E o que foi? Um olhar que me penetrou, Um sorriso que me seduziu e Um abraço que me conquistou.
E o que é? É um sentir que não se explica, Que me faz sorrir e Viver como nunca, a cada novo dia!
E o que será? Um sentimento que nos faz ser um só e que durará... Até um dia, Durante um mês, Mais que um ano... Mas que desejo, Seja para toda a vida!
Hoje preciso de silêncio... Daquele silêncio que nos invade por
completo, como se mergulhássemos no mar, num lago, numa núvem – nunca
mergulhei numa núvem, mas imagino que o silêncio será idêntico. Não quero fechar os olhos. Apenas quero silêncio. Não quero o burburinho da cidade, com os passos das pessoas que correm ou se passeiam olhando o rio.
Não quero ouvir o passar das águas deste rio que me acompanha há anos.
Quero o seu silêncio, a sua serena companhia, na revés da maré. Não quero ouvir chamar o meu nome. Não quero o telefone a receber mensagens. Não quero o frenezim dos carros a passar.
Apenas preciso de silêncio. De estar comigo. De sentir que o peso da
vida, das responsabilidades, dos (des)acertos, do corpo desapareçam por
momentos.
Quero sentir-me leve. De corpo e alma. Quero deixar-me ir, fluir sem pensar, descansar de tudo e de todos.
Preciso de me encontrar no meio de todo este barulho que me afasta do
que sou, do que quero. Já nem consigo saber o que sou, ou sequer o que
quero. Preciso apagar este ruídos de todos os limites que me são
impostos. De fechar este fluxo doentio de (parecer) fazer, (parecer) ser
o que querem que sejamos. Do politicamente correcto. Do socialmente
aceitável. Do que somos à frente dos outros e do que somos no nosso
íntimo.
Fugir da hipocrisia, das falsas moralidades, dos
(pre)conceitos, das mentiras, do egoísmo, mas sobretudo, dos egos de
gente que não é mais gente que eu.
Preciso de silêncio para que no
meio destes gritos consiga chegar ao meu eu. E voltar a acreditar que,
em algum momento, todos temos algo de bom cá dentro...
Ela. Aguarda-o com a ansiedade típica de quem se encontra pela primeira vez. Chegou antes da hora marcada, não fosse o trânsito ou algum telefonema ou o calor (!) atrasá-la.
Deambula pela rua, ora para cima, ora para baixo, no passeio contrário
ao do café onde se vão encontrar. Olha as montras mas o que vê é apenas o
seu reflexo e atenta em mais um pormenor no vestido e alinha o decote.
Ou limpa o canto da boca marcado pelo batom. Ou afasta os cabelos do rosto e os prende atrás da orelha. Ora
verifica uma vez mais o telemóvel com o receio de uma mensagem que a
desiludiria por completo: “Não posso ir.”, “estou preso numa reunião”,
“a minha...” e trava o pensamento e pensa em outra qualquer palavra que a
fizesse sentir mal por ter concordado com este encontro. Decide
entrar, sentar-se e pedir um café. Ou uma água. Algo que ajudasse o
tempo a passar um pouco mais depressa. Algo que a fizesse abrandar o
turbilhão de pensamentos que emergiam na sua mente. De todos os “ses”
que surgiam no seu pensar e que a faziam quase desesperar. Não era a primeira vez que passava por isto. Um encontro, quase às cegas, com ele. Com aquele homem que a fez, em tempos, suspirar de amor, de desejo, como hoje. Ainda ponderou a sua presença neste encontro: o receio de o voltar a perder sem nunca, efectivamente, o ter tido.
Sem nunca ter sentido o sabor da sua boca, o toque da sua pele, o odor
do seu corpo. E como havia sonhado com isso. Antes e hoje.
Compreendeu que o facto de ser casado e de na altura ele considerar que
ainda amava a esposa, o tivesse feito recuar naquele dia. Naquele
encontro onde afirmariam o que os unia. Compreendeu que há laços difíceis de quebrar por uma paixão incerta como a deles seria; que não é
para todos largar o seguro mesmo que pouco feliz, pelo incerto. Compreendeu-o na altura e compreende-o agora que já não é casado, que já não tem laços difíceis de quebrar.
Compreendeu-o no dia em que voltou ao seu contacto e lhe disse que
tinha a vida resolvida para ficar com ela. Assim, de chofre, sem avisos
prévios, sem saber nada dela. Assim, hoje está no mesmo filme que há uns anos atrás: apaixonada e desejosa pelo encontro.
Pergunta-se como podem querer olhar-se de novo nos olhos. Pergunta-se
incrédula, como é possível estar de novo assim, por aquele mesmo homem.
E, por entre os bebericos de café, sorri a pensar no seu sorriso, no
seu olhar intenso, quando os seus olhos focam uma sombra, à porta. “Parado, ele ficou parado à porta...” – pensa. O medo, esse, volta ao seu rosto.
