segunda-feira, 4 de junho de 2018

Quem sabe...


Às vezes perguntava-me como não vi os sinais. Eram por demais evidentes: a ausência constante, só jantarmos em casa quando recebíamos pessoas, a falta de interesse em estar em casa e, consequentemente, comigo.
Não sei como não percebi os sinais. Não só estes como todos os outros, anteriores e que eram um óbvio espelhar de que não pretendia que a relação evoluísse. Que era perfeito assim, como estávamos, cada um em sua casa.
A verdade é que essa forma de estar na relação já não me chegava. Sim, eu queria mais. Eu queria a nós, eu queria o nosso ninho. E forcei. Oh! Se forcei. Sei-o agora que olho para trás e, desprovida dos sentimentos que me motivam na altura, vejo-o claramente.
Pergunto-me como não vi os sinais.
Ou será que vi e, como fazemos quase sempre com o que nos magoa, fechei os olhos, virei o rosto e optei por não ver. Por não interiorizar. Por não assimilar. Assim, de forma tão egoísta quanto me foi possível, não teria que tomar decisões. Não teria que refazer todo o plano de vida que tinha vindo a orientar há tantos e tantos anos.
Mas eu perguntei, sim, se era o que pretendia. Se estava disposto a avançar no nosso caminho. E apesar de toda a sua postura, de todos os seus sinais, de toda a sua falta de atitude, os seus lábios diziam algo diferente.
E eu quis acreditar.
Talvez da mesma forma que também ele quis. Talvez com a mesma vontade em não desperdiçar a vida que já tínhamos partilhado e os sonhos da que viríamos a partilhar.
Eu vi os sinais. Estavam bem presentes. Tão presentes que tudo acabou por terminar.
Eu vi os sinais. E foram esses sinais que acabaram por criar um tal fosso entre nós que era impossível reverter tal situação. Já não havia ponte que nos unisse. Já não havia vontade suficiente para que ambos acreditássemos que havia retorno, que ainda havia aquela chama de... Qualquer coisa, o que quer que fosse, o que quer que lhe chamemos, que nos voltasse a fazer sorrir em uníssono.
Sim, eu vi os sinais. Estavam lá todos e por medo do desconhecido, por medo de avançar sozinha, por pena de deixar para trás tantos anos, obriguei-nos a viver um tormento.
Um tormento que não negou, que encorajou e que não sei os motivos. Talvez os mesmos que os meus. Talvez outros que os homens, definitivamente, não pensam como nós.
E os tormentos não acabam bem. Muito pelo contrário...
E a vida é isto: acreditar, construir, insistir, errar e, sem sombra de dúvida, também destruir.
E como destruí.
Mas também cresci, tornei-me mais segura, independente, forte no meio da minha tão feminina fragilidade.
E ultrapassei.
E voltei a amar. Com ainda mais intensidade. Como se não houvesse amanhã. Como se estivesse a viver o meu primeiro verdadeiro grande amor.
Porque já não fujo aos sinais. Porque os enfrento e corto toda e qualquer possibilidade de crescerem. Em mim e no meu amor. Em mim e na minha vida.
E se assim não fosse, se não tivesse recusado ver os sinais antes talvez, mas só talvez, não pudesse hoje ser assim feliz.
Ou talvez sim. Mas quem sabe?



Cat.
2018.06.04

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