sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Abandono




Hoje abandono o corpo
Ao sabor de uma cama fria,
Condizente com a noite,
Sem gente, vazia.
Um abandono sem resistência,
Sem a luta que se impõe
Pelos desejos e quereres,
Pelas vontades loucas,
Intensas dos prazeres.
Um corpo largado,
Sem que obedeça ao pensar,
Como se tivesse deixado,
Por vontade unicamente sua,
Que o coração ficasse parado,
Inerte, sem o sangue bombeado.
Uma pele outrora quente,
Hoje mais que arrefecida,
Hoje insensível,
Adormecida,
Num torpor que me controla,
Que sempre sinto na tua ausência,
Que a alma me desola,
Que me sabe a penitência.
Hoje abandono o corpo,
Até que chegues e me aqueças,
Até que venhas e me invadas,
E o meu corpo,
Por ti, renasça.
 
12.Nov.13

Não há lágrimas em mim



Não há lágrimas em mim.
Secaram com os sonhos
Nunca cumpridos,
Com as vontades
Nunca realizadas.
Escoaram com a desilusão
De um viver,
Não pleno de alegria,
Mas carregado de um pesar
Que nos vai invadindo,
Controlando o pensar.
Esgotaram de tantas e tantas noites
Plenas de solidão,
Companhia desse silêncio
Dono das horas demoradas
E carregadas de incompreensão.
Não há lágrimas em mim.
Tantas vezes vertidas
Em nome de um querer,
De um batalhar,
De um insistir e um lutar
Que acaba por nos vencer,
Que acaba por nos derrotar,
E nos faz desistir,
Acabar por não acreditar.
E cairam,
E voltaram a cair,
Salgadas,
Escorrendo por este rosto,
Espelho do desalento,
Do resignar a um sentir
Que dói,
Magoa cá dentro.
Não há lágrimas em mim.
Acabaram
Como acabou o desistir,
Como terminou o não sonhar,
Como findou o não querer viver.
Contigo, por ti,
Voltei a sonhar,
A sorrir e a querer,
A desejar e a almejar
A felicidade,
Intensa e contagiante,
Que é voltar
A amar!
 
 
9.Nov.13

Desliza




Dispo-me
E a roupa torna-se solta,
Desliza
Na pele que se arrepia.
E o corpo cede,
Desliza
Pelo cetim frio de um leito,
Vazio,
Sem companhia.
E a mente vagueia,
Imaginando que a tua boca
Desliza
Quente pela minha
Num beijo tem o teu sabor.
E a minha mão é a tua,
Desliza
Pelos seios,
Brincando nos mamilos,
Excitando-me os desejos e,
Desliza
Desde o ventre até ao meio
Das pernas entreabertas.
Já o corpo estremece
Nessa ansiedade pelo toque
Que antecede a expectativa
Da tua entrada,
E os meus dedos são os teus,
Deslizam
Para dentro de mim,
Ousados,
Ritmados,
Recordando-me de ti,
Assim,
Deslizando
Forte e bem fundo,
Tomando-me,
Domando-me,
Fazendo-me ceder
A este imenso prazer,
Que sinto,
Mesmo que apenas no lembrar,
Te pertencer.
 
 
8.Nov.13

Aguardo



Aguardo
Que o tempo passe,
Suave e lentamente,
Que me embale
E me faça adormecer,
Sonhar.

Aguardo
Que o meu leito,
Frio e vazio,
Aqueça,
Se torne cheio desse calor,
Que só se sente
Quando o coração,
Em ebulição,
Ferve de amor.

Aguardo
Que o teu corpo
Se junte ao meu,
Que os lençóis sejam soltos,
Se evadam das nossas peles,
Nos libertando de pudores,
E, que sem receio,
Sejamos amantes,
Descobrindo a cada dia,
Novos gostos, novos sabores.

Aguardo
Que o meu corpo
Seja trabalhado
Com os teus dedos arrepiado,
Com as tuas mãos apertado,
Com a tua língua saboreado,
Ao correr do teu tempo,
Das palavras segredadas,
Dos desejos anunciados,
Relevados
E concretizados.
 
7.Nov.13