Mas tudo passa quando aquele homem entra e se dirige a ela com o
sorriso que sempre lhe conheceu. Sorriso esse, apenas ausente no dia em
que o ia ter...
Ele
Não dormiu toda a noite e o dia
demorou horas a mais a passar: a ansiedade de voltar a revê-la tomou
conta de si. E não é habitual perder o domínio de qualquer situação e
muito menos do seu pensamento. Mas ela, ela sempre o fez perder-se.
Mais que o corpo e as formas voluptuosas era o sorriso e o humor
sarcástico que o cativou nela. Era uma mistura de menina desprotegida
que vira leoa, que sabe o que quer. E ele não sabe explicar como se
apaixonou assim, de forma tão perdida por aquela mulher. O
pensamento fluía de forma desconexa e sem qualquer sentido: ora pensava
no que tinha sido, ora imaginava o que poderá ser. Mas de uma coisa
estava certo: quere-a, como jamais quis alguém, como jamais voltará a
querer. Hoje sabe que não há como ela e que não vale a pena fugir ao
destino. E ele é dela. E quere-a com toda a certeza que alguma vez poderá ter.
Sabe que ela é especial e que já perdeu demasiado tempo. Mas tempo
necessário para que tomasse as decisões certas e forma consciente.
Sabe que correu riscos demasiadamente grandes ao deixá-la, anos atrás,
numa mesa de café, destruindo todas as promessas de amor que trocaram. O
medo de trocar o certo pelo incerto dominaram-no. A verdade é que
não teve coragem de deixar um casamento, que apesar de morno não era
mau. Era um porto seguro, com uma mulher constante e serena. Mas
infinitamente menos interessante. E não, não se tratava de sexo pois
nunca chegaram a isso. E esse é um dos seus maiores arrependimentos:
podia tê-la f@dido e não pensava mais nisso! Não precisava de ter-se
agarrado à imagem daquela mulher e do quanto ela o fazia sentir. Um
misto de tesão, de a querer de forma intensa e de protecção, de um
carinho imenso ao mesmo tempo. E foi isto que o assustou. Agora,
passados estes anos, está ali, no lugar combinado, à porta do café, a
pensar se ela ainda o deseja como antes. Mas ao vê-la, sentada, com a
silhueta marcada pelo vestido e o seu batom preferido, percebeu que
jamais a deveria ter deixado. E avança com a certeza que é este o seu futuro. Pelo menos por hoje.
Ela ama com toda a intensidade. Não sabe ser mais ou menos, comedida, morna. Ama com toda a sua paixão. Num extremo que poucos entendem. Num dar-se que não é vulgar. Não teme não ser amada: sabe que quando ama, ninguém a "desama". Quando não está para amar é que a deixam de amar. É quando mostra que pode ser pior que os piores. Sarcástica e acutilante no auge. O epítome da (quase) crueldade... Não, cruel não é. E má também não. Apenas gosta de obter reações intempestivas. Como ela. Que lhe mostrem o que sentem: gritem ou beijem, amem ou odeiem, mas com tudo o que têm dentro. Com tudo o que são. Como ela é: de extremos. Complexa. Mas de sentires. De sentires como forma de viver. Porque só sentindo se está vivo e se pode viver. Seja bom, ou seja mau. Viver, sentir, doer, amar, chorar e sorrir. Ela é assim: cheia de intensidades. À flor da pele.
Ele.
Ele ama-a a assim: intempestiva. Porque os beijos são únicos e porque o desejo é de ardor que quase queima a pele. A luxúria faz parte do nome dela. E ela, ela f@de-o como ninguém. É única a entrega. É sempre diferente: ora domina, ora é dominada. Nunca sabe o que dali esperar. Mas é mais que isso. É mais do que o toque na pele. Do que o sabor da boca. Do que o maravilhoso sexo. É o sorriso. É o abraço. É a companhia. É o seu mau feitio, que é de (quase) arrancar os cabelos. Ela é uma montanha-russa: nunca sabe o que esperar dali. E isso tanto atormenta como encanta. Ela é uma surpresa diária. Um sorriso de anjo que esconde um diabrete. Mas ama-a assim, num rodopio constante de sentires.
É o que faz com que o sangue lhe corra nas veias com essa força vital
que é desejar viver! Desejar amar e ser amado desta forma única!
Vou soletrar-te cada palavra Escrita para ti. Será como um livro, Escrito em todo o teu corpo. Em cada poro O descrever de um toque, Na tua boca Uma ode aos sentidos E no teu sexo, Ai no teu sexo, Um compêndio do que é Luxúria e prazer. Descrever-te Cada orgasmo partilhado, Cada espasmo do meu corpo Com o teu abraçado, Cada detalhe do teu sabor Para sempre guardado No meu paladar. Inebriar-te com o som lânguido De quem se quer deixar Aventurar no teu tomar, No teu apoderar, No teu penetrar... E assim, No culminar do prazer, Dentro de mim, Te fazer jorrar.
