sexta-feira, 25 de janeiro de 2019
Tomara
Tempo de dormir, a noite já vai longa e a lua esconde-se por trás de nuvens.
Lá fora o vento canta a sua melodia por entre as folhas das árvores de forma suave e ritmada. Traz consigo o doce cheiro das belas-donas e eu fecho os olhos e consigo imaginá-las, com o seu pé longo brotando do solo, sem qualquer folha e a flor em forma de copo, com o seu cor-de-rosa forte no exterior e um risa pálido no interior.
- "São as flores do fim de Verão, significa que está quase a chegar a próxima estação" - dizia-me a minha mãe.
Sabia tudo sobre flores, desde as cores, os cheiros, o tempo de florescerem e ensinou-me isso e tantas outras coisas sobre tudo.
Tomara eu ter aprendido tudo o que me ensinou sobre a vida como aprendi sobre flores.
Tomara eu ser assim sábia.
Tomara eu ter dado mais atenção às palavras que me dirigia naquele tom condescendente que só as mães têm.
Tomara eu ser metade da mulher que ela foi pois a vida não foi meiga para com ela. Foi dura, cruel até, principalmente nos últimos anos. E não é assim que te quero recordar. Por isso, sempre que, em noites como esta, o cheiro das flores da época se fazem transportar pelo vento, eu fecho os olhos e vejo as flores em cores vibrantes e depois vejo-a, com os mais brilhantes olhos azuis, a fitarem-me e, num tom sério dizer-me: "eu amo-te minha filha, mesmo quando deres um passo em falso. E é por te amar assim tanto que vou sempre dizer-te quando errares."
Tempo de dormir e de lhe dizer que sou falha, mas que tento, todos os dias, ser mais igual a ela. Porque a nossa mãe é (quase sempre) perfeita.
Cat.
2018.09.09
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