A manhã vai esgotando o tempo demasiado curto que lhe resta, tentando abrandar e assemelhar o seu ritmo ao do movimento na rua. Quase nulo para um dia de Sábado com sol. Quase inaudível, sem o som do vento nas folhas já a ficarem com as tonalidades de um Outono que sinto precoce. Sem a música dos pássaros e do chilrear forte aquando de uma luta pela posse de umas migalhas de pão que um transeunte habitualmente lhes oferta.
Não há sons de crianças ou passos de gente que passa marcando a sua presença nas pedras da estrada.
Há um som que reina, de forma imperceptível, impondo-se a cada minuto, a cada segundo e fazendo a sua vitória: o vazio de um dia quase parado, quase sem vida, quase morto desse fervilhar de gente que corre a contento da azáfama da vida.
Aqui, dentro do meu quarto e do meu peito, não há diferença, som que não se assemelhe: tudo transborda de um silêncio de horas mortas, passadas sem que tivesse oportunidade de as controlar. Sem que tivesse vontade de as parar e lhes alterar o rumo, pressinto, há muito tempo traçado.
Há manhãs assim, em que o corpo se converte ao desleixo e se compromete em deixar que o vazio, o silêncio e o tempo possam passar sem que o queira apressar.
Há dias em que apenas não quero pensar, desejar ou sonhar.
Há dias em que nada me faz querer viver, apenas respirar e sobreviver, rendida ao que não posso controlar...
14.Set.13