensar,
Fixando os sons do meu me ver,
Encontro-me tranquila,
Consciente do que sou,
Habituando-me à mudança do crescer,
Do evoluir e do aprender,
Do acertar e do errar,
De valorizar o que dou,
De acreditar no que tenho em mim,
No que me faz,
Ser quem sou.


29.Jan.2014

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Há dias


Há dias em que não apetece viver, em que deixar as horas a correr são a opção perfeita.
Ficar imóvel, constante e tranquila perante o passar dos minutos que já não magoam.
Ficar estática, apenas esperando que o tempo passe, sem interferir no seu correr, sem querer o que quer que seja.

Parada. Respirar apenas.
Parada. Sem que os olhos vejam o bom, o mau, as cores. Tudo é a preto e branco. Não! A cinzas que se misturam indefinindo contornos e características.
Parada. Sem que os barulhos da vida inundem os sentidos.
Estagnada. Adormecida. Não! Dormente. Uma dormência que invade cada pedaço de mim. Que me impede de pensar ou de sentir.
Que me deixa indiferente ao que me rodeia. Sim! Completa e simplesmente indiferente. Aos outros. A mim. A ti.
Indiferente ao facto de o corpo ainda respirar, de o sangue ainda correr, de o coração ainda bater e te amar.
Há dias que não custam a passar. Que passam apenas porque têm de acabar...


27.Jan.2013

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Dias e noites iguais




 
O dia vai começando a despontar, devagar, lento, absorvendo e tomando como seu o frio da noite. Não há sons que sejam de vida, que mostrem que a escuridão já não reina, já não assusta de tanta solidão, de tanto silêncio. Não, o dia ainda não nasceu e os seus sons mantêm-se apenas como uma longínqua recordação das minhas memórias.
Os dias são todos iguais, seguidos de noites igualmente repetidas.
Os sons são sempre cadenciados em ritmos monótonos de repetições infinitas: silêncio, chilrear, passos a caminho do emprego, risos e brincadeiras até à escola, campaínhas freneticamente carregadas sob a esperança de um abrir de porta para o som metálico das caixas do correio invadir o hall da entrada, telefones secretária a disputar com o típico toque de chegada de mail, os talheres em mesas postas e levantadas num frenezim que se sucede, de novo os telefones, o bater de portas de carros, as conversas sempre resmungando do dia, da escola, do chefe, o bater da colher de pau na panela e a varinha (pouco) mágica, as notícias sussurradas perante o (surpreendente) espanto de mais uma catástrofe, silêncio...
Não há mudanças nos sons dos dias. Para mim há apenas a forma como faço a interpretação dos sons.
Há dias em que o dançar das folhas das árvores me fazem viver.
Há noites em que a ausência do teu respirar me faz morrer.
Há dias em que o cair da chuva impede o tempo de passar.
Há noites em que o calor do teu corpo me faz acreditar que é possível sonhar.

Há horas em que me sinto apenas e somente a (sobre)viver!
 
 
22.Jan.2014

Sabes quando

 

Sabes quando te olho
E vejo apenas o sentimento
Que nos uniu,
Que em nós perdura,
Que se demonstra
No teu toque de ternura,
No teu beijo que me devolve
O respirar ao final de um
Dia que lento passou
Sem que o tempo
Fosse uma ajuda.

Sabes quando deito a cabeça
No teu peito e ouço
O teu coração bater,
Bombeando esse sangue
Que é vida em ti
E desenho na tua pele
Contornos deste imenso
Desejo que sinto por ti.

Sabes quando me inundas
De sonhos perfeitos
De realidade
Que vivo dia-a-dia,
Sob a égide do teu sorrir,
Sob a vida vivida
De verdade.

Sabes quando me entrego
Nos teus braços
E os teus dedos me descobrem
Novos ou eternos recantos,
E o teu cheiro me inebria,
E o teu sabor me invade
Não há melhor sentir
Que este,
Quando o corpo se abre
E te recebe no ventre,
Fazendo-te meu,
Trazendo-te para dentro,
Fundindo-se em mim.

Sabes que te amo,
Que te quero para sempre
Assim,
Pertencendo-te
E tendo-te para mim.
 
 
17.Jan.2014