“Inundar-te uma e outra vez” - Sussurras-me ao ouvido. A face ruboriza, num misto de vergonha e de excitação. E o olhar fixa-se nos teus olhos, Na tua boca entreaberta E o teu hálito chega até mim, Quente e húmido. Na minha mente, nada mais do que O quanto desejo provar a tua língua. O respirar torna-se desritmado, Fazendo-se sentir mais forte. O deslizar dos teus dedos na pele Arrepia-me e, Sob a blusa os mamilos tomam forma, Prenúncio do quanto te desejo. Já não me interessam os preliminares, Já não fazem qualquer sentido... Já só te desejo perceber O sabor, O toque, O quanto de mim podes obter... E eu quero dar-me. Toda. Por inteiro. E eu quero receber-te. Todo. Por inteiro. E de ti inundar-me. Uma e outra vez...
Imersa no suor dos nossos corpos Que ora lânguida ora sofregamente Deslizam, Esfregam, Roçam um no outro. Molhada pelo salivar do Teu beijo, Da tua língua que me prova o sal, Que me prova o sabor do sexo Excitado pelo teu (Tão perfeito) Toque. Abrir-me e receber-te, Sentir-te pulsar dentro de mim, Tomares-me toda Num todo carregado de sentires, Cheia de ti. Estremecer, arrepiar, Gemer, gritar, E, Num momento único, Dar-me-te, Inundar-te de mim, Num intenso orgasmo, Que me abala, Uma e outra e outra vez!
Rendo-me Ao som da tua voz, Que comanda sem piedade.
Sou tua De corpo e alma, Neste jogo que se perpetua Enquanto o desejo se fizer sentir.
Pertenço-te Como se não tivesse vontade, Como se só importasse O teu prazer, o teu querer.
Só tu tocas, Só tu beijas, Só tu provas O sabor do meu corpo, Ao teu ritmo, Onde apenas sou Objecto, Sem qualquer direito.
Mas esta minha, Aparente submissão, É mera ilusão, Pois este é o culminar De uma entrega Única, Difícil de igualar.
Aguardo, No auge da excitação Pela minha libertação, Momento louco Em que te beijo, Em que te tomo Dentro de mim E te devoro, E num ritmo alucinado Num instante, Em ti... O êxtase de um orgasmo!
A
manhã já se mostra lá fora com o sol ainda tímido para um dia de final
de Julho. Talvez por isso os pássaros prolonguem o seu cantar até mais
tarde, fazendo uma banda sonora descompassada mas que me embala. É
Domingo e o som das pessoas na calçada não perturba esta sinfonia.
Cá dentro do quarto, apesar do fresco do dia, há um calor que me preenche, que me enche a Alma e o coração. O calor do teu abraço, do teu me querer e do teu me amar.
Olho-te, ainda dormes e consigo perceber nas poucas linhas do teu
rosto, nos poucos cabelos grisalhos, como o tempo quase não passa por
ti. E recordo o momento em que te reencontrei e te revi. E como tudo em
mim estremeceu e eu soube, nesse preciso momento, que por ti, de amores,
me perdi.
Olho-te e percebo que hoje, passados estes anos, te
amo mais do que antes. Que apesar da rotina dos dias sempre iguais, das
coisas chatas que nos aborrecem, das ideias que nos fazem diferentes,
dos ideais que nos separam, é assim que eu te amo.
É por isso que eu te amo cada vez mais. É por isso que és tão perfeito para mim.
Porque me aceitas como eu sou: perfeitamente (im)perfeita!
Hoje, não vou deixar de te dizer o quanto me fazes feliz.
Hoje e todos os Domingos até ao fim da minha vida.
Yeah, I'm a fighter and I made it through Solid gold survivor, that's my attitude But I didn't know (I didn't know) I didn't know (I didn't know) That I had to be your hero Baby, don't ask me to be strong for you as well Pushed off the edge and now I'm back from hell But I didn't know (I didn't know) I didn't know (I didn't know) That I had to be your hero
(So give me light) I'm not built to carry us both (So give me light) Time to rest my weary bones (So give me light) You've got to find your own road Help me see
Just when I thought I'd had enough And no more light and no more love It's not over It's not over I won't save you when I'm weak Only got so much left to give It's not over It's not over
Til I'm done Oh-oh, oh-oh, ooh Oh-oh, oh-oh, ooh Oh-oh, oh-oh, ooh Til I'm done Oh-oh, oh-oh, ooh Oh-oh, oh-oh, ooh Oh-oh, oh-oh, ooh Til I'm done
You look at me and see how much I take But with this heart of glass, I'm about to break But I didn't know (I didn't know) I didn't know (I didn't know) That I had to be your hero
(So give me light) I'm not built to carry us both (So give me light) Time to rest my weary bones (So give me light) You've got to find your own road Help me see
Just when I thought I'd had enough And no more light and no more love It's not over It's not over I won't save you when I'm weak Only got so much left to give It's not over It's not over
Til I'm done Oh-oh, oh-oh, ooh Oh-oh, oh-oh, ooh Oh-oh, oh-oh, ooh Til I'm done Oh-oh, oh-oh, ooh Oh-oh, oh-oh, ooh Oh-oh, oh-oh, ooh Til I'm done
Whatcha think you ever did for me before? (So give me light) Block out the sun and let the moon fall on the floor (So give me light) I am empty, ain't got nothing left to give (So give me light) And no you ain't the one I wanna be with (So give me light)
Just when I thought I'd had enough And no more light and no more love It's not over It's not over I won't save you when I'm weak Only got so much left to give It's not over It's not over
Just when I thought I'd had enough And no more light and no more love It's not over It's not over I won't save you when I'm weak Only got so much left to give It's not over It's not over
Til I'm done Oh-oh, oh-oh, ooh Oh-oh, oh-oh, ooh Oh-oh, oh-oh, ooh Til I'm done Oh-oh, oh-oh, ooh Oh-oh, oh-oh, ooh Oh-oh, oh-oh, ooh Til I'm done
É
ao fim do dia que mais te sinto a falta aquando das tuas fugazes e
escassas ausências. Quando não estás há um enorme vazio, um gigante
silêncio que não se colmata com a televisão ligada ou uma conversa ao telefone
com alguém.
