Sabes,
Já fui uma mulher desprezada. Das que ficam em casa, sós, abandonadas
ao seu próprio desprezo. E sim, desprezei-me por me deixar arrastar num
tempo (quase) infindável de dias sem apego, num existir de apenas
(sobre)vivência forçada.
Sabes,
Já fui uma mulher
desprezível. Das que se condenam à boca cheia pela vergonha alheia. Não é
suposto viver uma vida dupla, mesmo que não se chegue a concretizar
o acto. Não é suposto chegarmos a apaixonarmo-nos enquanto não se
resolve o que está para trás. Não é suposto que algo se sobreponha à
opção do compromisso, mesmo que se esteja sozinha, abandonada ou
desprezada. Não há desculpa para tal escape, para conversas que nos
façam olhar para nós como alguém desejável, excitante e interessante.
Depois do compromisso assumido a vida morre ali: aos olhos dos outros,
se isso não acontecer, seremos sempre desprezíveis. Num primeiro
impacto, num primeiro olhar, numa primeira perspectiva seremos sempre
traidoras, culpadas, putas e, portanto, desprezíveis.
Sabes,
Agora não me importa o que pensam, se me condenam ou elevam.
Agora importa-me olhar no espelho e saber que sou fiel a quem realmente
interessa: a mim. Ao que sou, ao que quero, ao que amo e ao que me
desespera, ao que não desejo e ao que me faz vibrar. E não tenho
vergonha do que sou, do que fiz, do que senti ou desejei, do que disse
ou nunca verbalizei.
Sabes,
Agora gosto-me mais do que alguma vez me gostei. Com todas as minhas perfeitas imperfeições.
2017.08.12