terça-feira, 26 de março de 2013

Perder-me

Perder-me.

Perder-me de mim,
Sair da mente que pensa demasiado.
Sentir.

Sentir apenas com a pele
Que se arrepia ao libertar-se das vestes.
Enebriar-me.
Enebriar-me nos odores que te identificam,
Que são apenas teus.
Deliciar-me.
Deliciar-me com o sabor dos teus lábios
Que se abrem num beijo,
No gosto da tua pele
Salgada depois de amada.
Excitar-me.
Excitar-me sob o controlo das tuas mãos
Deslizando no meu corpo,
Abrindo caminhos,
Invadindo-me a carne.
Entregar-me.
Pertencer-te.
Dar-me.
Receber-te.
Adormecer-me.
Adormecer-me no teu abraço
Por entre os lençóis onde nos amamos.

22.Mar.13

Frio


O frio mantém-se em mim de uma forma mais que permanente: cresce, aumenta, não cessa de avolumar, de me dominar, de de mim se apoderar.
Um frio que nem as flores conseguem dissipar, que nem o sol é capaz de evitar deste se agigantar.
Um frio que é saudade, ausência, falta.
Falta do teu gargalhar, do teu abraço ao deitar, do calor do teu corpo que faz adormecer num sono descansado, sem medos e sem o constante e sobressaltado acordar...
Faltas-me mais do que podes imaginar.

21.Mar.13

Indiferente à vida


O corpo desperta de um torpor que chega ao fim, numa cama deserta de calor onde os lençóis retêm o frio de um qualquer fim.
Pela janela pressente-se que o dia acordou sereno e sem pressa sob a égide de um dia quase de Primavera onde os pássaros reinam nos ramos das cerejeiras de jardim e das ameixoeiras carregadas de frágeis flores de cores suaves e que se entregam ao vento ainda gelado.
Espreito o mundo lá fora e não há nada de novo e as pessoas são as mesmas: invisíveis para as outras, indiferentes a quem passa e desinteressadas por quem passam. Algumas esboçam sorrisos genuínos ou da cor de um pálido sol quando se cruzam com um rosto mais ou menos íntimo, dependendo do número de vezes que se cruzaram na paragem do autocarro ou no singelo e solitário café da manhã no balcão de uma qualquer pastelaria.
Mas os rostos não são doces, são amargos de dias sempre iguais e em que rodeados de outros rostos exactamente iguais, são únicos e solitários neste passar de horas e compassos e hábitos e rotinas sempre repetidos.
E eu olho pelo vidro da janela e vejo o reflexo de mais um rosto que quando chegar à rua, será mais um igual ao resto.
E o dia passará indiferente à vida que é possível viver...

21.Mar.13