Sabes? O chegar a casa e saber-te aqui é como chegar a um porto seguro. O meu porto seguro.
Não é uma questão de hábito, é a certeza de me sentir completa. Partilhando os casos do dia, partilhando as nossas vidas, os nossos ínfimos pensares e sentires. Partilhando-nos por inteiro.
Por isso: não demores pois quero-me partilhar.
Mas mais do que isso, quero-te receber, por inteiro!
Hoje não estás. A chuva lá fora só me recorda de ti. Não, não por se assemelhar a
lágrimas, não. Porque nestes dias só quero deitar a cabeça no teu peito,
sentir os nossos corações baterem num compasso único, como se fosse uma
música nossa, apenas nossa. Sentir o teu odor que me inebria os sentidos e o toque da tua pele quente.
Hoje não estás, mas em mim tens lugar cativo para sempre. Não há
momento em que não te sinta, em que não me recorde em como me habitas:
na pele, nos lábios, na ponta dos dedos, nas curvas do corpo... No meu
coração e na minha Alma.
Afinal estás, aqui, dentro de mim, do que sou e de quem sou. Hoje, agora e sempre.
Hoje só queria o teu abraço. Nada mais que o teu abraço e o tanto que implica. O meu porto seguro. O meu lugar onde tudo que é menos bom não entra, onde só o que é realmente importante tem espaço.
Uma amostra do teu sentir por mim. Um demonstrar que me proteges, que
me desejas nada mais que muito, nada menos que tudo para ti. O
serenar das ânsias corriqueiras que se me deparam no correr dos dias; o
desaparecer dos medos e dos tão infundados receios de falhar. De não ser
suficientemente boa. Para ti e para os outros, mas sobretudo, para mim
mesma. Sim, hoje só queria o teu abraço. E o tanto que implica. Cat. 2018.06.06
No, I don't even know anymore
If I'm sick or I found a cure
Got a fever and a cold sweat
Try to sleep but the sheets are wet
[Pre-Chorus]
You did this to me
When I tried to intervene
Tried to make you stop
Before you went and hurt somebody else
You can blame yourself
And gather dust upon the shelf
You thought you were anyone's
Girl, you ain't having me
[Chorus]
Tried to take my love, oh
I won't give it up, won't give it up for you
You tried to take my love, oh
I won't give it up, won't give it up, no, not for you
[Verse 2]
But you stripped me down
Wore me to the bone
I am hollow now
Nowhere else to go
Running to your open arms
Like you tempt me from the street
I am praying to prodigal
With nothing else to eat
[Pre-Chorus]
You did this to me
When I tried to intervene
Tried to make you stop
Before you went and hurt somebody else
You can blame yourself
And gather dust upon the shelf
You thought you were anyone's
Girl, you ain't having me
[Chorus]
Tried to take my love, oh
I won't give it up, won't give it up for you
You tried to take my love, oh
I won't give it up, won't give it up, no, not for you
Às
vezes perguntava-me como não vi os sinais. Eram por demais evidentes: a
ausência constante, só jantarmos em casa quando recebíamos pessoas, a
falta de interesse em estar em casa e, consequentemente, comigo. Não
sei como não percebi os sinais. Não só estes como todos os outros,
anteriores e que eram um óbvio espelhar de que não pretendia que a
relação evoluísse. Que era perfeito assim, como estávamos, cada um em sua casa.
A verdade é que essa forma de estar na relação já não me chegava. Sim,
eu queria mais. Eu queria a nós, eu queria o nosso ninho. E forcei. Oh!
Se forcei. Sei-o agora que olho para trás e, desprovida dos sentimentos
que me motivam na altura, vejo-o claramente. Pergunto-me como não vi os sinais.
