quarta-feira, 17 de maio de 2017

Ver(me)





Quantas vezes para ti me despi e, com estes olhos, fiz que não vi? 
Que o sentir que me invadia aumentava a cada dia.
Que o meu olhar-te fugiu do que deveria. 
Que deixou de ser apenas o meu corpo a querer-te. 
Quantas vezes, deitada na cama, depois de te pertencer, desejei contigo ir, imaginas? 
Partilhar-me mais que o desejo, mais que o vibrar da tua língua no meu corpo, mais que os insanos orgasmos por ti provocados, mais que o beijo que selava a nossa entrega e a tua partida anunciava. 
Quantas vezes te disse, mesmo calada, mesmo sem palavras, mesmo com o silêncio, que te amava? 
Que os meus dias só se deixavam passar e que só as horas existiam com a tua presença. 
Que o meu corpo só vivia e o meu coração batia no mesmo espaço que contigo. 
Quantas, quantas vezes acreditei no sonho de te ser tanto quanto tu me eras. 
Quantas vezes não quis ver a verdade da nua e dura realidade. 
Hoje, vejo que é a última vez que para ti me dispo, que para ti respiro, que para ti me entrego de corpo e alma. 
Hoje, olho-me e percebo quantas vezes são necessárias para saber o quanto não há mais que (apenas) isto...


201.04.28

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