quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Chove


Chove.
Caiem gotas de água de um céu tomado pela noite negra, vazia de cor, de gente e de sons. Só o som inconstante desse gotejar caindo e embatendo no que vai aparecendo na seu caminho. Só os desenhos de pequenos cursos de água, unindo-se, fortalecendo-se e engrossando o caudal na calçada da rua, sendo está a única forma de se perceber que o tempo passa, que não se trata de uma imagem parada, estagnada no tempo.
Chove.
E o silêncio não se quebra, não se perde, não deixa de imperar aqui dentro. No aconchego destas paredes. No quente deste leito onde o corpo se deixa cair. Onde há marcas de vida, desenhada em cada ruga deste lençol. Onde há odores de corpos amados no desarrumo do edredão. Onde há gemidos, guardados como tesouros, na fronha das almofadas.
Chove.
E a presença da tua ausência não se sente, não me invade de penas e tristeza. Apenas a saudade do teu toque, do som dos teus beijos, do saborear das tuas palavras sussurradas no meu pescoço. Momentaneamente. Apenas num lapso de tempo, num cerrar de olhos que logo se esfuma dando lugar às memórias tão vivas em mim, quase palpáveis.
Chove.
Mas é lá fora. Aqui, estás mais presente que nunca. Tu preenches-me por completo. Tu habitas-me por inteiro, ocupando cada espaço em mim, cada pedaço, cada poro da minha pele! Tu invadiste-me o corpo e a Alma, o ventre e o coração, o prazer e o pensar! Tu és vida em mim e, enquanto assim for, viverei, alimentar-me-ei de ti.
E não há chuva que te limpe, que te dissolva de mim!


05.Janeiro.2014

2 comentários: