quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Somos instantes


 
 
 
Somos instantes...
Não sei quem o disse, mas decerto muitos já o disseram.
Agora digo eu: somos instantes.
Para tudo, para todos, em tudo e em todos os lugares, situações e pessoas.
Não passamos de instantes. Momentos que passam. Mais ou menos rápido.
Instantes em que o olhar que se cruza com outro faz magia ou não. E mesmo a magia dura um instante. Mais ou menos longo.
A verdade é que na vida tudo é passageiro. Um instante. Mais ou menos demorado.
Instantes que nos ficam ou não na memória. Mais ou menos gravados.
Tudo passa, passou ou passará. As dores, os sorrisos, as lágrimas e os (des) amores.
Imaginar que somos uma câmara fotográfica em constantes disparos. São tantos os instantes que vivemos que muitos nem são notáveis de reparo.
E como esses, também nós passamos despercebidos aos olhos e vida de tanta gente.
Também nós somos instantes. Mais ou menos importantes na vida de alguém.
Somos instantes, tão pequenos, tão insignificantes no contexto do que é o Mundo.
E tão importantes no que vemos com os nossos olhos, no que é o nosso mundo. E achamos que não somos só instantes, que vamos perdurar e para sempre durar, nem que seja na memória de alguém que nos é mais do que isso, um simples instante.
Mas somos, instantes que passam num instante. Hoje somos os maiores, amanhã não passamos de um mero instante...
 
Cat.
2018.10.17

quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Domingo




É ao domingo que mais penso.

Durante a semana o correr do dia passa frenético e alucinante. Quando dou por mim já estou deitada, exausta e a adormecer no sofá, sem usufruir da vida.

É ao domingo que mais penso.

Acalmo o corpo, a mente e olho para mim. Para o que sou, o que fui e o que serei.

Olho para o que tenho, o que quero manter e o que quero largar.

Olho para as pessoas que me rodeiam e de como me sinto com elas e de como se sentirão comigo.

Olho para os que, a cada dia, se distanciam e que mantenho guardados em mim.

Sei que não sou perfeita, e estou longe de ser a amiga ideal ou a companheira ou a filha, irmã incansável e sempre presente.

Sou falha em muitas coisas, em muitos aspectos e em muitos actos. Concretizados ou por concretizar.

É ao domingo que mais penso.

Que posso sempre ser ainda melhor. Que posso julgar ainda menos.

Que posso, em cada situação, calçar os sapatos dos outros e ver com os seus olhos.

Que posso não guardar rancor ou mágoa por sair ferida de alguma situação.

Que posso sempre pedir por mais alguém que não só eu.

Eu sei que posso ser tão melhor. Mas às vezes é preciso olhar para nós e lutar por nós, pelos nossos sonhos, pelo que queremos. E isto não é egoísmo, é apenas vontade de ser feliz.

E hoje, ao contrário do dia lá fora, não choro e não me culpo por pensar em mim. Por querer mais e que melhor posso ter para mim.
 
 
Cat.
2018.09.30
 

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Negro


 
 
 
Há dias que parecem noites, apesar do brilho do sol, são negros. Negros como breu, sem ponta de luz, sem um vislumbre que permita ver um pouco que seja. E que assim nos deixam o coração, negro, pisado, magoado. E um aperto na boca do estômago, que quase nos faz deitar fora as próprias vísceras. Acredito que se o fizesse seriam negras, de tão podre, estragada me sinto.

E as lágrimas que costumam cair sem necessidade de autorização, estão presas, ali, bem por trás do negro dos olhos. Não, não saiem. Não, não caiem. Não, não me vão aliviar esta dor. Não, não vão lavar e expurgar o dia de hoje.

Há pessoas assim, que por nunca se colocarem nos pés dos outros, nos deixam assim, negras.

Há pessoas que vivem num túnel mas ao contrário: lá longe não vêem nada, só o perto do umbigo é visível e logo o que é importante,válido e real. Perfeito até.

Há pessoas que só brilham quando os outros estão na escuridão. Por elas lá colocados ou não.

E há dias em que as palavras por essas pessoas proferidas são tão negras que nos trespassam, deixam marcas e nos matam por dentro, num misto de surpresa, incredulidade e revolta.

Dias em que quase sentimos o negro, o sujo das palavras e actos na pele, como se fosse preciso lavar e esfregar até nos livrarmos de tanta escuridão...

Hoje tudo é negro como a noite que já impera lá fora.
 
 
Cat.
2018.09.29

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Consciencializar






Às vezes pergunto-me porque estou aqui, porque fico cá, porque me mantenho assim...

Não é uma resposta fácil, mas a pergunta também não.

Sinto-me, muitas e tantas vezes, presa num corpo que não se adequa ao meu sentir. Sou um tanto ou quanto imatura, fruto de ser mimada. Sim, sou uma mulher mimada e faço (uma espécie de) birra. Não lido bem com críticas, mas também não lido bem com elogios. E guardo as críticas com mais fervor que um elogio.