Ou será que vi e, como fazemos quase sempre com o que nos magoa, fechei
os olhos, virei o rosto e optei por não ver. Por não interiorizar. Por
não assimilar. Assim, de forma tão egoísta quanto me foi possível, não
teria que tomar decisões. Não teria que refazer todo o plano de vida que
tinha vindo a orientar há tantos e tantos anos. Mas eu perguntei,
sim, se era o que pretendia. Se estava disposto a avançar no nosso
caminho. E apesar de toda a sua postura, de todos os seus sinais, de
toda a sua falta de atitude, os seus lábios diziam algo diferente. E eu quis acreditar.
Talvez da mesma forma que também ele quis. Talvez com a mesma vontade
em não desperdiçar a vida que já tínhamos partilhado e os sonhos da que
viríamos a partilhar. Eu vi os sinais. Estavam bem presentes. Tão presentes que tudo acabou por terminar.
Eu vi os sinais. E foram esses sinais que acabaram por criar um tal
fosso entre nós que era impossível reverter tal situação. Já não havia
ponte que nos unisse. Já não havia vontade suficiente para que ambos
acreditássemos que havia retorno, que ainda havia aquela chama de...
Qualquer coisa, o que quer que fosse, o que quer que lhe chamemos, que
nos voltasse a fazer sorrir em uníssono. Sim, eu vi os sinais.
Estavam lá todos e por medo do desconhecido, por medo de avançar
sozinha, por pena de deixar para trás tantos anos, obriguei-nos a viver
um tormento. Um tormento que não negou, que encorajou e que não sei
os motivos. Talvez os mesmos que os meus. Talvez outros que os homens,
definitivamente, não pensam como nós. E os tormentos não acabam bem. Muito pelo contrário... E a vida é isto: acreditar, construir, insistir, errar e, sem sombra de dúvida, também destruir. E como destruí. Mas também cresci, tornei-me mais segura, independente, forte no meio da minha tão feminina fragilidade. E ultrapassei.
E voltei a amar. Com ainda mais intensidade. Como se não houvesse
amanhã. Como se estivesse a viver o meu primeiro verdadeiro grande amor.
Porque já não fujo aos sinais. Porque os enfrento e corto toda e
qualquer possibilidade de crescerem. Em mim e no meu amor. Em mim e na
minha vida. E se assim não fosse, se não tivesse recusado ver os sinais antes talvez, mas só talvez, não pudesse hoje ser assim feliz. Ou talvez sim. Mas quem sabe?
ELE:
Vejo-te chegar e olho-te por inteiro. É impossível não te olhar
enquanto despes o casaco e desvendas o vestido justo que te adorna as
formas. Os lábios rosados brilham num sorriso que tem tanto de sedutor como de menina. Sorrio-te de volta e apressas o passo.
Os seios, fartos, saltam à vista no decote e enquanto te aproximas
reparo como o frio que se sente lá fora se revela nos teus mamilos.
Beijas-me de forma fugaz, ainda estás com a adrenalina de um dia cheio
no emprego, o teu perfume inunda-me de sensações e, num ápice, relembro o
dia em que te conheci. Em que soube que eras a tal, a mulher por quem
me apaixonei. Os anos passaram por ambos, as vidas mudaram e a
rotina e os problemas inerentes a um casal não foram ausência entre nós,
não somos diferentes de todos os outros. Mas à nossa maneira, de uma
forma ou de outra, lá conseguimos ultrapassar as nossas divergências e
dificuldades. Hoje, ao entrares no restaurante, olho-te e, apesar
de o teu corpo já não ser firme e perfeito, de no teu rosto as rugas já
marcarem a sua presença, a mulher por quem me apaixonei ainda existe.
Eu amo-te por tudo o que és, por tudo o que passamos juntos, por tudo o
que alcançamos e pelo homem em que me ajudaste a tornar. Eu amo-te por
tudo isto. Mas apaixonei-me pelo teu jeito de sorrir, pelo teu doce
sorriso, pela forma como vestes as curvas do teu corpo, pela elegância
com que pegas no copo de vinho e bebericas enquanto me olhas nos olhos. Apaixonei-me e desejei-te como nunca.
Como te desejo agora, neste momento em que falas e eu já não penso em
nada mais que não seja em levar-te para o carro e, como da primeira vez,
devorar-te por inteiro e fazer-te minha. Só minha. Hoje e sempre.
ELA:
Combinamos encontro num restaurante da tua escolha, algo novo e
diferente do habitual. Agora que a vida voltou a ser a dois, regressamos
a hábitos que deixamos suspensos devido a outras responsabilidades.
Estou uns elegantes 10 minutos atrasada e entro no restaurante já a
tirar o casaco e sorrio-te como que meia envergonhada pelo atraso. Mas não estou, foi propositado.
