Gosto quando acordo e o dia já começou, já se sente o reboliço dos catraios a correr atrás de uma qualquer velha e esfarrapada bola de futebol. Quando as mães lhes fazem as últimas recomendações antes de entrarem no portão da escola e os obrigarem a largar o entusiasmo temporário dos 10 minutos de louca correria, imaginando-se os Ronaldos e Messis de amanhã, apenas para lhes entregarem o lanche da manhã. Gosto de ouvir os bons dias de quem passa na rua e reconhece o vizinho que foi à mercearia ao fundo da rua e fala das alfaces que algum outro, lá mais no fundo da rua vende e são as melhores. Passos, ruídos, conversas paralelas de vidas que se preenchem em dias aparentemente desiguais e tão superficialmente iguais.
Mas gosto de vidas que correm, que não estagnam, que fluem mesmo que pareçam paradas.
Gosto de "bons dias"! Da tão intensa fé do desejo que um "bom dia" nos tráz à alma! Gosto do bom dia cantado em sons dobrados do travesso do vizinho na janela do lado! Gosto dos bons dias dos outros que tentam seduzir as fêmeas empolando-se e empoleirando-se em topos de copas de cedros, perfeitamente podados e desenhados, soltando longos cânticos de chilrear que me despertam os sentidos.
Gosto de acordar quando já estás desperto ao meu lado, com o teu doce toque a deslizar-me na pele, o teu dedilhar no local que sabes, vai despertar antes mesmo de eu acordar.
Gosto de acordar e sentir o corpo desperto nesse automático desejar que me activa e faz viva, sem pensar, sem olhar. Esse calor que me invade ao sabor dos teus dedos em mim, que me obriga a procurar-te sem sequer pensar que não ou que sim.
Apenas corpo acordado, tocado, beijado, dedilhado, tomado, lâmbido, molhado e suado de todo o prazer sentido e deitar de olhos fechados e ouvir no ouvido: acorda, o dia já começou! Bom dia...
2012.05.12
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