domingo, 14 de julho de 2013

Já vivido


Há noites que duram mais que as horas lentas em que a Lua vai reinando. Noites em que as estrelas não brilham e não nos alimentam os sonhos de desejos quase inconcretizáveis.
E a noite prolonga-se muito para lá dos minutos em que a escuridão se manifesta.
Muito para lá das luzes dentro das casas de quem não dorme com o calor que abafa os corpos.
Muito além do fechar dos olhos e viajar para Mundos únicos onde as cores são criadas ao sabor de contrastes doces e suaves jamais vistos, onde o cheiro das flores é viciantemente inebriante, onde os frutos nos matam a sede com paladares e texturas jamais provados, onde o nosso sentir se enche de tudo o que nos faz bem à Alma.
Mas eu, aqui, dentro destas paredes que me rodeiam não sonho assim. Aqui a noite é estranhamente prolongada e sem luz, sem sonhos feitos telas de pintura.
A minha noite é feita de ausência e solidão, de tristeza e de lágrimas, de saudades de um amor que já me fez sonhar, como os que vêem as estrelas junto à Lua sempre a brilhar...
8.Jul.13

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Dicionário de Coisas Simples XVII


E o desenhar?
O desenhar é a ponta do teu dedo
Deslizando,
Descobrindo novos contornos
No arrepiar da minha pele.

E o pintar?
O pintar é o alagar da pele
Por entre gotas salgadas
Em peles salivadas
Por línguas molhadas
Desse néctar que jorra
Do nosso prazer.

E o apagar?
O apagar é a tua mão
Empurrando e juntando
Todas as gotas de suor salgado,
Testemunhas da entrega dos corpos.


1.Jul.13

domingo, 7 de julho de 2013

Dicionário de Coisas Simples XVI



E o prender?
O prender é fechar os lábios
Molhados de um beijo teu
E saborear até a boca secar.

E o soltar?
O soltar é deixar o corpo
Seguir-te os movimentos,
Cadenciados e ritmados
Ao sabor do teu tempo.

E o suspender?
O suspender é deixar de respirar,
É fazer o tempo parar,
É prolongar o espasmo dos corpos
Suados acabados de se amar.


1.Jul.13

Relembrados


A noite já caiu e cobre o céu com inúmeros pontos estrelados. Vejo neles os minutos que passam, lentos, imensos e idênticos a todos os outros que já passaram e que se misturam de forma demasiadamente imperceptível.
Lá fora há sons que são de Verão, de longínquas músicas de uma qualquer festa numa qualquer localidade devotos de um qualquer santo. O fogo de artifício vem tingir o negro de cores de sonhos que se desejam e se perdem no ar, no cair da cana, no estourar de outro foguete mais pujante e colorido e as crianças, eufóricas, gritam e riem com um entusiasmo quase contagiante.
Cá dentro o calor desfaz-se vagarosamente na doce e suave brisa de cheiro a funcho e alecrim. Rendo-me ao seu toque e deixo que a minha pele a receba sem receio, sem roupa que a prenda e sinto-a afagar-me refrescando-me.
Os pensamentos estão longe, afastados da diferente rotina de um Domingo à noite. Estão nas lembranças do teu cheiro, nas recordações do teu beijo, no sentir dos teus dedos, no desejar do teu querer. Encontram-se com as estrelas e com elas se desvanecem, sonhos vividos e não repetidos, sonhos trocados, substituídos, mas a cada noite, sempre e eternamente, relembrados...
 
 
1.Jul.13