Acho que nunca chego. Nunca sou suficiente. E, da mesma forma com que me dou, fecho-me. Mas como gosto, como há sentires cá dentro não me contenho por muito tempo e volto a dar-me. Com tudo o que sou e que há cá dentro.

É que tenho tanto sentir dentro de mim que me ultrapassa e no entanto, muitas e tantas vezes não me apetece partilhar. Como se quisesse guardar tudo dentro de mim. E este guardar acaba por me sufocar.

Não gosto de coisas permanentes, logo não gosto de monotonia. Mas para mudar demoro demasiado tempo, penso e repenso e desespero no processo de tomar a decisão. Como se estivesse a maturar a ideia, a tomar consciência da mesma, a interiorizar as consequências.

Por isso, apesar da inconstância, não me estranhes os actos, a imprevisibilidade, a demora nas decisões.

Estou contigo por tudo o que me fazes sentir, por tudo o que sou contigo.

Estou aqui porque te amo, mesmo que por vezes não te pareça, mesmo que por vezes o meu silêncio impere.

Fico aqui porque és o meu porto de abrigo, mesmo que por vezes eu seja uma tempestade furiosa.

Mantenho-me assim porque é imenso o que contigo vivo, as recordações que juntos criámos e o quanto me fazes feliz.

Mesmo que disso duvides, não mesmo que às vezes eu pareça diferente, distante ou ausente.

Muitas e tantas vezes estou a consciencializar em mim o quanto não consigo viver sem ti...




Cat.
2018.09.23

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Tomara



Tempo de dormir, a noite já vai longa e a lua esconde-se por trás de nuvens.

Lá fora o vento canta a sua melodia por entre as folhas das árvores de forma suave e ritmada. Traz consigo o doce cheiro das belas-donas e eu fecho os olhos e consigo imaginá-las, com o seu pé longo brotando do solo, sem qualquer folha e a flor em forma de copo, com o seu cor-de-rosa forte no exterior e um risa pálido no interior.

- "São as flores do fim de Verão, significa que está quase a chegar a próxima estação" - dizia-me a minha mãe.

Sabia tudo sobre flores, desde as cores, os cheiros, o tempo de florescerem e ensinou-me isso e tantas outras coisas sobre tudo.

Tomara eu ter aprendido tudo o que me ensinou sobre a vida como aprendi sobre flores.

Tomara eu ser assim sábia.

Tomara eu ter dado mais atenção às palavras que me dirigia naquele tom condescendente que só as mães têm.

Tomara eu ser metade da mulher que ela foi pois a vida não foi meiga para com ela. Foi dura, cruel até, principalmente nos últimos anos. E não é assim que te quero recordar. Por isso, sempre que, em noites como esta, o cheiro das flores da época se fazem transportar pelo vento, eu fecho os olhos e vejo as flores em cores vibrantes e depois vejo-a, com os mais brilhantes olhos azuis, a fitarem-me e, num tom sério dizer-me: "eu amo-te minha filha, mesmo quando deres um passo em falso. E é por te amar assim tanto que vou sempre dizer-te quando errares."

Tempo de dormir e de lhe dizer que sou falha, mas que tento, todos os dias, ser mais igual a ela. Porque a nossa mãe é (quase sempre) perfeita.


Cat.
2018.09.09

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Nunca deliberado





É noite há já algum tempo e lá fora está uma típica noite de Verão: quente e com uma brisa agradável que serpenteia por entre os cabelos e a pele despida.

Há estrelas a brilhar no céu escuro e ouve-se o canto das cigarras, intenso e a quebrar o silêncio e formando uma melodia constante e repetitiva.

Aqui a brisa também percorre o quarto e faz da minha pele o seu leito de morte.

Não há estrelas, mas a luz do candeeiro é ténue e deixa sombras pouco definidas nas paredes. Enquanto as olho penso se também eu sou assim indefinida, se a minha passagem pela vida é uma sombra mal marcada, com contornos esbatidos e sem cor.

Penso em todas as pessoas que por mim passaram e nas que me marcaram e que ainda estão bem definidas na minha memória. Elas e o que com elas aprendi, o que com elas eu mudei, o que com elas eu vivi.

E pergunto-me se também eu estarei assim viva nas suas recordações. Se também eu tenho ou tive alguma importância nas suas vidas.

Pergunto-me se me pensam com o mesmo carinho que eu as penso. Independentemente do que vivemos juntos, se foi bom ou mau, se doeu ou fez sorrir... E sim, sofri muito com algumas destas pessoas, mas já lhes perdoei todos os actos, todas as palavras menos boas ou sinceras. Somos humanos e nem sempre fazemos com o objectivo de magoar. Pelo menos é nisto que acredito: que ninguém é mau por natureza. Magoamos outros na maior parte das vezes para nos defendermos, por sobrevivência e eu aceito e perdoo. Mais cedo ou mais tarde, mas perdoo, quando a dor já não é tão intensa, quando já sou mais racional que emocional.

E pergunto-me se serei diferente dos outros ou se, pelo contrário, sou igual e que pensam em mim como alguém por quem nutrem carinho e sobretudo, se já me perdoaram todo o mal ou dor ou sofrimento que, inadvertidamente, lhes possa ter causado. Porque nunca foi deliberado...



