terça-feira, 26 de maio de 2015

A ti, Mãe... II


A noite já comanda as horas que o dia foi cedendo sem esforço.
A brisa não se faz sentir.
Os sons da noite estão suspensos num silêncio que se abateu há muito, no dia de hoje.
As pessoas não se sentem, estão confinadas nas suas vidas sem que eu as sinta.
Hoje, o odor das flores não se faz sentir....
Nem tu. Nem o teu cheiro. Nem a tua voz. Nem o som do teu respirar, do teu coração bater. Nem a tua presença.
 
Vazio. Um vazio que não sei como suportar. Um vazio que jamais irei ultrapassar, que em mim vai para sempre ficar.
Um vazio que tentarei apaziguar com as memórias que tive o privilégio de guardar, de armazenar.
Momentos que contigo vivi.
Momentos que contigo aprendi a saborear.
De ti, fica em mim grande parte do que sou.
De ti, ficam em mim os valores com que me criaste.
De ti, fica em mim a vida que me deste.
O orgulho de ter nascido de ti.
De ti, fica em mim todo o amor que me deste. Todos os beijos. Todos os abraços. Todos os (in)compreendidos ensinamentos. Todos. Todos guardados para sempre em mim. Como o meu amor por ti.
 
Isto não é um adeus, é um até sempre...


26.Maio.2015

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Desilusão



Há dias em que não apetece viver. Hoje é um deles.
Desmotivação ao mais alto nível. Vontade de dormir e não acordar tão cedo. Ou nunca acordar.
Há dias em que não apetece abrir os olhos. Hoje é um deles.
Tristeza que invade a alma e os olhos de lágrimas.
Há dias em que apetece não ver. Hoje é um deles....
Cerrar os olhos com todas as forças em mim existentes e recusar-me a olhar, a ver, a sentir, a respirar este ar de uma sociedade podre e em nada nobre.
Há dias em que a esperança morre. Hoje é um deles.
Morre de tanto se renovar a cada notícia desprovida de humanidade. Carregadas de falta de respeito. Inundadas de desprezo pela vida. Humana e animal.
E a vida é tudo o que temos. E o que fazemos com ela.
Não há pessoas perfeitas. Não há quem seja imune ao consumo, ao ter e ao ser aceite.
Mas há respeito que se deve e merece. E há a noção do certo e do errado. E há o fazer e receber e o retorno.
Há dias em que todos os valores em que acredito me fazem sentir deslocada. Num mundo à parte.
Não, não sou perfeita. Erro, muito, talvez demasiado. E repito erros, muitas vezes de forma inconsciente, por muitas, válidas ou não, razões.
Mas há em mim coisas que me parecem demasiado desajustadas aos dias de hoje... Talvez seja uma “morcona” que aqui anda.
Há dias em que não me apetece viver.
Aqui, junto de gente que não sente como gente.
Hoje é um desses dias.
 
 
13.Maio.2015

segunda-feira, 11 de maio de 2015

A ti, Mãe...

 
A tarde avança lenta e branda como o sol que aquece corpos que anseiam pelo seu calor. Avança suave como a brisa que tráz esse doce odor a flor de laranjeira. Avança quase parada como o Rio, apenas agitado pela ondulação que pequenas embarcações desenham nas suas águas formas apenas imaginadas.
Avança demasiado devagar e hoje, ao contrário de outros momentos, queria que parasse. Que não avançasse... Que não passasse.
 
Queria que ficasse suspenso o tempo que ainda me falta para te viver.
 
Queria que o dia se mantivesse e as horas fossem eternas. Que os minutos não se desavanecessem.
 
Que não desaparecessem.
 
Queria que o dia vivesse para sempre sem que o tempo passasse.
 
E eu viver-te-ia assim, sem tempo e para sempre.
Sem o medo de chegar a hora que se anuncia e me mata a cada dia.
Sem o medo de te ver deixar de sorrir e de me falar. De te ver esse olhar que mesmo sem falar consegue tudo dizer.
 
E eu viver-te-ia assim, sem receio de perder-te.
Sem o medo de te ver partir.
Sem o medo de ter de te dizer adeus.
 
E eu viver-te-ia mais que nunca. Saborar-te-ia a doçura mais que nunca. Absorve-te-ia a sabedoria de quem viveu mais que nunca. Amar-te-ia mais que nunca.
 
E como amo, a ti, que me deste a vida e incondicionalmente, sempre amaste...
 
 
11.Maio.2015