Quis que me visses chegar, com um vestido novo que me realça as (muitas
e largas) curvas do meu corpo. Não me envergonham ainda e sempre fui
roliça, algo que sempre te atraiu nas mulheres. Não trago lingerie e
sei que apesar da idade já se fazer sentir, a lei da gravidade ainda
não chegou aos meus seios que continuam bonitos e, como não te cansas de
repetir, perfeitos. O teu olhar-me diz-me que já reparaste e o ligeiro
sorriso que te agrada o que salta à vista. Beijo-te leve e
rapidamente apenas para que sintas o meu perfume, não o de todos os
dias, mas aquele que me identifica para ti: o teu meu perfume.
Sento-me e inicio o relato do meu atarefado dia, de forma a que não
tenhas oportunidade de deixar de me olhar. Como gosto que me olhes, que
sorrias das minhas piadas, que compreendas a ironia das minhas palavras
; de saber que te prendo a atenção. Mas hoje não é isso que pretendo.
Hoje quero que relembres porque estamos juntos, porque te apaixonaste
por mim. Que relembres e percebas que apesar dos anos, ainda cá está a
mulher por quem te apaixonaste. Hoje preciso de ver no teu olhar
que além do amor que nos une, ainda há paixão. Ainda há tesão e tensão
sexual. Hoje quero, não que me ames, mas que me fodas. E vou dizer-to a meio do jantar, através de uma sms: "Quero que me fodas. Hoje podes fazer de mim a TUA puta!".
O dia há muito que se faz sentir, com uma luz desmaiada de um sol que parece não querer brilhar.
Os pássaros pouco se fazem sentir ao contrário do orvalho que é
presença em todas as folhas de árvore, em cada erva que cresce e beija
em cada flor cada uma das suas pétalas. Como se chorassem, inundadas de
pequenas gotas de água como se de lágrimas se tratassem.
Tal como cá dentro, no meu coração.
Hoje cada gota de sangue é uma lágrima. Uma lágrima de saudade. Uma
lágrima de perda. Uma lágrima que, mesmo ausente da face, não deixa de
fazer sentir, a cada dia, a cada momento, no meu peito.
Sabes que penso em ti todos os dias?
Que me pergunto, se onde estás, me velas e, junto comigo, vives todas as minhas vitórias e todos os meus maus momentos?
Sabes que, ainda agora, é a ti que desejo contar cada passo importante da minha vida?
Que penso se me darias da tua aprovação e se terias orgulho em mim, no que me tornei?
Sabes que quando preciso de um abraço, de carinho, de um colo onde chorar e ficar aninhada é em ti que penso?
Porque não há como o colo de mãe. Não há como o teu colo minha mãe...
E hoje, eu só queria ter-te abraçado mais. Ter sorrido ou ter chorado mais, nos teus braços, no teu colo.
E chegará um dia em que as minhas lágrimas não precisarão mais de se
revelarem, em que as datas se esvanecerão no correr dos dias e em que eu
não precisarei de expurgar-me em palavras escritas. Mas não penses que
nesse dia te esqueci. Não. Jamais. Apenas deixarei de recordar as datas
tristes e passarei a lembrar-te quando para mim for importante.
Porque jamais morrerás em mim.
Porque eu sou parte do que restou de ti.
Porque tu sempre viverás em mim: no meu sangue, na minha Alma e no meu coração.
E o Incrível? O incrível é o sorriso que se abre Quando me olhas, É o beijo que trocamos e me deleita, É o toque dos teus dedos Enquanto me amas.
E o fantástico? O fantástico é o teu corpo encaixar no meu De forma perfeita, Única, De modo a que cada movimento Seja pleno, Intenso e de um sôfrego Prazer!
E o normal? O normal é tudo que de extraordinário Me deste, Me ensinaste, Me mostraste E que comigo partilhaste, Sendo agora, De nós e dos nossos dias, Parte integrante!
Sinto falta de ti. De te saber junto a mim, De sentir que sentes como eu, Como parte de mim. Sinto falta de ti. Da companhia da tua alma Intrinsecamente ligada à minha De forma quase palpável.
Sim, sinto falta de ti. De com um (te) olhar Saber(te) o pensar, O sentir e, mesmo sem falar, Dizer(me) mais que um poema de amor, O quão enorme é o teu (me) amar.
Tenho-te aqui, Junto a mim, nos meus braços, No uníssono compasso do bater dos corações E ainda assim, De forma tão pouco indelével, Sinto falta de ti...
O tempo tudo transforma, Inclusive o amor da nossa vida. Não que nos amemos menos, Não que não nos sonhemos, desejemos ou queremos menos, Não, Apenas, por vezes, nos esquecemos De dizer o quanto (nos) somos importantes.
Sinto falta de ti, Hoje e pela última vez pois Vou dizer(te), Mostrar(te), Dar(te), O quanto (me) és, O quanto (me) fazes sentir Em cada beijo, cada abraço, cada toque no meu rosto.
Sou réstia de raios de sol, Num crepúsculo de Inverno.
Sou brisa no turbilhão de folhas mortas, caídas no chão.
Sou sombra num dia carregado de chuva Que não acaba com a sede.