Cat.
2018.08/31

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Dias de férias





O dia nasceu não há muito tempo e lá fora o sol já se faz sentir com o seu quente típico de um dia de Verão.

Há toalhas espalhadas pelo areal e corpos de cor de canela de pele brilhante, como que beijadas pelo sol.

A água do mar está serena, formando pequenas ondas de espuma apenas quando morrem na areia.

O mar, este, não cheira como o mar do meu norte, carregado de aroma e sabor a sal. Aqui é de águas mornas e azuis esverdeadas e há quem mergulhe e se deixe invadir por toda esta imensidão.

E se revigore. E renasça. E retempere forças para mais um período de luta.

Nas férias tudo parece diferente: as preocupações ficam em casa, as birras das crianças são mais toleradas, há sorrisos nos rostos das pessoas, uma espécie de leveza.

Como se o mar, mesmo sem ondas, levasse tudo que não interessa com ele, para longe, para muito longe.

Pelo menos nestes dias de férias.

E eu mergulho de cabeça. Sem pudor de sentir na pele esta água, deslizando pelo corpo e a ela me entrego, sem qualquer pudor, na esperança de, também eu, me poder renovar.

Pelo menos nestes dias de férias...



Cat.
2018/08/29

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Prometi




Prometi escrever-te todos os dias, mas os dias passaram a ter outras prioridades.

Não que sejam conscientes ou que não te escreva de forma deliberada. Não, não é isso. Ou é. Talvez seja. Talvez eu sinta que já não há mais palavras para ti. Já não há nada que já não te tenha dito anteriormente.

Talvez.

Os dias correm na sua acelerada pressa e já não há tempo para te escrever, sabes? E o que ia dizer hoje posso sempre dizer amanhã. Ou depois de amanhã. Ou depois de depois de amanhã. E depois já não tem importância e já não há o que dizer, entendes?

Porque a dado momento, dizer que te amo parece insuficiente ou banal.

Porque a dada altura as palavras soam a rotina e não é isso que se quer.

Prometi escrever-te todos os dias, mas não há vontade.

Há apenas a necessidade de, por uns raros segundos, olhar-te nos olhos e deixar o silêncio falar nessa sua imensa intensidade e que tu ouças e percebas na mesma medida, o quanto eu tenho dentro de mim para ti. Que me ouças o sentir...

E que me abraces. Me acolhas no teu peito e me deixes respirar na segurança deste meu porto de abrigo.

Prometi escrever-te todos os dias, mas hoje não há sons que saiam de mim, não há articulação de palavras ou construção de frases. Há apenas e somente o que os meus olhos dizem e o que daí quiseres sentir...



Cat.
2018.08.28

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Diário



Nunca tive um diário. Nunca guardei memórias escritas do que já fui. Acho que nunca tive muita coisa para contar. Ou só teria memórias menos boas para guardar...
Lembro-me que escrevi pela primeira vez quando me apaixonei, também, pela primeira vez. Não, quando amei pela primeira vez. Um amor proibido. Mais que proibido era quase indecente. Eu uma jovem, ele com o dobro da minha idade. Eu mais velha quatro anos que a sua filha, ele mais novo dois que o meu pai. Um amor que não se conta às amigas e muito menos à família. E tinha necessidade de colocar por escrito muito do que sentia. O amor, as dúvidas, as certezas e o medo. Escrevia sobretudo sobre o medo: de ser descoberta, de não ser compreendida, de não ser verdadeiramente, ou pelo menos, tão amada como amava.
Sinto que deveria ter escrito sobre o quanto fui amada.
Sinto que deveria ter perpetuado esses momentos de forma quase eterna.
Mas eu não sabia nada da vida e não percebia que era, não uma diversão para ele, mas mais um tormento. Hoje relembro as imensas vezes em que me convidou para viver com ele, as inúmeras vezes que, depois de me amar, me olhava de forma apaixonada e dizia baixinho "não posso fazer isto, ainda tens tanta vida à tua frente". E eu fingia que dormia para não ter que me decidir por ele. E eu jamais decidiria por ele.
Encontrei há dias as seis ou sete páginas que dediquei a esta tão importante parte da minha vida...
Não há fotografias, nem mensagens, nem emails, Facebook ou Instagram que me traga à lembrança estas memórias. Só umas míseras páginas que falam apenas dos meus receios.
O que foi bom, está guardado dentro de mim, hoje, com um olhar tão diferente do que senti. Tão mais apaziguador, tão mais adulto e crescido.
Devia ter feito um diário de todos os beijos, de todos os toques de mão por baixo da mesa, de todos os olhares que me faziam sentir uma princesa.
Apenas para olhar para o que já passou por mim e relembrar que nem tudo foram medos, receios, dúvidas, (in)certezas ou espinhos.
Há muito mais rosas que espinhos.
Há muitos mais risos que lágrimas.
Há muito mais amor que dor em mim! Muito mais!



Cat.
18/08/2018