quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Recantos

 

Recantos
Guardados nas curvas
De um corpo que
Deseja,
Sente,
Anseia.
Recantos
Descobertos ao passar
De uma mão
Desejosa de toque,
Despertando,
Arrepiando
Esta minha pele.
Recantos
Percorridos pela boca
Sedenta do gosto
Do querer da entrega,
Do gotejar do amar,
Do jorrar do prazer.
Recantos
Teus,
Em mim!
 
07.Janeiro.2014

A espera




A espera permanece,
Incólume ao passar do tempo,
Sem noção do que o coração sente,
Alheia ao crescer do tormento
Que é a ausência,
Do som do teu corpo
Passeando em forma de abraço
Por esta pele
Quente, de desejo,
Arrepiada pela vontade
De sentir o paladar do teu beijo
Deslizando por mim,
Encontrando recantos,
Aumentando o frenesim.
A espera permanece
Gravada neste corpo
Desde a hora em que me despeço
Do teu cheiro no leito,
Onde acabamos de acordar
De uma noite onde o luar
Não se fez notar,
Onde apenas o teu olhar,
Carregado de vontade
Do meu gosto provar,
Do meu corpo tomar,
De me pertencer,
De me penetrar,
De prazer me fazer
Gemer, gritar,
Ansiando pelo momento,
Desesperando por de novo te ter
Deitado ao meu lado,
E voltar-te amar
Desenfreada e loucamente,
Calma e docemente,
E, no fim, em ti adormecer
Para de novo acordar,
Para de novo te esperar!
 
 
07.Janeiro.2014

Fugir



Não há forma de fugir,
Escapar ao destino,
Nem sequer de o iludir,
Desviar-me do caminho.
 
Tentar escapar
Ao meu maior desejo,
É ilusão do pensar,
É cobrir-me de pejo.

Entrego-me sem pudor,
De alma lavada,
O rosto cobre-se de rubor,
Quando a boca é beijada.

Deixo a roupa cair,
No chão fica espalhada,
E o corpo a reagir,
Sob a forma da pele arrepiada.

E o teu toque é sensação
Maior que já senti,
É como perder o chão,
E entregar-me e confiar em ti.

É dar-me por completo,
Num momento tão intenso
Em que o prazer é repleto
De um amor imenso!
 
 
 
06.Janeiro.2014

Chove


Chove.
Caiem gotas de água de um céu tomado pela noite negra, vazia de cor, de gente e de sons. Só o som inconstante desse gotejar caindo e embatendo no que vai aparecendo na seu caminho. Só os desenhos de pequenos cursos de água, unindo-se, fortalecendo-se e engrossando o caudal na calçada da rua, sendo está a única forma de se perceber que o tempo passa, que não se trata de uma imagem parada, estagnada no tempo.
Chove.
E o silêncio não se quebra, não se perde, não deixa de imperar aqui dentro. No aconchego destas paredes. No quente deste leito onde o corpo se deixa cair. Onde há marcas de vida, desenhada em cada ruga deste lençol. Onde há odores de corpos amados no desarrumo do edredão. Onde há gemidos, guardados como tesouros, na fronha das almofadas.
Chove.
E a presença da tua ausência não se sente, não me invade de penas e tristeza. Apenas a saudade do teu toque, do som dos teus beijos, do saborear das tuas palavras sussurradas no meu pescoço. Momentaneamente. Apenas num lapso de tempo, num cerrar de olhos que logo se esfuma dando lugar às memórias tão vivas em mim, quase palpáveis.
Chove.
Mas é lá fora. Aqui, estás mais presente que nunca. Tu preenches-me por completo. Tu habitas-me por inteiro, ocupando cada espaço em mim, cada pedaço, cada poro da minha pele! Tu invadiste-me o corpo e a Alma, o ventre e o coração, o prazer e o pensar! Tu és vida em mim e, enquanto assim for, viverei, alimentar-me-ei de ti.
E não há chuva que te limpe, que te dissolva de mim!


05.Janeiro.2014