Sou água salgada de um mar Que já não se atreve a invadir o rio...
Sou amostra do que já fui. Mas ainda respiro, Ainda sonho, Ainda há vida em mim. E amor, Ainda há amor em mim; De mim por ti. Imensurável, Infinito, Inabalável... Até ao meu último sopro, Até ao meu último bater do coração.
Tento escrever, todos os dias tento, mas nada sai... Um rodilho de palavras que rimam de forma fraca e forçada. Como tudo em mim: fraco e, muitas vezes, forçado. Sim, forçado... O levantar, o trabalhar, o comer, o sorrir e o falar: forçado. A vontade desapareceu de mim. Como se vivesse porque apenas respiro. Como se estivesse perdida perante a inexistência de oportunidades, de desejos ou vontades. Como se viver fosse quase uma obrigação, um martírio.
E quando olho vejo uma vida que me deveria fazer sentir feliz: um
emprego que me permite viver acima da média, com capacidade de compra,
com jantares em restaurantes da moda, roupa e calçado de marca, mas
acima de tudo, um companheiro que me ama. Que mais posso desejar? Que
falta na minha vida que não me permite ser verdadeiramente feliz? Porquê
este vazio, esta falta de ânimo, esta tristeza profunda? Sinto, nesta fase da minha vida, que quase não construí nada: uma carreira de verdadeiro valor, uma família que seja minha... Como se tivesse falhado em todos os passos para se dizer que se viveu: plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro. Parece idiota, mas é um legado que não deixo. Eu morro e tudo morre comigo. É como se eu nunca por aqui tivesse passado. Não deixo nada verdadeiramente meu. Excepto o meu amor.
Um amor incondicional às minhas pessoas. Um amor maior que eu. Um amor que não se mede e que espero preencha, pelo menos, um pouquinho do coração de quem em mim habita.
E é tão pouco e insuficiente e parece que não vale a pena porque quando eu me for, não há nada palpável de mim.
E acho que tenho que deixar algo de mim. Uma espécie de recordação
perpétua do meu ser e neste momento não há nada... Só dias de vida. Acho que é a isto que se chama "crise de meia idade", só pode! Até agora vivi muito bem com todas as minhas escolhas e não sei porque agora as questiono...
Acho que no fundo, não passo de uma simples mulher, que afinal se deixa
pressionar pelas expectativas sociais, pelos sonhos que nos incutem.
Talvez se tivesse casado, se tivesse um filho, um jardim e uma árvore, não me sentisse tão vazia. Ou talvez estivesse assim, igualmente perdida e a questionar a minha vida...
A noite mostra-se igual ao dia: fria, chuvosa e escura, negra como a minha alma. Hoje não há nada mais que o silêncio. O silêncio do vazio em que vivo. O silêncio do nada que domina a minha vida. É como se nada existisse, nada tivesse vivido, sentido, dito ou feito.
Nada.
Um vazio espelho da minha vida. Não há legado que deixe. Não há feitos
de que alguém, algum dia, no meu leito de morte, referencie, recorde ou
enalteça.
Não, nada.
Só esta vívida sensação de ver os dias passar. Um seguido do outro, sempre iguais. Até o cansaço desistiu de se fazer sentir. Não há revolta em mim. Não há vontade ou sonhos. Somente esta sensação de total fracasso. Não é vazio, é fracasso. Para com os que amo, os que me amam e para comigo. Nunca fui de criticar, sempre fui de compreender e aceitar, às vezes até de perdoar.
Hoje, sou tudo o que abomino nos outros: fraca quando coloco o amor à
frente do orgulho; fraca quando acredito que as pessoas podem mudar.
Mimada,tenho ouvido com frequência. E que amuo quando não tenho o que quero ou como quero; infantil portanto. A verdade é que é verdade.
Sou o invólucro de uma mulher que não existe. Como se tudo o que fiz e o
que sou está errado ou não é verdadeiro, sentido. A ideia que criei de
mim, de mulher independente, adulta, madura, nada egoísta, compreensiva e
até inteligente e sensual, desmoronou.
Perdi-me. Não está aqui, não é esta que vejo quando olho ao espelho.
Perdi-me. Não me reconheço. Não sei quem sou hoje ou quem serei amanhã.
O que fui ontem morreu e o fracasso, o vazio, o silêncio e o nada é o que impera em mim.
É noite e não se vêem as estrelas brilhantes no céu.
Chove. Chove num qualquer típico mês de Dezembro. Cai, há horas, uma
chuva constante e fria, como uma canção de embalar que nos entorpece os
sentidos. Chove e não há pessoas na rua. Não há sinal de vida activa. Não há sons que me digam que o dia está prestes a chegar.
Tudo está adormecido.
Não há cheiro a flores no ar e há muito que o cheiro
a terra quente e molhada se foi. Não há jasmim no jardim, as folhas já
não balançam ao sabor do vento nas árvores pois jazem no chão,
esquecidas, sem cor e sem vida.
Tudo está adormecido.
Até aqui, dentro do meu quarto, dentro de mim. Apesar dos olhos abertos, apesar de acordada, estou adormecida.
Adormecida, na esperança que o tempo que teima em passar, de repente,
parasse e se suspendesse. E eu, dormente no sentir e no pensar, apenas
aguardasse que o tempo voltasse a ter vontade de passar e de correr no
seu normal passo e aí, só nesse momento, eu acordasse e regressasse ao
que é o meu viver.
Mas o tempo não se compadece comigo. Não me
obedece e passa sem complacência alguma e, sendo quase dia, prova que eu
não há forma de suspender o seu passar. E o tempo passa, depressa e
indiferente ao meu querer. E eu queria que ele parasse, que não me
trouxesse as mudanças que se avizinham. Que me permitisse vivê-lo sempre da mesma maneira: tranquila e rotineira. Mas não, o tempo não pára e a cada dia que passa o tempo para a mudança é mais escasso.
E a mudança assusta-me.
O inesperado, o incerto, a perda da aparente segurança assusta-me. Eu não quero que o tempo pare, eu quero não ter medo do que me espera. Eu quero ter força para acreditar e esperança para enfrentar o que o futuro me reserva.
Mas a mudança assusta-me.
E é este medo que me impede de ver o meu valor, de ver que, até hoje,
nunca falhei a mim própria, nunca me corrompi e sempre me superei. É o medo que me comanda hoje...
Amanhã tudo será diferente e o que será apenas com o tempo poderei
saber. E cá dentro, bem no fundo de mim, bem no âmago do meu ser, sei
que será melhor. Eu sei sempre quando tenho de mudar, quando já não tenho nada a aprender ou a ensinar naquele lugar, com aquelas pessoas... E há muito que o sei. E há muito que devia ter impulsionado a minha mudança. E quando não o fazemos por iniciativa própria, é-nos imposta. Há que Crescer, Evoluir, tornar-me melhor para e com os outros.
Mas isso assusta.
Saber que o que temos não nos chega, não nos preenche, não nos deixa
Viver de forma plena e que temos que avançar, mudar e não se sabe bem
como, assusta. Principalmente quando há quem dependa de nós. Apesar
de nos incentivarem, de nos acompanharem, de, acima de tudo e todos, em
nós acreditarem e confiarem. Decisões que nos viram a vida ao contrário, assustam. E é o medo que me comanda hoje. E eu queria que o tempo apenas parasse até que o medo me soltasse e abandonasse...
O dia já se deu por vencido e cedeu o seu lugar ao negro da noite.
Há vento a acompanhar a sua partida.
Um vento demasiadamente ameno para um qualquer dia de finais de Novembro.
Não há vontade de ceder às vitrines das lojas enfeitadas com as cores e
adereços típicos de Natal. Não há espírito para nos perdermos no
descontrolo das compras, das prendas e das lembranças (a)típicas
habituais.
Nas ruas os passos não se
apressam para regressar a casa, tudo é compassado e tudo acontece como
todos os dias, num ritmo que nos entorpece os sentidos e em que hoje é
igual ao ontem e será igual ao amanhã. Uma cadência que não se sente,
que passa por nós sem fazer mossa, sem se fazer ver, ouvir ou sentir.
Um dia após o outro. Iguais, em nada divergentes, em tudo indiferentes.
Um virar de páginas vazias. Não aproveitadas. Perdidas. De nada escritas. De nada preenchidas, senão de fúteis banalidades.
E eu, aqui dentro de mim, sou tão mais que este vulgar passar de tempo.
Carregada de sentimento. Imersa em vontades. Cheia de um milhão de
pensamentos.
Plenamente confiante de que as minhas páginas não se perdem no branco do tempo corrido.
Aqui, dentro de mim, faço, a cada dia, o exercício de preencher o meu livro, a minha vida.
A
noite ainda reina, se bem que apenas por mais uns minutos. As estrelas
já não se mostram no céu, envergonhadas pela luz de um sol que começa,
por detrás da colina, a brilhar. Na roseira, as pétalas já gastas ganham um novo tom, mais vivo, mais forte, à custa das gotas do orvalho. Os pássaros ainda não cantam, mantêm-se resguardado, suspensos nos ramos das árvores, à espera que a vida (re)comece.
Assim como eu.
Aqui, dentro destas quatro paredes; dentro desta carne, confinada.
Presa. Ao ritmo das horas e do correr dos dias, das obrigações e compromissos que me dominam a vida. Presa. Ao respirar e ao correr do sangue, cadenciados, quase imperceptíveis, quase incontroláveis. Presa, em ambos os sentidos, metafórica e literalmente.
Apenas livre por poder vaguear até onde o corpo puder. Apenas livre nos momentos em que a mente, se ainda tiver força, se ainda tiver esperança, ainda quiser acreditar...
Aqui dentro a noite ainda se faz sentir, mesmo sem o habitual sonhar, mesmo sem o necessário dormir.